Coreia do Norte se diz disposta a frear programa nuclear
6 de março de 2018
Delegação sul-coreana vai a Pyongyang e afirma que regime comunista estaria aberto a congelar programa atômico e de mísseis numa eventual negociação com EUA. Líderes de Sul e Norte se encontrarão.
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A Coreia do Norte estaria disposta a discutir abandonar suas armas nucleares e congelar seu programa atômico e de mísseis se iniciasse conversas diretas com os Estados Unidos, informou a delegação sul-coreana que viajou a Pyongyang na segunda-feira (05/03)
A declaração feita pelo chefe da delegação sul-coreana, Chung Eui-yon, marca o ápice de um processo de distensão entre as duas Coreias – tecnicamente ainda em guerra – iniciado desde os Jogos Olímpicos de Inverno, no mês passado.
Segundo ficou acordado nesta terça-feira, o ditador Kim Jong-un e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, devem se encontrar em abril no vilarejo de Panmunjeom, na zona desmilitarizada entre os dois países. Será a primeira vez em dez anos em que os líderes dos dois países se encontram – e também será a primeira conferência de Kim com líderes do sul desde que o jovem ditador assumiu o poder no Norte.
"O Norte deixou claro sua vontade pela desnuclearização da península coreana e expressou que não há razão para possuir um programa nuclear se as ameaças militares em relação ao Norte forem removidas, e a segurança do regime for garantida”, disse Chun, que aparece em fotos distribuídas por agências dos dois países apertando a mão de Kim.
A Coreia do Norte também disse estar disposta a dialogar com os EUA sobre a desnuclearização e a normalização de laços diplomáticos. Os americanos vêm afirmando que estão "cautelosamente otimistas” sobre as conversas do Sul com os norte-coreanos. Uma das condições impostas pelos EUA para participar das conversas é a de que o regime norte-coreano desista de vez do seu programa nuclear.
Ainda segundo a delegação do Sul, também foi acertada a instalação de um canal direto de comunicação entre os líderes das Coreias. Os resultados otimistas desse encontro prévio foram confirmados pelos meios de comunicação oficiais do regime norte-coreano. A agência estatal KCNA informou que Kim Jong-un disse a uma delegação de altos funcionários sul-coreanos que está com uma "firme vontade de avançar vigorosamente" e "escrever uma nova história da reunificação nacional".
No entanto, alguns analistas apontam que a aproximação entre as Coreias tem que ser vista com cautela, já que o regime comunista já expressou várias vezes no passado que estaria disposto a abandonar seu programa nuclear, para pouco depois retomar iniciativas agressivas. Em 2000 e 2007, líderes sul-coreanos se encontraram com o pai de Kim Jong-un, o ditador Kim Jong-il, mas as conversas não resultaram em avanços duradouros.
A viagem da delação sul-coreana a Pyongyang correu semanas depois da histórica visita que a irmã do ditador norte-coreano, Kim Yo-jong, realizou à Coreia do Sul por ocasião dos Jogos Olímpicos de Inverno. Durante um dos seus vários encontros com o presidente Moon, ela fez um convite para realizar uma cúpula com Kim Jong-un.
EUA e Pyongyang estão em atrito há meses devido aos programas nuclear e de mísseis norte-coreanos, e Trump e Kim trocaram insultos e ameaças de guerra. A Coreia do Norte já prometeu várias vezes jamais abdicar de seu programa nuclear, que vê como um elemento de dissuasão essencial perante uma eventual “invasão” americana. Os EUA, que têm 28.500 soldados em território sul-coreano, negam tais planos.
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Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo
No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
Foto: Getty Images/AFP/JIJI Press
Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.