Coreia do Norte pode estar a caminho de reformas
24 de setembro de 2012As nações industriais Japão e Coreia do Sul brilham em fotos noturnas de satélite da Ásia Oriental. Também as cidades da costa leste da China aparecem bem iluminadas. Somente entre a China e a Coreia do Sul há uma mancha escura. Ali se encontra um dos países mais pobres do planeta: a Coreia do Norte.
Falta eletricidade e infraestrutura. Segundo dados das Nações Unidas, em 2011, um em cada quatro coreanos estava ameaçado pela fome, o que corresponde a cerca de 6 milhões de pessoas.
Aparentemente, o próprio governo norte-coreano está ciente de que a situação não pode continuar assim. A empobrecida Coreia do Norte se vê diante das reformas econômicas mais abrangentes das últimas décadas, relatou há pouco tempo a agência de notícias Reuters com base em informações privilegiadas.
Dessa forma, seguindo o modelo chinês, os agricultores deverão receber incentivos mercadológicos para a produção. Pela segunda vez desde a subida ao poder de Kim Jong Un, que ainda não completou 30 anos de idade, o Parlamento norte-coreano deverá se reunir nesta terça-feira (25/09). Normalmente, o Parlamento se reúne somente uma vez por ano, para ratificar decisões da liderança partidária.
"Muitas coisas são possíveis"
Mas desta vez mais coisas podem estar em jogo. Frank Rüdiger, especialista da Universidade de Viena, viajou ao país poucos dias antes da reunião parlamentar extraordinária. Ele acha que é bem possível que importantes decisões estratégicas venham a ser anunciadas.
"Podem ser decisões de pessoal. Pode ser uma emenda constitucional. Claro que pode se tratar também de medidas político-econômicas", disse Rüdiger.
Novos temas na propaganda
Comparado com sua visita à Coreia do Norte em abril deste ano, o clima está atualmente muito mais tranquilo, disse o especialista. É possível reconhecer um otimismo cauteloso, as atividades econômicas aumentaram significantemente.
"Aumentou explosivamente o número de barracas de comércio nas ruas e em quase todos os cruzamentos do país. Eu também olhei os slogans espalhados pelas ruas. Além dos louvores habituais ao líder máximo, cada vez mais o bem-estar popular está sendo propagado como um objetivo a ser alcançado."
"Mesmo que se trate de propaganda, tais palavras de ordem sempre tiveram algum efeito sinalizador, explicou Rüdiger. Agora o jornal partidário também estaria trazendo, nas manchetes de primeira página, notícias econômicas relacionadas ao bem-estar da população.
Aproximação com a China
O aumento dos investimentos chineses na empobrecida Coreia do Norte e as medidas necessárias para tal, ou seja, elementos com base na economia de mercado, estariam no centro das conversas que Jang Song-thaek, influente tio de Kim Jong Un, empreendeu em meados de agosto com as lideranças chinesas em Pequim.
E, naturalmente, a Coreia do Norte observa muito bem o que acontece no único país vizinho com quem tem amizade: "Através do exemplo da China, a Coreia do Norte acredita ser possível conseguir tanto um bom funcionamento econômico quanto uma ditadura, que sustente o monopólio de poder do partido, pelo menos por um longo período de tempo. A China é interessante, porque ali a Coreia do Norte pode observar certas técnicas, como a introdução de zonas econômicas especiais."
Partido e militares contra reformas
Mas mesmo se Kim Jong Un estiver realmente planejando reformar a Coreia do Norte com base no modelo chinês, ele deverá encontrar grandes obstáculos, de acordo com Roland Hiemann, do Instituto de Pesquisa Democrática em Göttingen. As elites partidárias e os militares provavelmente ainda seriam contra uma decisão política que envolvesse amplas reformas.
Kim Jong Un precisaria, portanto, desafiar também o aliado Pequim, "porque nas elites do partido e entre os militares, ele ainda tem opositores em potencial, que não aprovariam um curso excessivamente forçado de aproximação com a China", explicou Hiemann.
Já na época de Kim Jung Il, há quase 20 anos, o modelo chinês – ou seja, reformas econômicas sem reformas políticas – é cogitado entre as lideranças norte-coreanas. Em última análise, nada aconteceu, disse o especialista em Coreia do Norte. No máximo algumas "reforminhas" teriam acontecido, esforços cautelosos de reformas. "Mas estabelecer zonas de comércio, manter uma zona industrial com a Coreia do Sul, isso ainda não implica tomar a decisão de realizar reformas substanciais".
Mesmo o nome do ditador Kim Jung, falecido em dezembro último, já tinha sido ligado a esperanças de reformas, quando ele assumiu o poder em 1994 no lugar de seu pai, o fundador do Estado norte-coreano, Kim Il Sung. Ele era considerado pragmático e flexível, muitos o chamavam até mesmo de "líder cosmopolita", disse Hiemann.
Mas o padrão de vida dos norte-coreanos pouco melhorou nos últimos anos. Também após a sessão extraordinária desta semana, será difícil dizer se a mancha escura sobre a Ásia Oriental poderá brilhar em breve.
Autor: Yan Jun (ca)
Revisão: Francis França