Pyongyang garante que projétil do tipo intercontinental é capaz de alcançar "todo o território dos Estados Unidos" e China exige diálogos diplomáticos. Para Trump e Moon, disparo representa grave ameaça ao mundo inteiro.
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A Coreia do Norte lançou um novo míssil em direção ao leste nesta terça-feira (28/11), segundo comunicaram as Forças Armadas da Coreia do Sul. O governo dos Estados Unidos disse se tratar de um míssil balístico intercontinental (ICBM), que acabou caindo no Mar do Japão. A China, principal aliada de Pyongyang, expressou "grave preocupação" e urgiu por diálogos diplomáticos.
Segundo o Estado Maior Conjunto sul-coreano, o projétil foi disparado a partir das imediações de Pyongsong, na província de Pyongan do Sul, ao norte da capital norte-coreana, Pyongyang. A localização foi confirmada pelas autoridades americanas.
Horas após o lançamento, a emissora estatal norte-coreana KCTV anunciou que o projétil é um novo modelo do míssil balístico intercontinental, batizado Hwasong-15, e que é capaz de alcançar "todo o território dos Estados Unidos".
Como é praxe em situações importantes para o regime, a veterana apresentadora Ri Chun-hee anunciou em tom solene o "bem sucedido" lançamento que "Kim Jong-un autorizou e testemunhou pessoalmente", e que foi o primeiro de Pyongyang após dois meses e meio.
Em um boletim especial, Ri detalhou que o míssil voou 950 quilômetros e alcançou um apogeu de 4.475 quilômetros de altitude, dados que estão em sintonia com os divulgados por Seul, Washington e Tóquio. Trata-se da maior altitude já atingida por um míssil norte-coreano, o que significa um novo e perigoso avanço no programa de armas de Pyongyang.
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Considerando que o míssil foi lançado num ângulo muito aberto, alguns analistas avaliam que o projétil poderia ter percorrido, em um voo normal, mais de 13 mil quilômetros, suficiente para alcançar Washington ou qualquer parte continental dos EUA.
Minutos após o disparo norte-coreano, autoridades militares da Coreia do Sul disseram ter conduzido um teste de míssil balístico em resposta ao lançamento. Além disso, o governo em Seul convocou uma reunião do Conselho Nacional de Segurança para avaliar o ocorrido.
"Risco à paz mundial"
Em sua avaliação inicial, o Pentágono afirmou que o míssil voou cerca de mil quilômetros antes de cair nas águas próximas ao Japão. Também garantiu que o disparo não representou uma ameaça a territórios americanos, como a ilha de Guam, no Oceano Pacífico.
Segundo o secretário americano de Defesa, James Mattis, o míssil – que põe em "risco a paz mundial e regional" – alcançou uma altitude superior aos disparados por Pyongyang em testes anteriores.
O governo do Japão estima que o projétil tenha voado por cerca de 50 minutos antes de cair no mar, na chamada zona econômica exclusiva japonesa, segundo a emissora local NHK. Em comparação, um míssil norte-coreano lançado em agosto, que chegou a sobrevoar o Japão, ficou no ar por 14 minutos.
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, afirmou em rede social que o presidente americano, Donald Trump, "foi informado, quando o míssil ainda estava no ar, sobre a situação na Coreia do Norte". Em coletiva de imprensa ao lado de Mattis, o chefe de Estado garantiu que "cuidará" do caso.
Mais tarde, Trump conversou por telefone com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, para discutir uma resposta de ambos os países ao lançamento. Segundo a Casa Branca, na conversa, os líderes "ressaltaram a grave ameaça que a última provocação da Coreia do Norte representa" não só para Washington e Seul, "mas para o mundo inteiro".
Qual o poder de fogo da Coreia do Norte?
Pyongyang prometeu responder a qualquer provocação militar após EUA sinalizarem disposição de agir contra o regime. Qual a real força desse Exército que desafia potências internacionais?
Foto: Reuters/S. Sagolj
Um dos maiores exércitos do mundo
Com 700 mil homens na ativa e outros 4,5 milhões na reserva, a Corea do Norte pode convocar a qualquer momento um quarto de sua população para a guerra. Todos os homens do país devem passar por algum tipo de treinamento militar e estar sempre disponíveis para pegar em armas. Estima-se que as tropas norte-coreanas tenham superioridade de 2 para 1 em relação à Coreia do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/E. Jones
Um arsenal de respeito
Segundo o índice Global Firepower de 2016, o país possui 70 submarinos, 4,2 mil tanques, 458 aviões de combate e 572 aeronaves de outros tipos. Um arsenal bastante considerável. Esta imagem de 2013 mostra o líder Kim Jong-un ordenando que os mísseis do país estivessem prontos para atacar os EUA e a Coreia do Sul a qualquer momento.
Foto: picture-alliance/dpa
Poder balístico
Os mísseis aqui mostrados foram exibidos no desfile do dia 15 de abril de 2017, juntamente a outros que passaram sob o olhar do líder Kim Jong-un. Existe, porém, a suspeita de que muitos eram apenas maquetes para impressionar o mundo. Mesmo assim, a capacidade balística do país asiático não deve ser menosprezada.
Foto: Gettty Images/AFP/E. Jones
Coloridas e maciças demonstrações de força
Todos os anos, milhares de soldados e civis desfilam pelas ruas de Pyongyang em paradas militares. A maior destas, no chamado Dia do Sol, honra a memória de Kim Il-sung, patriarca do clã que governa o país desde sua fundação e avô de Kim Jong-un. Os preparativos para os desfiles espetaculares podem levar vários meses.
Foto: picture-alliance/dpa/KCNA
Testes nucleares
Apesar da pressão internacional, a Coreia do Norte não esconde suas ambições nucleares. Além dos testes com mísseis balísticos, Pyongyang realizou em cinco ocasiões os chamados ensaios nucleares, duas vezes apenas em 2016. O país sustenta que a última ogiva a ser testada pode ser lançada de um foguete, algo que especialistas consideram pouco provável. Ao menos até o momento.
Foto: picture-alliance/dpa/KCNA
Unidades femininas
Do contingente militar norte-coreano, 10% é composto por mulheres. Elas servem em unidades especiais diferenciadas e devem prestar serviços ao exército por até sete anos, segundo uma lei aprovada em 2003. É possível ver algumas delas patrulhando as ruas com sapatos de salto alto.
Foto: picture-alliance/AP Photo/W. Maye-E
Os inimigos de Pyongyang
Além dos EUA, a Coreia do Norte também considera como grandes inimigos a Coreia do Sul e o Japão. Pyongyang vê os exercícios militares americanos na Península da Coreia como uma ameaça à sua população, afirmando se tratar de uma preparação para uma iminente invasão de seu território.
Foto: Reuters/K. Hong-Ji
Preparação permanente
As Forças Armadas norte-coreanas treinam permanentemente em frentes distintas para estar prontas para o combate. O legado da Guerra da Coreia, que dividiu a península em dois países ainda unidos por um passado comum, é sentido até os dias de hoje. Na imagem, desembarque de embarcações anfíbias de unidades navais em local desconhecido na Coreia do Norte.
Foto: Reuters/KCNA
Fim da paciência americana?
Em abril de 2017, os Estados Unidos disseram ter enviado o porta-aviões Carl Vinson (foto) à Península da Coreia, sinalizando possíveis medidas contra Pyongyang. A Coreia do Norte afirmou estar pronta para qualquer tipo de guerra. Fontes de serviços de inteligência afirmam que os norte-coreanos estão a menos de dois anos de conseguir obter poder suficiente para lançar mísseis contra os EUA.
Foto: picture-alliance/Zumapress/M. Brown
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Reações
O lançamento desta terça-feira foi condenado por líderes mundiais e entidades estrangeiras. A China expressou "grave preocupação" e pediu conversações para resolver pacificamente a crise nuclear.
Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang, Pequim "insiste fortemente" que a Coreia do Norte observe as resoluções da ONU e que "pare com as ações que aumentam as tensões na península coreana". A China espera que todos trabalhem por um "acordo pacífico", uma vez que uma opção militar não é a solução, acrescentou Geng.
O porta-voz disse que a proposta de Pequim para a Coreia do Norte congelar testes de armas em troca da suspensão dos EUA de seus exercícios militares na região foi a melhor abordagem para aliviar as tensões. Mas Washington rejeitou a proposta.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse se tratar de "mais uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, comprometendo a segurança regional e internacional".
Reação semelhante foi esboçada pela chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, que descreveu o disparo como "uma violação descarada das obrigações internacionais da Coreia da Norte", disse uma porta-voz.
Já o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, clamou para que líderes estrangeiros tomem novos passos para elevar a pressão contra Pyongyang, cujo programa nuclear e de mísseis representa uma "ameaça à paz internacional".
"Além de implementar todas as sanções das Nações Unidas já existentes, a comunidade internacional precisa adotar medidas adicionais para reforçar a segurança marítima, incluindo o direito de interditar o tráfego marítimo" em direção à Coreia do Norte, disse Tillerson em nota.
Moon também se pronunciou, classificando o teste vizinho de "provocação imprudente" capaz de levar tensões já elevadas a níveis críticos. "A situação pode ficar fora de controle se o Norte completar o desenvolvimento de mísseis balísticos que possam voar para um continente diferente", alertou.
"Precisamos evitar esse cenário em que o Norte erre o cálculo em certa situação e nos ameace com armas nucleares – ou os EUA podem considerar um ataque preventivo [contra Pyongyang]", acrescentou o presidente sul-coreano.
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU para tratar do assunto, afirmou que o teste norte-coreano é um "ato violento" que "nunca será tolerado". "Nunca cederemos a nenhum ato de provocação. Vamos maximizar nossa pressão" contra Pyongyang, acrescentou.
Após o pedido do governo em Tóquio, reforçado por Washington, o Conselho de Segurança anunciou que uma reunião de emergência será realizada na tarde desta quarta-feira em Nova York. Ao contrário de outras ocasiões semelhantes, o encontro na ONU ocorrerá a portas abertas.
Escalada norte-coreana
Este é o primeiro projétil que o regime norte-coreano lança em dois meses e meio. Em 15 de setembro, um míssil de alcance médio sobrevoou o norte do Japão antes de cair no mar.
Naquele mesmo mês, o país asiático havia anunciado que foi capaz de desenvolver e detonar uma bomba de hidrogênio compacta o suficiente para ser instalada num míssil balístico internacional, elevando ainda mais as tensões na região.
O lançamento desta terça-feira ocorre uma semana após Washington ter anunciado que decidiu recolocar Pyongyang na lista de países patrocinadores do terrorismo, em novo episódio da "campanha de pressão máxima" de Trump para isolar o regime em razão de sua atividade nuclear.
Em resposta, a Coreia do Norte descreveu a decisão americana, que ainda amplia as sanções contra o país asiático, como "uma provocação séria e transgressão violenta".
AS/EK/PV/efe/rtr/dpa/afp/ap
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Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo
No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
Foto: Getty Images/AFP/JIJI Press
Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.