Coreia do Norte diz ter detonado bomba de hidrogênio
6 de janeiro de 2016
Se confirmado, teste indica que desenvolvimento nuclear do país asiático atingiu um novo patamar. Conselho de Segurança da ONU convoca reunião de emergência. Anúncio de Pyongyang, entretanto, foi recebido com ceticismo.
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Após especulações sobre um terremoto provocado por ação humana, a Coreia do Norte confirmou seu primeiro "teste bem sucedido" de uma bomba de hidrogênio, que tem potência muito maior do que uma bomba nuclear comum.
O anúncio na televisão norte-coreana foi feito nesta quarta-feira (06/01), poucas horas após diversas agências internacionais de monitoramento terem detectado um abalo sísmico de magnitude 5.1 próximo à localidade de Punggye-ri.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas convocou uma reunião de emergência para tratar do suposto teste nuclear, a pedido dos Estados Unidos e do Japão, segundo informaram diplomatas americanos.
Se a Coreia do Norte tiver de fato realizado um teste bem sucedido de uma bomba de hidrogênio – que é substancialmente mais potente do que a bomba de Hiroshima – isso demonstraria um significativo avanço militar e tecnológico para o país, que está sob sanção internacional desde seu primeiro teste de uma bomba atômica, em 2006.
"Em defesa da soberania"
O teste, que surpreendeu a comunidade internacional, foi ordenado pessoalmente pelo chefe de Estado Kim Jong-un, dois dias após seu aniversário. Em dezembro, Kim indicou pela primeira vez que seu país possuía uma bomba de hidrogênio. A Coreia do Norte "é uma potência nuclear disposta a detonar uma bomba nuclear e uma bomba de hidrogênio para defender sua soberania", disse ele em uma notícia publicada pela agência estatal KCNA.
Os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão reagiram com indignação ao anúncio. O governo japonês declarou que testes nucleares não serão tolerados, e disse que as ações da Coreia do Norte ameaçam também a segurança do Japão e pedem a uma resposta clara.
Aparentemente, os Estados Unidos duvidam que a Coreia do Norte tenha mesmo uma bomba de hidrogênio. Segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Ned Price, as informações estão sendo analisadas.
"Enquanto ainda não temos condições de confirmar essas informações, nós condenamos qualquer violação das resoluções do Conselho de Segurança", disse.
A China enfatizou, em comunicado divulgado pela agência de notícias estatal Xinhua, que o teste contraria o objetivo do desarmamento nuclear.
Muito mais potente que a bomba de Hiroshima
O programa nuclear da Coreia do Norte preocupa a comunidade internacional há anos. Em fevereiro de 2005, o regime comunista de Pyongyang anunciou oficialmente pela primeira vez possuir armas nucleares. Um ano e meio depois, o país isolado realizou seu primeiro teste subterrâneo. Como reação, as Nações Unidas impuseram sanções contra a Coreia do Norte, as quais foram sendo endurecidas com testes seguintes.
O governo sul-coreano comparou a potência da primeira explosão, de outubro de 2006, com pouco menos de uma quilotonelada de TNT – em termos de comparação, a bomba que caiu sobre Hiroshima em 1945 tinha potência equivalente a 13 quilotoneladas. O terremoto de magnitude 4,2 que decorreu após o teste da Coreia do Norte serviu como indicador para avaliar a potência da bomba atômica do regime comunista.
Em maio de 2009, a Coreia do Norte realizou um segundo teste nuclear, que, segundo as estimativas de Seul, tinha potência de duas a seis quilotoneladas de TNT. O terceiro teste veio em fevereiro de 2013, e o Ministério da Defesa da Coreia do Sul falou em uma força explosiva de seis a sete quilotoneladas. Já o Instituto Alemão de Geociências e Recursos Natuais estimou uma potência de 40 quilotoneladas.
A bomba de hidrogênio, também chamada de bomba termonuclear, tem uma força explosiva multiplicada em muitas vezes em relação à bomba nuclear comum. A primeira bomba de hidrogênio detonada pelos Estados Unidos em novembro de 1952 teve um poder explosivo equivalente a dez megatoneladas, isto é, cerca de 700 vezes mais forte do que a bomba de Hiroshima. Em 1961, a União Soviética detonou uma bomba de hidrogênio de 58 megatoneladas.
Reação sul-coreana
A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional e prometeu dar uma respota dura à Pyongyang.
No início da reunião, ela disse que o governo "deve fazer com que a Coreia do Norte sofra medidas pertinentes a serem tomadas em cooperação com a comunidade internacional".
Park ordenou o reforço da defesa do país, em conjunto com forças militares americanas, e disse que Seul irá responder com rigor a quaisquer novas provocações norte-coreanas.
"Essa não é apenas uma séria provocação à nossa segurança nacional, mas também uma ameaça às nossas vidas e ao nosso futuro", disse a presidente.
FF/rtr/dpa/ap
Guerra da Coreia, 70 anos depois
Combates na península coreana duraram mais de três anos. De um lado, o sul, apoiado pela ONU. Do outro, o norte, reforçado por China e URSS. Guerra acabou em 1953, com milhões de mortos e a divisão das Coreias cimentada.
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Fronteira da Guerra Fria
Em 27 de julho de 1950, as tropas da comunista Coreia do Norte atravessam o Paralelo 38, iniciando uma verdadeira campanha de ocupação. Em poucos dias, praticamente todo o país estava sob seu controle. É o início de uma guerra que durará 37 meses, custando 4,5 milhões de vidas humanas, segundo certas estimativas.
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Antecedentes
Depois de ser ocupada pelo Japão de 1910 a 1945, a Coreia estava dividida desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O território acima do 38º paralelo norte ficou sob controle soviético, o do sul, na mão dos EUA. Em agosto de 1948, Seul proclama a República da Coreia. Em reação, o general Kim Il-sung cria no norte a República Popular Democrática da Coreia, em 9 de setembro do mesmo ano.
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Reforço da ONU
Seguindo o avanço dos norte-coreanos sobre o Paralelo 38, a partir de julho de 1950 as Nações Unidas decidem dar apoio militar à Coreia do Sul, por pressão dos EUA. São enviados para a península 40 mil soldados de mais de 20 países, entre os quais 36 mil norte-americanos. A sorte parece ter virado: logo os Aliados conseguem ocupar quase todo o país.
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Codinome Operação Chromite
Em 15 de setembro de 1950, tropas ocidentais sob o comando do general Douglas MacArthur desembarcam perto da cidade portuária de Incheon, no sudoeste, capturando uma base central de suporte do Norte. Pouco depois, Seul está novamente na mão dos Aliados, que em outubro também ocupam Pyongyang. O fim da guerra parece próximo. Mas aí a China envia tropas de apoio aos norte-coreanos.
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Ajuda de Mao
Em meados de outubro iniciava-se a intervenção chinesa. De início, a ajuda parte apenas de unidades de pequeno porte. No final do mês ocorre a primeira mobilização em grande escala na Coreia do Norte do "exército de voluntários" de Mao. Em 5 de dezembro, Pyongyang – única capital comunista ocupada por tropas ocidentais durante a Guerra Fria – está novamente nas mãos de norte-coreanos e chineses.
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Pró e contra a bomba atômica
Em janeiro de 1951 começa uma grande ofensiva da Coreia do Norte, com apoio chinês. Cerca de 400 mil chineses e 100 mil norte-coreanos forçam as tropas aliadas a recuar fortemente. Em abril, o general MacArthur é destituído de seu posto, depois que o presidente Harry Truman lhe ordenara usar bombas atômicas contra a China. Seu sucessor é o general Matthew B. Ridgway.
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Guerra de exaustão
Em meados de 1951, mais ou menos na altura da linha de demarcação que separava o Norte e o Sul antes da guerra, as forças oponentes chegam a um impasse. A partir daí, começa uma encarniçada guerra de exaustão, que durará até o fim das operações de combate, dois anos mais tarde – embora as negociações de paz já tivessem sido iniciadas em julho de 1951.
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Batalha de ideologias
O conflito entre as Coreias é considerado a primeira "guerra por procuração" entre o Ocidente capitalista e o Oriente comunista. A maior parte dos soldados lutando nas tropas da ONU vinha dos Estados Unidos. No lado oposto, os norte-coreanos contaram com o reforço de centenas de milhares de chineses e russos.
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Coreia do Norte em ruínas
Desde o início, foi uma guerra de ataques aéreos e bombardeios. Durante os três anos de combates, as forças aéreas das Nações Unidas realizaram mais de 1 milhão de operações. Ao todo, os americanos lançaram cerca de 450 mil toneladas de bombas, inclusive de napalm, sobre a Coreia do Norte. A destruição foi extensa: ao fim da guerra, quase todas grandes cidades estavam arrasadas.
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Estimativas conflitantes
Quando, em 1953, as tropas aliadas se retiram da península coreana, o saldo é de milhões de mortos. Os dados sobre o número de soldados caídos são conflitantes. Calcula-se que morreram cerca de meio milhão de militares coreanos, assim como 400 mil chineses. Os Aliados registram 40 mil vítimas, 90% delas americanos.
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Troca de prisioneiros
Ainda durante os combates, de meados de maio a início de abril de 1953, ocorreu a primeira troca de presos entre os dois lados. Até o fim do ano, mais detentos seriam repatriados. A ONU devolveu mais de 75 mil norte-coreanos e quase 6.700 chineses. O outro lado soltou 13.500 pessoas, entre as quais 8.300 sul-coreanos e 3.700 soldados dos EUA.
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Cessar-fogo
Após mais de dois anos, as negociações de cessar-fogo iniciadas em 10 de julho de 1951 culminam no Armistício de Panmunjom. A divisão da península está sedimentada: o 38º paralelo norte é definido com fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul. Mas como um tratado de paz nunca foi assinado, do ponto de vista do direito internacional os dois países se encontram até hoje em estado de guerra.
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Terra de ninguém
O idílio na cidade fronteiriça de Panmunjom é enganoso. Até hoje, a fronteira ao longo do Paralelo 38 é a mais rigorosamente vigiada do mundo. Ao longo da linha estipulada no acordo de armistício de 1953, o Norte e o Sul são separados por uma zona desmilitarizada de cerca de 250 quilômetros de extensão e 4 quilômetros de largura. Aqui, soldados de ambos os lados se defrontam diariamente.