Coreia do Norte testa Trump e eleva tensão na península
Julian Ryall | Rodion Ebbighausen md
5 de abril de 2017
Pyongyang parece não se perturbar pelas ameaças de Washington e provoca Ocidente ao lançar um míssil na véspera do encontro entre presidente americano e Xi Jinping. Na linha de frente, estão os sul-coreanos.
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Os militares norte-coreanos dispararam, nesta quarta-feira (05/04), novamente um projétil que caiu no mar entre a Península Coreana e o Japão. Identificado inicialmente como um míssil balístico de médio alcance e posteriormente como um míssil Scud de curto alcance, pelas autoridades americanas, o foguete percorreu cerca de 60 quilômetros.
A Coreia do Norte parece continuar a não se perturbar pelas ameaças de Washington. Em meados de março, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, disse, durante visita à Coreia do Sul, que a "política da paciência estratégica" de Barack Obama acabou e que todas as opções "estão sobre a mesa". Mesmo um ataque militar também não estaria descartado.
Também o anúncio do presidente americano Donald Trump, em uma entrevista ao Financial Times, de que os EUA resolveriam a questão da Coreia do Norte sozinhos, se a China não cooperar, parece não tirar a tranquilidade de Pyongyang. Talvez o lançamento do foguete seja também uma mensagem a Xi Jinping, que se reúne com Trump nesta quinta-feira na Flórida, no sentido de advertir: "Seja lá o que vocês discutirem, a Coreia do Norte não vai sair de seu curso."
Coreia do Sul e Japão responderam ao teste de míssil como de costume. Seul convocou seu Conselho de Segurança Nacional e colocou o Exército em estado de alerta máximo. O Japão condenou severamente o lançamento. O Departamento de Estado americano declarou: "Os Estados Unidos já deram amplas declarações sobre a Coreia do Norte e não há nada a acrescentar."
As declarações da Casa Branca no governo Trump aumentam na Coreia do Sul o temor de um confronto militar. Alguns as interpretam como um sinal de que o presidente dos Estados Unidos não vê outra maneira de convencer a Coreia do Norte a desistir, senão pela força militar.
"Na Coreia do Sul, há muitas pessoas que temem que o presidente Trump possa arriscar um primeiro ataque contra a Coreia do Norte", avisa Song Young Chae, cientista político da Universidade Sangmyung, em Seul. Mas um primeiro ataque que não neutralize todas as armas da Coreia do Norte provavelmente teria como consequência um ataque de Pyongyang à Coreia do Sul. "E isso é preocupante", destaca.
Peritos militares lembram as características geográficas da Coreia do Norte, com suas muitas montanhas, que oferecem excelentes possibilidades para se esconder e abrigar mísseis e outras armas. Além disso, a Coreia do Norte tem um Exército de cerca de um milhão de soldados e armazéns bem abastecidos com armas químicas e biológicas.
A artilharia norte-coreana está perto da fronteira, a apenas 50 quilômetros de Seul. Segundo um estudo do think tank americano Stratfor, publicado em janeiro de 2017, um primeiro ataque provocaria a destruição parcial da cidade de dez milhões de habitantes.
"Seul seria sacrificada", alerta o ativista de direitos humanos Robert Park. "Sem dúvida, seria principalmente a população civil que sofreria. Por isso, o governo sul-coreano deve ir contra esses planos irresponsáveis e contraproducentes, de forma firme e inequívoca", reivindica.
Outros não veem a situação de forma tão grave. Embora a situação esteja tensa, muitos sul-coreanos acreditam que, a médio prazo, vai prevalecer a linha mais moderada. "Os sul-coreanos têm uma alta tolerância em relação à retórica vinda do Norte. E isso tem judado o Sul", diz Sokeel Park, diretora da ONG Liberdade para a Coreia do Norte. "O que é novo agora é que os EUA estão seguindo uma retórica similar. Mas eu ainda não tenho visto a população de Seul ir às compras de estoques", ironiza.
Os encantos secretos da Coreia do Norte
Natural de Cingapura, o fotógrafo Aram Pan percorreu durante vários dias o território da ditadura comunista na Ásia. Mas se recusou a abordar política: para ele o que contam são belezas naturais e arquitetônicas.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Tranquila beleza de Pyongyang
O fotógrafo cingapurense Aram Pan viajou em 2013 à Coreia do Norte para realizar o projeto DPRK 360, em que buscou imortalizar o povo e a forma de vida desse hermético Estado asiático, expondo as imagens online. Esta foi tirada do Hotel Yanggakdo, onde Pan se hospedou durante sua estada na capital, Pyongyang.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Ao pé dos ídolos nacionais
O Grande Monumento Mansudae é um dos pontos turísticos mais visitados da capital norte-coreana. Turistas locais e internacionais costumam depositar flores aos pés das gigantescas estátuas dos líderes comunistas Kim Il-sung e Kim Jong-il, que se destacam em meio à esplanada extremamente bem cuidada.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Polícia robótica
Aram Pan conta que a policial da foto se manteve imóvel apenas os segundos necessários para registrá-la. Embora no país não circulem muitos automóveis, as cidades mantêm funcionários encarregados de manter a ordem no tráfego – para o que executam movimentos rítmicos, como robôs.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Metrô sob o signo do perigo
São 15h de um dia de agosto de 2013. Embora não seja horário de pico, o metrô da capital está abarrotado. As estações do meio de transporte urbano, que dispõe de duas linhas, foram construídas a vários metros de profundidade, a fim de resistirem a eventuais bombardeios.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
"Shiny happy people"
Cidadãos dançando felizes e despreocupados, numa ditadura comunista? Além de não interferir no que registra, Pan se recusa a discutir política. Ele pede aos que veem suas fotografias que não pensem nele, mas na gente e nas paisagens do país. "Ninguém viaja a um país para fotografar cárceres", argumenta, ao ser criticado por mostrar uma Coreia do Norte amável. A imagem foi feita perto de Wonsan.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Sol, areia e mar
Na costa norte-coreana, não há diferença visível entre os divertimentos dos cidadãos nas praias e os de qualquer democracia do mundo. Eles jogam voleibol, brincam na areia, entram de boia na água. Não faltam chuveiros para tirar a areia antes da volta para casa. Em muitas fotografias de Pan veem-se rostos sorridentes.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Chove sobre a cidade
Dia de chuva em Wonsan, na costa leste. Aram Pan brinca, afirmando que as pessoas sabem mais sobre o cosmos do que sobre a Coreia do Norte. E acrescenta que deseja contribuir com seu pequeno grão de areia para que isso mude.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
De guarda-chuva no palácio
Estas graciosas meninas são alunas do Palácio de Crianças de Mangyongdae, uma escola perto de Pyongyang. Dança, música, interpretação teatral e desenho são algumas das disciplinas ensinadas na conceituada instituição pública.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Talento genuíno
O fotógrafo de Cingapura conta que esteve cinco minutos observando este garoto desenhar e pode atestar que seu talento é genuíno. Alguns visitantes da página do DPRK 360 no Facebook duvidam da autenticidade das fotografias, que poderiam ser encenadas ou seriam meras atuações para os turistas. Aram Pan assegura que não é o caso.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Sensacional coordenação
O famoso Festival Arirang, de que participam até cem mil ginastas, é uma das maiores demonstrações de trabalho coordenado do mundo. A celebração iniciada em 2002, em honra do fundador da nação, Kim Il-sung, é outra das grandes atrações turísticas norte-coreanas.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Expressão da normalidade
Perto de Kaesong, cidade famosa por dispor de fábricas de investidores sul-coreanos, Aram Pan viu esta senhora que passeava com uma menina. Ele diz que a imagem expressa exatamente o que desejava mostrar da Coreia do Norte: gente comum e normal.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Maravilhas de natureza
Os arredores do monte Kumgang são muito frequentados pelos norte-coreanos, que lá vão para fazer piquenique enquanto admiram a paisagem. A região é umas das grandes apostas do regime: o país aspira transformar-se em polo turístico internacional, e maravilhas naturais como Kumgangsam deverão convencer até os mais céticos.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Vida noturna na capital
À noite, os moradores de Pyongyang tomam o bonde para voltar à casa. Aram Pan enfatiza a misteriosa beleza noturna da cidade, quando o silêncio toma conta dela e as luzes lhe conferem uma atmosfera inigualável.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Maior que o de Paris
Construído em 1982 em homenagem ao 70º aniversário do líder Kim Il-sung, o Arco do Triunfo de Pyongyang é uma dezena de metros mais alto do que seu equivalente em Paris, em cuja arquitetura é baseado. Também aqui a escuridão do céu e a iluminação urbana criam um clima mágico.
Foto: Aram Pan, All Rights Reserved
Um mundo sem política?
Enquanto o sol se põe na capital, vê-se, em primeiro plano, a Torre Juche, enorme obelisco de 170 metros de altura também erguido em 1982 em honra de Kim Il-sung. O fotógrafo Aram Pan não quer saber de conflitos, ideologias ou violações dos direitos humanos: para ele o que conta são as belezas naturais e arquitetônicas da Coreia do Norte, as quais quer mostrar ao mundo em seu projeto DPRK 360.