Coreia do Norte dispara mais de 20 mísseis em um dia
2 de novembro de 2022
Pela primeira vez desde a divisão das Coreias, míssil norte-coreano teria cruzado linha de demarcação marítima entre os dois países. Seul afirma que Pyongyang deve "pagar o preço da provocação" e também efetua disparos.
O Exército sul-coreano afirmou que Pyongyang disparou ao menos 23 mísseis, um recorde diário conforme registros dos últimos anos. E, pela primeira vez desde a separação das duas Coreias, em meados do século 20, um míssil norte-coreano caiu próximo às águas da Coreia do Sul, a menos de 60 quilômetros da costa do país. O míssil curuzou a chamada Linha de Limite Norte, uma contestada linha de demarcação marítima entre as duas Coreias.
O Norte também efetuou mais de 100 disparos de artilharia de sua costa leste para uma zona militar neutra, violando um acordo de 2018, disse o Exército da Coreia do Sul.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, descreveu o episódio como "invasão territorial". Em resposta, caças sul-coreanos dispararam pelo menos três mísseis terra-ar no mar, incluindo um de precisão fabricado nos EUA e que pode atingir alvos a até 270 quilômetros de distância.
Os disparos por parte da Coreia do Norte ocorreram horas depois de o país ameaçar usar armas nucleares contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul para que ambos "paguem o mais terrível preço da história", em protesto contra exercícios militares em curso de americanos e sul-coreanos. Pyongyang considera as manobras uma provocação e um ensaio para uma invasão.
A resposta da Coreia do Sul, por sua vez, ocorreu depois que o gabinete do presidente decretou uma "rápida e firme resposta" para que a Coreia do Norte "pague o preço da provocação".
"A provocação da Coreia do Norte hoje foi um efetivo ato de invasão territorial por um míssil que ultrapassou a Linha de Limite Norte pela primeira vez [desde a divisão das duas Coreias]", divulgou o gabinete.
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Respostas proporcionais
Ao menos um dos mísseis disparados pela Coreia do Norte teria caído a apenas 167 quilômetros da ilha de Ulleung, no sul do país, onde sirenes de emergência foram acionadas.
"Ouvimos as sirenes por volta das 8h55, e todos nós no edifício fomos para o local de evacuação, no subsolo. Ficamos lá até por volta das 9h15, depois de ouvirmos o armamento cair no mar", disse um funcionário municipal da ilha à agência Reuters.
Para o professor Leif-Eric Easley, da Universidade Ewha, em Seul, o disparo de mísseis por parte da Coreia do Norte parece ter a intenção de pressionar a Coreia do Sul, a fim de que seu governo mude suas políticas.
"A expansão das capacidades e testes militares da Coreia do Norte são preocupantes, mas oferecer concessões sobre cooperação de alianças ou reconhecimento nuclear tornaria as coisas piores", afirmou Easley.
O analista Cheong Seong-Chang, do Sejong Institute, na Coreia do Sul, disse que o perigo de confrontos armados entre as Coreias ao largo de suas costas ocidentais ou orientais está aumentando.
Ele afirmou que a Coreia do Sul precisa realizar "respostas proporcionais" às provocações da Coreia do Norte, mas sem "respostas exageradas", para evitar que as tensões saiam do controle, o que poderia levar o Norte a usar armas nucleares táticas.
Tensão constante na região
Após os disparos de mísseis pela Coreia do Norte nesta quarta-feira, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, convocou uma reunião de emergência com altos funcionários da segurança do país.
De acordo com informações divulgadas pelo gabinete presidencial, os participantes do encontro "lamentaram as provocações cometidas durante um período de luto nacional e apontaram que isso mostra claramente a natureza do governo norte-coreano".
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, chamou os contínuos testes de mísseis norte-coreanos de "absolutamente inadmissíveis".
O ministro da Defesa do Japão, Yasukazu Hamada, disse a jornalistas que pelo menos dois mísseis balísticos disparados pela Coreia do Norte tiveram "trajetória irregular". Isso sugere que esse armamento seria o míssil KN-23, que é manobrável e tem capacidade nuclear, inspirado no míssil russo Iskander.
Nos últimos anos, as tensões têm sido constantes na região. Até o final de setembro de 2022, a Coreia do Norte bateu um recorde de disparos de mísseis, com mais de 30 balísticos lançados, incluindo o primeiro míssil intercontinental desde 2017, o Hwasong-12, em 30 de janeiro.
gb/lf (AP, Reuters)
Guerra da Coreia, 70 anos depois
Combates na península coreana duraram mais de três anos. De um lado, o sul, apoiado pela ONU. Do outro, o norte, reforçado por China e URSS. Guerra acabou em 1953, com milhões de mortos e a divisão das Coreias cimentada.
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Fronteira da Guerra Fria
Em 27 de julho de 1950, as tropas da comunista Coreia do Norte atravessam o Paralelo 38, iniciando uma verdadeira campanha de ocupação. Em poucos dias, praticamente todo o país estava sob seu controle. É o início de uma guerra que durará 37 meses, custando 4,5 milhões de vidas humanas, segundo certas estimativas.
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Antecedentes
Depois de ser ocupada pelo Japão de 1910 a 1945, a Coreia estava dividida desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O território acima do 38º paralelo norte ficou sob controle soviético, o do sul, na mão dos EUA. Em agosto de 1948, Seul proclama a República da Coreia. Em reação, o general Kim Il-sung cria no norte a República Popular Democrática da Coreia, em 9 de setembro do mesmo ano.
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Reforço da ONU
Seguindo o avanço dos norte-coreanos sobre o Paralelo 38, a partir de julho de 1950 as Nações Unidas decidem dar apoio militar à Coreia do Sul, por pressão dos EUA. São enviados para a península 40 mil soldados de mais de 20 países, entre os quais 36 mil norte-americanos. A sorte parece ter virado: logo os Aliados conseguem ocupar quase todo o país.
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Codinome Operação Chromite
Em 15 de setembro de 1950, tropas ocidentais sob o comando do general Douglas MacArthur desembarcam perto da cidade portuária de Incheon, no sudoeste, capturando uma base central de suporte do Norte. Pouco depois, Seul está novamente na mão dos Aliados, que em outubro também ocupam Pyongyang. O fim da guerra parece próximo. Mas aí a China envia tropas de apoio aos norte-coreanos.
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Ajuda de Mao
Em meados de outubro iniciava-se a intervenção chinesa. De início, a ajuda parte apenas de unidades de pequeno porte. No final do mês ocorre a primeira mobilização em grande escala na Coreia do Norte do "exército de voluntários" de Mao. Em 5 de dezembro, Pyongyang – única capital comunista ocupada por tropas ocidentais durante a Guerra Fria – está novamente nas mãos de norte-coreanos e chineses.
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Pró e contra a bomba atômica
Em janeiro de 1951 começa uma grande ofensiva da Coreia do Norte, com apoio chinês. Cerca de 400 mil chineses e 100 mil norte-coreanos forçam as tropas aliadas a recuar fortemente. Em abril, o general MacArthur é destituído de seu posto, depois que o presidente Harry Truman lhe ordenara usar bombas atômicas contra a China. Seu sucessor é o general Matthew B. Ridgway.
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Guerra de exaustão
Em meados de 1951, mais ou menos na altura da linha de demarcação que separava o Norte e o Sul antes da guerra, as forças oponentes chegam a um impasse. A partir daí, começa uma encarniçada guerra de exaustão, que durará até o fim das operações de combate, dois anos mais tarde – embora as negociações de paz já tivessem sido iniciadas em julho de 1951.
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Batalha de ideologias
O conflito entre as Coreias é considerado a primeira "guerra por procuração" entre o Ocidente capitalista e o Oriente comunista. A maior parte dos soldados lutando nas tropas da ONU vinha dos Estados Unidos. No lado oposto, os norte-coreanos contaram com o reforço de centenas de milhares de chineses e russos.
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Coreia do Norte em ruínas
Desde o início, foi uma guerra de ataques aéreos e bombardeios. Durante os três anos de combates, as forças aéreas das Nações Unidas realizaram mais de 1 milhão de operações. Ao todo, os americanos lançaram cerca de 450 mil toneladas de bombas, inclusive de napalm, sobre a Coreia do Norte. A destruição foi extensa: ao fim da guerra, quase todas grandes cidades estavam arrasadas.
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Estimativas conflitantes
Quando, em 1953, as tropas aliadas se retiram da península coreana, o saldo é de milhões de mortos. Os dados sobre o número de soldados caídos são conflitantes. Calcula-se que morreram cerca de meio milhão de militares coreanos, assim como 400 mil chineses. Os Aliados registram 40 mil vítimas, 90% delas americanos.
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Troca de prisioneiros
Ainda durante os combates, de meados de maio a início de abril de 1953, ocorreu a primeira troca de presos entre os dois lados. Até o fim do ano, mais detentos seriam repatriados. A ONU devolveu mais de 75 mil norte-coreanos e quase 6.700 chineses. O outro lado soltou 13.500 pessoas, entre as quais 8.300 sul-coreanos e 3.700 soldados dos EUA.
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Cessar-fogo
Após mais de dois anos, as negociações de cessar-fogo iniciadas em 10 de julho de 1951 culminam no Armistício de Panmunjom. A divisão da península está sedimentada: o 38º paralelo norte é definido com fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul. Mas como um tratado de paz nunca foi assinado, do ponto de vista do direito internacional os dois países se encontram até hoje em estado de guerra.
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Terra de ninguém
O idílio na cidade fronteiriça de Panmunjom é enganoso. Até hoje, a fronteira ao longo do Paralelo 38 é a mais rigorosamente vigiada do mundo. Ao longo da linha estipulada no acordo de armistício de 1953, o Norte e o Sul são separados por uma zona desmilitarizada de cerca de 250 quilômetros de extensão e 4 quilômetros de largura. Aqui, soldados de ambos os lados se defrontam diariamente.