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Coreógrafa alemã leva abstração corporal aos palcos de Fortaleza

Marco Sanchez18 de outubro de 2013

Riki von Falken leva ao Brasil "Echo. It's a temporary thing", desenvolvido em Berlim ao lado do malaio Naim Syahrazad. Espetáculo faz parte de uma trilogia iniciada na Nova Zelândia.

Foto: Franziska Schwarz

Num ambiente com mais de 200 pratos e projeções de imagens, dois bailarinos de culturas diferentes – ela, alemã, e ele, malaio – buscam formas de combinar a energia das danças tradicionais e das artes marciais com a linguagem corporal abstrata da coreógrafa.

Essa é a premissa de Echo. It's a temporary thing, espetáculo desenvolvido por Riki von Falken e Naim Syahrazad, que passou pelo Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia em setembro e retorna ao Brasil para duas apresentações dentro da Bienal Internacional de Dança do Ceará.

O show é a última parte de uma trilogia iniciada na Nova Zelândia, que passou pela Malásia e finalmente chegou a Berlim. "O nome Echo é uma extensão do que a trilogia representa. Algo que está aqui num momento, mas depois não está mais. Para mim isso representa algo que não é fixo, que se renova", diz Falken em entrevista à DW Brasil.

Mestre dos solos

Desde o inicio dos anos 1990, Falken coreografa e dança suas próprias peças. Seus primeiros seis solos foram criados para espaços arquitetônicos específicos, onde ela desenvolveu uma forma clara e específica de equilibrar o mundo interior e exterior. Seu trabalho com o movimento é preciso, uma estrutura delicada que nunca perde o fluxo de energia.

Coreógrafa é conhecida por suas intensas peças soloFoto: Franziska Schwarz

Na última década ela intensificou a exploração de espaços internos e da percepção, sempre trabalhando com a vulnerabilidade do corpo, de uma maneira leve e elegante. Seus movimentos de autoquestionamento tornaram a coreógrafa um dos grandes nomes de peças solo. A cooperação com outros artistas, porém, traz uma diferente força ao seu trabalho.

"O impulso que vem de outras pessoas é cheio de complexidade. Tenho que me abrir para receber essa informação e estabelecer uma troca. Todo esse complexo universo do outro é um grande influência. Essa conexão gera um impulso muito grande, de uma riqueza inigualável e isso torna meu trabalho mais complexo", explica a coreógrafa.

Rupturas de uma trilogia

Apesar de as peças serem independentes, o espetáculo que Falken apresenta no Brasil faz parte de uma trilogia que começou na Nova Zelândia, depois de uma experiência assustadora. "Tomei como base o contato que tive com um terremoto. O espetáculo é uma paisagem acústica coreografada. O movimento estava associado com a limitação do corpo, as rupturas, as marcas que o terremoto deixou no meu corpo", diz.

Depois da experiência com o terremoto na Nova Zelândia, ela fez uma conexão em Kuala Lumpur na Malásia, onde nasceu Echo II. Inspirada na dança tradicional malaia e nas artes marciais, a coreógrafa construiu a segunda parte da sua trilogia. "Foi um impulso que adquiri no país depois de presenciar a dança e o esporte e fiz a ligação com a abstração do movimento", afirma. Ela contou com a ajuda de oito bailarinos locais para o espetáculo.

Riki von Falken e Naim Syahrazad já haviam trabalhado juntos em Echo II, desenvolvido na MalásiaFoto: Franziska Schwarz

Entre os bailarinos estava Naim Syahrazad. "A gente se conhece há três anos. Ele foi meu aluno em 2010 e era um dos bailarinos com a qual eu realizei Echo II. Convidei Naim para vir a Berlim, como coreógrafo e bailarino, para desenvolver minha nova produção", conta.

Desconstruindo tradições

Assim nasceu Echo. It's a temporary thing, que para a coreógrafa foi uma continuação do impulso que começou com o terremoto e passou pela abstração da dança tradicional e do esporte, criando um novo espetáculo

"Usamos um vídeo que mostra a vida cotidiana na Malásia, os lugares onde as pessoas vivem, restaurantes onde comem. Essa narrativa é conectada com a ação abstrata que acontece no palco. Eu e o Naim nos movimentamos no meio de uma instalação construída com mais de 250 pratos", diz Falken.

As imagens do documentário, que faz parte da instalação multimídia que é o espetáculo, foram feitas pela própria coreógrafa na Malásia. Já a escolha dos pratos para a instalação é uma representação de uma tradição malaia.

"Os pratos são uma abstração. Eles são usados em danças tradicionais em casamentos. Em Berlim, usei como elemento para transformar a sala em uma instalação. Naim desconstruiu a dança dos pratos. Queria pegar essa tradição e colocar em um novo contexto, criar algo novo através da interação com o objeto", esclarece.

A terceira parte da trilogia transforma a sala em uma instalação, com pratos e projeçõesFoto: Franziska Schwarz

O trabalho de Falken em Echo. It's a temporary thing é uma forma de transmitir experiências entre a relação do espaço, objeto e vídeo. "Essa relação tem uma conexão muito forte com diversos temas em nossas vidas", explica. "O espaço é um meio de comunicação, que através dos pratos, do filme e da instalação nos une com as pessoas na plateia".

Além de apresentar o espetáculo em Fortaleza, a alemã também vai ministrar um workshop, onde junto ao público destrinchará movimentos abstratos que fazem parte da terceira parte de sua trilogia: "Quero sensibilizar as pessoas com o meu método de trabalho. Fico feliz de ter algumas horas para criar um contato com os brasileiros e mostrar a minha linguagem corporal abstrata".

O espetáculo Echo. It's a temporary thing faz parte da Bienal Internacional de Dança do Ceará e tem duas apresentações em Fortaleza, nos dias 20 e 22 de outubro.

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