Coreia do Norte ameaça suspender negociações com Washington
15 de março de 2019
Pyongyang culpa EUA por fracasso de cúpula no Vietnã e admite que considera suspender conversações sobre desnuclearização. Diplomata afirma que autoridades americanas criaram atmosfera de hostilidade e desconfiança.
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A Coreia do Norte considera suspender as negociações com os Estados Unidos sobre uma desnuclearização e pode retomar seus testes nucleares e de mísseis, a menos que Washington faça concessões, segundo afirmou uma diplomata norte-coreana nesta sexta-feira (15/03).
A vice-ministra do Exterior, Choe Son-hui, culpou autoridades americanas pelo fracasso da cúpula realizada no mês passado em Hanói, no Vietnã, entre o presidente americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un.
"Não temos a intenção de ceder às exigências dos EUA [feitas em Hanói] de nenhuma forma, nem estamos dispostos a participar de negociações desse tipo", disse Choe.
As declarações da diplomata representam a primeira insinuação do regime norte-coreano sobre uma possível ruptura do diálogo entre Pyongyang e Washington.
Segundo a vice-ministra, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, "criaram uma atmosfera de hostilidade e desconfiança e, portanto, obstruíram o esforço construtivo para negociações entre os líderes supremos de Coreia do Norte e Estados Unidos".
Choe afirmou que Washington abandonou uma oportunidade de ouro na cúpula de Hanói e avisou que Kim pode repensar a moratória sobre lançamento de mísseis e testes nucleares.
"Quero deixar claro que a posição de gângster adotada pelos EUA acabará colocando a situação em risco", afirmou a vice-ministra, citada pela agência de notícia Associated Press. "As relações pessoais entre os dois líderes supremos ainda são boas, e a química é misteriosamente maravilhosa", ponderou.
A Coreia do Sul – que ostenta uma agenda ambiciosa de envolvimento com a Coreia do Norte, plano que depende de Pyongyang e Washington resolverem ao menos algumas de suas diferenças – afirmou ser cedo demais para analisar o significado dos comentários de Choe.
"Não podemos julgar a situação atual com base apenas nas declarações da vice-ministra Choe Son-hui. Estamos observando a situação de perto. Em qualquer situação, nosso governo tentará retomar as negociações entre a Coreia do Norte e os EUA", afirmou o gabinete presidencial sul-coreano.
Mais cedo nesta sexta-feira, uma porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul disse que a reunião semanal intercoreana que deveria ocorrer em Kaesong, na Coreia do Norte, foi cancelada depois que Pyongyang comunicou que não enviaria funcionários do alto escalão. A porta-voz disse que Seul não sabe por que autoridades norte-coreanas decidiram não comparecer.
A segunda última cúpula entre Trump e Kim fracassou devido a divergências sobre as demandas americanas de desnuclearização e a demanda norte-coreana por alívios drásticos nas sanções internacionais, que foram impostas devido aos testes nucleares e de mísseis executados por Pyongyang durante anos, desafinado resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
No começo desta semana, em Washington, o representante especial os EUA para a Coreia do Norte, Stephen Biegun, afirmou que o governo americano espera poder continuar com as negociações, embora não tenha dado detalhes sobre quando novas rodadas de conversações poderiam ser realizadas.
"A diplomacia ainda está muito viva", disse Biegun, na segunda-feira, mas não chegou a especificar se houve conversas desde a cúpula em Hanói.
Na semana passada, fotos de satélite analisadas por especialistas mostraram atividade recente em uma instalação de montagem de mísseis norte-coreanos, aumentando as especulações sobre um possível lançamento após a fracassada cúpula de Hanói.
Para os especialistas, as imagens indicam que a Coreia do Norte pode rapidamente reverter todas as ações de desmantelamento dos seus programas de armas nucleares que tinham sido iniciadas após a primeira cúpula, em 2018, e constituem uma "afronta à estratégia diplomática do presidente dos EUA".
PV/ap/afp/rtr/efe/lusa
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Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
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No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
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Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
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Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
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Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
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Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.