Coreia do Norte volta a lançar balões com lixo rumo ao Sul
24 de junho de 2024
Retomada de lançamentos em direção à Coreia do Sul ocorre dias após assinatura de acordo de defesa entre Pyongyang e Moscou.
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A Coreia do Norte retomou o lançamento de balões – possivelmente, mais uma vez, contendo lixo – em direção à Coreia do Sul, informaram fontes militares sul-coreanas nesta segunda-feira (24/06). A ação ocorre dias depois de o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, ter se encontrado com o presidente russo, Vladimir Putin, e ter assinado um acordo de defesa que, segundo especialistas, pode encorajar novas provocações ao vizinho do sul.
Chefes do Estado-Maior da Coreia do Sul alertaram que os balões foram avistados na fronteira entre os dois países, acrescentando que a população deve ficar atenta à queda dos objetos.
"Os cidadãos são aconselhados a tomar cuidado com a queda de destroços. Se algum balão for encontrado, não toque nele e informe a unidade militar ou a delegacia de polícia mais próxima", informou o Exército.
Segundo o governo da Coreia do Sul, uma análise do conteúdo de cerca de 70 balões que vieram do Norte mostrou que eles transportavam roupas muito gastas e sujeira contendo vestígios de fezes humanas e parasitas.
Pyongyang já teria enviado mais de mil balões carregados de resíduos para o sul, argumentando que a atitude é uma retaliação pelos balões contendo propaganda contra o regime comunista, lançados por ativistas ao sul da fronteira.
Na última sexta-feira, um ativista sul-coreano confirmou que mais balões haviam sido enviados rumo ao norte, que prometeu responder.
Em termos jurídicos, a Coreia do Sul não pode sancionar ativistas que enviam balões por sobre a fronteira devido a uma decisão judicial do ano passado que considera uma hipotética punição como violação da liberdade de expressão.
Cultura pop como arma
O ativista Park Sang-hak, que desertou da Coreia do Norte e tem enviado panfletos contra o regime nortista há anos, confirmou que lançou 20 balões carregados de propaganda, bem como pen-drives com músicas do estilo K-pop e dramas televisivos por sobre fronteira na quinta-feira da semana passada.
A Coreia do Norte é extremamente repressiva em relação ao acesso da população à cultura pop sul-coreana. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive, afirma que a posse desse tipo de conteúdo resulta em pena de morte.
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Aumento da tensão nos últimos anos
As duas Coreias estão separadas por uma zona desmilitarizada de quatro quilômetros, estabelecida por um comando da ONU liderado pelos EUA no final da Guerra da Coreia, em 1953. Os combates cessaram com um armistício, mas um tratado de paz nunca foi efetivamente assinado.
Nos últimos anos, as relações entre Seul e Pyongyang estão cada vez mais tensas, com a Coreia do Norte realizando testes bélicos (de diferentes mísseis, por exemplo) e aumentando o número de soldados na fronteira.
gb (AFP, AP)
Guerra da Coreia, 70 anos depois
Combates na península coreana duraram mais de três anos. De um lado, o sul, apoiado pela ONU. Do outro, o norte, reforçado por China e URSS. Guerra acabou em 1953, com milhões de mortos e a divisão das Coreias cimentada.
Foto: AP
Fronteira da Guerra Fria
Em 27 de julho de 1950, as tropas da comunista Coreia do Norte atravessam o Paralelo 38, iniciando uma verdadeira campanha de ocupação. Em poucos dias, praticamente todo o país estava sob seu controle. É o início de uma guerra que durará 37 meses, custando 4,5 milhões de vidas humanas, segundo certas estimativas.
Foto: AFP/Getty Images
Antecedentes
Depois de ser ocupada pelo Japão de 1910 a 1945, a Coreia estava dividida desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O território acima do 38º paralelo norte ficou sob controle soviético, o do sul, na mão dos EUA. Em agosto de 1948, Seul proclama a República da Coreia. Em reação, o general Kim Il-sung cria no norte a República Popular Democrática da Coreia, em 9 de setembro do mesmo ano.
Foto: picture-alliance / akg-images
Reforço da ONU
Seguindo o avanço dos norte-coreanos sobre o Paralelo 38, a partir de julho de 1950 as Nações Unidas decidem dar apoio militar à Coreia do Sul, por pressão dos EUA. São enviados para a península 40 mil soldados de mais de 20 países, entre os quais 36 mil norte-americanos. A sorte parece ter virado: logo os Aliados conseguem ocupar quase todo o país.
Foto: AFP/Getty Images
Codinome Operação Chromite
Em 15 de setembro de 1950, tropas ocidentais sob o comando do general Douglas MacArthur desembarcam perto da cidade portuária de Incheon, no sudoeste, capturando uma base central de suporte do Norte. Pouco depois, Seul está novamente na mão dos Aliados, que em outubro também ocupam Pyongyang. O fim da guerra parece próximo. Mas aí a China envia tropas de apoio aos norte-coreanos.
Foto: picture alliance/AP Photo
Ajuda de Mao
Em meados de outubro iniciava-se a intervenção chinesa. De início, a ajuda parte apenas de unidades de pequeno porte. No final do mês ocorre a primeira mobilização em grande escala na Coreia do Norte do "exército de voluntários" de Mao. Em 5 de dezembro, Pyongyang – única capital comunista ocupada por tropas ocidentais durante a Guerra Fria – está novamente nas mãos de norte-coreanos e chineses.
Foto: Claude de Chabalier/AFP/Getty Images
Pró e contra a bomba atômica
Em janeiro de 1951 começa uma grande ofensiva da Coreia do Norte, com apoio chinês. Cerca de 400 mil chineses e 100 mil norte-coreanos forçam as tropas aliadas a recuar fortemente. Em abril, o general MacArthur é destituído de seu posto, depois que o presidente Harry Truman lhe ordenara usar bombas atômicas contra a China. Seu sucessor é o general Matthew B. Ridgway.
Foto: picture-alliance/dpa
Guerra de exaustão
Em meados de 1951, mais ou menos na altura da linha de demarcação que separava o Norte e o Sul antes da guerra, as forças oponentes chegam a um impasse. A partir daí, começa uma encarniçada guerra de exaustão, que durará até o fim das operações de combate, dois anos mais tarde – embora as negociações de paz já tivessem sido iniciadas em julho de 1951.
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Batalha de ideologias
O conflito entre as Coreias é considerado a primeira "guerra por procuração" entre o Ocidente capitalista e o Oriente comunista. A maior parte dos soldados lutando nas tropas da ONU vinha dos Estados Unidos. No lado oposto, os norte-coreanos contaram com o reforço de centenas de milhares de chineses e russos.
Foto: AFP/Getty Images
Coreia do Norte em ruínas
Desde o início, foi uma guerra de ataques aéreos e bombardeios. Durante os três anos de combates, as forças aéreas das Nações Unidas realizaram mais de 1 milhão de operações. Ao todo, os americanos lançaram cerca de 450 mil toneladas de bombas, inclusive de napalm, sobre a Coreia do Norte. A destruição foi extensa: ao fim da guerra, quase todas grandes cidades estavam arrasadas.
Foto: AFP/Getty Images
Estimativas conflitantes
Quando, em 1953, as tropas aliadas se retiram da península coreana, o saldo é de milhões de mortos. Os dados sobre o número de soldados caídos são conflitantes. Calcula-se que morreram cerca de meio milhão de militares coreanos, assim como 400 mil chineses. Os Aliados registram 40 mil vítimas, 90% delas americanos.
Foto: Keystone/Getty Images
Troca de prisioneiros
Ainda durante os combates, de meados de maio a início de abril de 1953, ocorreu a primeira troca de presos entre os dois lados. Até o fim do ano, mais detentos seriam repatriados. A ONU devolveu mais de 75 mil norte-coreanos e quase 6.700 chineses. O outro lado soltou 13.500 pessoas, entre as quais 8.300 sul-coreanos e 3.700 soldados dos EUA.
Foto: Keystone/Getty Images
Cessar-fogo
Após mais de dois anos, as negociações de cessar-fogo iniciadas em 10 de julho de 1951 culminam no Armistício de Panmunjom. A divisão da península está sedimentada: o 38º paralelo norte é definido com fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul. Mas como um tratado de paz nunca foi assinado, do ponto de vista do direito internacional os dois países se encontram até hoje em estado de guerra.
Foto: AFP/Getty Images
Terra de ninguém
O idílio na cidade fronteiriça de Panmunjom é enganoso. Até hoje, a fronteira ao longo do Paralelo 38 é a mais rigorosamente vigiada do mundo. Ao longo da linha estipulada no acordo de armistício de 1953, o Norte e o Sul são separados por uma zona desmilitarizada de cerca de 250 quilômetros de extensão e 4 quilômetros de largura. Aqui, soldados de ambos os lados se defrontam diariamente.