Coreia do Norte testa suposto míssil intercontinental
24 de março de 2022
Japão e Coreia do Sul afirmam que Pyongyang disparou míssil de longo alcance deste tipo pela primeira vez desde 2017, supostamente usando um novo modelo, ainda mais poderoso. Teste viola resoluções da ONU.
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A Coreia do Norte realizou nesta quinta-feira (24/03) o que se acredita ser seu maior teste de um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) e o primeiro envolvendo uma poderosa arma deste tipo desde 2017, apontaram os governos do Japão e da Coreia do Sul.
Autoridades japonesas afirmaram que o lançamento desta quinta-feira parece ter envolvido um novo modelo de ICBM, que voou por cerca de 71 minutos a uma altitude de cerca de 6 mil quilômetros e com um alcance de 1.100 quilômetros a partir do ponto de lançamento. Ele caiu dentro da zona econômica exclusiva do Japão, 170 quilômetros a oeste da prefeitura de Aomori, no norte do país, segunda a guarda costeira.
Autoridades militares sul-coreanas afirmaram que o míssil alcançou uma altitude máxima de 6.200 quilômetros e uma distância de 1.080 quilômetros.
Isso significa uma altitude e uma distância maiores do que as do último teste norte-coreano de um ICBM, em 2017, quando o país lançou um míssil do modelo Hwasong-15 que voou por 53 minutos a uma altitude de 4.475 quilômetros, com um alcance de 950 quilômetros.
Segundo autoridades sul-coreanas, o míssil foi lançado das proximidades de Sunan, onde fica o aeroporto internacional de Pyongyang. Em 16 de março, a Coreia do Norte lançou um suposto míssil a partir do aeroporto, que teria explodido logo depois, segundo o Exército da Coreia do Sul.
Os EUA e a Coreia do Sul já haviam alertado neste mês que Pyongyang estava se preparando para lançar seu maior ICBM até agora, do modelo Hwasong-17, que analistas afirmam ser consideravelmente maior que o Hwasong-15. O diâmetro do novo modelo de ICBM é estimado em 2,4 a 2,5 metros, com seu peso total variando entre 80 e 110 toneladas.
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Quebra de moratória
O lançamento desta quinta-feira seria ao menos o 11º teste de míssil já conduzido pela Coreia do Norte neste ano – uma frequência sem precedentes – e marcaria o fim de uma moratória autoimposta de testes de longo alcance e nucleares.
Foi uma "quebra da suspensão de lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais prometida por Kim Jong-un [líder norte-coreano] à comunidade internacional", disse o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em comunicado.
"Representa uma séria ameaça à península coreana, à região e à comunidade internacional", disse Moon, acrescentando se tratar de uma "clara violação" de resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
A ONU proibiu que a Coreia do Norte realize testes de armas balísticas e nucleares e impôs sanções ao país após testes anteriores.
Pyongyang tinha oficialmente pausado testes de longo alcance quando Kim embarcou em negociações de alto nível sobre uma desnuclearização com o então presidente dos EUA, Donald Trump – as quais, no entanto, fracassaram em 2019 e estão travadas desde então.
Mais uma preocupação para Biden
Uma retomada de grandes testes de armamentos pela Coreia do Norte representa uma nova preocupação de segurança para o atual presidente americano, Joe Biden, num momento em que ele lida com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Em janeiro, a Coreia do Norte afirmou que reforçaria suas defesas contra os EUA e considerava retomar "todas as atividades suspensas", segundo a agência de notícias estatal KCNA – numa aparente referência à moratória autoimposta.
Neste mês, Kim Jong-un afirmou que a Coreia do Norte em breve lançaria vários satélites para monitorar movimentações militares dos EUA e seus aliados.
lf/rw (Reuters, AFP, AP)
Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
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No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
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Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.