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Coreia combate "transmissores silenciosos" do coronavírus

25 de março de 2020

Graças a seu programa abrangente de testes de covid-19 rápidos, descomplicados e, sobretudo, gratuitos, governo sul-coreano está sendo bem-sucedido na detecção de contaminados que não apresentam sintomas.

Teste de coronavírus na Coreia do Sul
Em muitos locais na Coreia do Sul, há pontos de controle onde qualquer um pode se submeter ao teste Foto: Imago Images/Xinhua/Wang Jingqiang

As estratégias governamentais para combater o novo coronavírus são tão diversas quanto os países que as adotam. As autoridades nacionais de saúde avaliam de formas diversas, por exemplo, a transmissão assintomática. Normalmente os contagiados mostram os primeiros sintomas dentro de cinco dias, embora em casos excepcionais o período de incubação possa durar até três semanas.

Segundo dados do governo chinês, divulgados pelo jornal South China Morning Post, seria de 30% a porcentagem dos "portadores silenciosos", ou seja, aqueles cujos testes do vírus são positivos, mas não apresentam sintomas, ou só bem mais tarde.

Esses números são confirmados por um grupo de especialistas japoneses liderados pelo epidemiologista Hiroshi Nishiura, da Universidade de Hokkaido. Ele constatou que, entre os pacientes japoneses evacuados da cidade de Wuhan, na China, o local de origem da pandemia, a proporção dos infectados sem sintomas era de 30,8%.

São muitos os indícios de que "um volume considerável de casos fica subdiagnosticado", afirmou a equipe japonesa em carta à revista médica International Journal of Infectious Diseases.

Esses números contrastam fortemente com declarações da Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a qual a transmissão asssintomática seria "extremamente rara" na União Europeia, constituindo apenas de 1% a 3% dos casos.

Testes descomplicados e gratuitos

Na maioria dos países europeus e nos Estados Unidos, onde só são testados os que apresentam sintomas, o número das infecções segue crescendo rapidamente.

Na Alemanha, por exemplo, onde só é submetido ao teste de coronavírus quem tem sintomas semelhantes aos da gripe e esteve nos últimos 14 dias numa região onde houve casos ou teve contato com um caso confirmado, nesse mesmo prazo. Quem teve o contato mas não apresente os sintomas é enviado sem testes em quarentena autoimposta de 14 dias, que no entanto praticamente não é monitorada.

Até agora, o coronavírus foi detectado principalmente com a técnica de reação em cadeia da polimerase em tempo realFoto: DW/F. Schmidt

Nos epicentros originais do vírus Sars-CoV-2, China e Coreia do Sul, por outro lado, cai sensivelmente o número de novas incidências. Em ambos, são testados todos os que tiveram contato com um infectado, mesmo que não apresentem sintomas. Em caso positivo, a quarentena de 14 dias, sob vigilância telefônica estrita.

Na Coreia do Sul, as infrações à quarentena são punidas com multas de até 3 milhões de won (2.500 dólares). Um novo projeto de lei prevê elevar as penas a 10 milhões de won e até um ano de prisão.

Após o vertiginoso incremento no fim de fevereiro, a Coreia do Sul conseguiu reduzir significativamente o número das novas infecções. Atualmente, 9 mil dos cerca de 50 milhões de habitantes foram contaminados, e a eles juntam-se diariamente mais 100. A covid-19 já provocou 120 mortes no país.

Em muitos locais, há pontos de controle e tendas onde qualquer um pode se submeter ao teste de coronavírus de forma rápida, descomplicada e, sobretudo, gratuita. Até o momento, 300 mil cidadãos já participaram, e diariamente podem ser realizados cerca de 20 mil testes, também graças aos mais de 40 postos de teste tipo drive-through por todo o país, que outros governos nacionais também já imitam.

Ao todo, foram testados muito mais indivíduos na Coreia do Sul do que em qualquer outro país: 5,6 por cada mil habitantes. Em comparação, na Alemanha podem ser realizados no máximo 160 mil testes de coronavírus por semana, o equivalente a 1,9 por mil habitantes. Nos EUA só houve até o momento cerca de 30 mil testes.

Interferência na liberdade pessoal

Os sul-coreanos, portanto, estão conseguindo conter o vírus sem decretar toque de recolher nem restrições drásticas às viagens. A vida pública foi, de fato, também fortemente cerceada, e todos devem manter distância interpessoal, mas o país ainda não quer se fechar completamente.

"A Coreia do Sul é uma república democrática. Acreditamos que confinamentos não são uma opção razoável", comentou o especialista em doenças infecciosas Kim Woo-Joo, da Korea University, citado pela revista especializada Science.

Em vez disso, o país asiático empreendeu "o programa de testes mais abrangente e mais bem organizado de todo o mundo, combinado a esforços intensos para colocar os infectados em quarentena, assim como a seus contatos" explicou Kim.

Os exames intensivos possibilitaram também descobrir muitos "portadores silenciosos" no círculo mais próximo dos contaminados, antes de poderem infectar outros. "No momento, a Coreia tem uma parcela de casos assintomáticos bem mais alta do que outras nações, o que talvez se deva a nossos testes abrangentes", comentou Jeong Eun-kyeong, diretor do Centro Coreano de Controle e Prevenção de Pestes (KCDC).

Paralelamente, Seul interfere drasticamente nos direitos individuais de sua população. Para reduzir ao mínimo o perigo de contágio, os cidadãos recebem informações personalizadas sobre os riscos em sua vizinhança imediata. As autoridades locais têm acesso a informações detalhadas sobre os infectados, incluindo idade, sexo e perfil de deslocamentos.

Desde a crise da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers-CoV) em 2015, o governo coreano está autorizado por lei a coletar dados de celular e cartões de crédito, a fim reconstituir os movimentos de indivíduos testados positivos. Despersonalizados, esses dados são então transmitidos a aplicativos onde qualquer cidadão pode ver se possivelmente encontrou-se com alguém contaminado.

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