Após uma semana de reuniões, Seul e Pyongyang anunciam que formarão sua primeira equipe olímpica conjunta e que atletas de ambos os países desfilarão juntos em cerimônia de abertura, carregando bandeira pró-unificação.
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Num raro encontro bilateral, as duas Coreias concordaram nesta quarta-feira (17/01) em formar uma equipe conjunta de hóquei no gelo feminino para os próximos Jogos Olímpicos de Inverno, a serem disputados na cidade sul-coreana de Pyeongchang em fevereiro.
Esta será a primeira equipe olímpica composta por atletas de ambos os países, configurando um marco na história das relações esportivas entre as Coreias e um importante passo rumo à distensão nas relações políticas.
Seul e Pyongyang também anunciaram que seus atletas desfilarão juntos na cerimônia de abertura, carregando a bandeira de uma "Coreia unificada" que mostra a Península Coreana não dividida, segundo declarações dos negociadores dos dois lados, após o encontro.
A bandeira da unificação coreana, que mostra a silhueta da península e sua ilhas em azul, foi usada pela primeira vez no Campeonato Mundial de Tênis de Mesa de 1991. Ela foi exibida numa série de eventos esportivos desde então, pela última vez nos Jogos de Inverno de Turim, na Itália, em 2006.
Após uma semana de reuniões em Panmunjom, na zona desmilitarizada na fronteira entre os dois países, a Coreia do Sul concordou ainda em enviar seus atletas para o resort de esqui Masikryong, no Norte, para treinarem antes dos Jogos de Pyeongchang.
A delegação olímpica norte-coreana é formada por cerca de 550 membros – incluindo 230 animadores de torcida, 140 artistas e uma equipe de 30 pessoas para uma demonstração de taekwondo. Eles viajarão por terra, passando por Kaesong, que fica às margens da principal estrada entre Pyongyang e Seul, e devem chegar ao país vizinho em 25 de janeiro.
"Olímpiadas da paz"
Na semana passada, a Coreia do Norte havia concordado em enviar uma deleção aos Jogos de Inverno, a serem realizados entre 5 e 25 de fevereiro a apenas 80 quilômetros da zona desmilitarizada que divide a península coreana.
Em meio às tensões internacionais provocadas pelo programa nuclear e de mísseis da Coreia do Norte, Seul vinha tentando há tempos promover os jogos como "Olimpíadas da paz".
Três representantes dos governos de cada um dos países participaram das reuniões em Panmunjom, e os resultados serão agora discutidos por ambos os países com o Comitê Olímpico Internacional (COI).
Durante as recentes reuniões bilaterais, a Coreia do Norte também informou à Coreia do Sul que reabriu uma de suas linhas de comunicação militar com o país vizinho.
As duas Coreias são separadas pela fronteira mais militarizada do mundo desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953. O raro encontro entre ambos os lados foi organizado depois que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, pressionou por melhores relações com Seul e sinalizou uma abertura para diálogo em seu discurso de Ano Novo.
As tensões na península coreana aumentaram com o impulso dado pela Coreia do Norte a seu programa de armas nucleares no ano passado – conduta que viola as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Críticos veem as conversas entre Seul e Pyongyang como uma tentativa de Kim de distanciar a Coreia do Sul dos Estados Unidos.
LPF/rtr/afp/dpa
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Coreia do Norte nas lentes de um instagrammer
Apesar do destaque no noticiário internacional, nação asiática continua sendo uma das mais isoladas do mundo. Em várias visitas ao país, o instagrammer Pierre Depont tentou capturar a vida cotidiana dos norte-coreanos.
Foto: DW/P.Depont
Traços de normalidade
Apesar da imagem de reclusa, a Coreia do Norte convida estrangeiros a descobrirem suas atrações. Mas viajar como turista não significa passear livremente pelo país, pois guias especiais devem acompanhar cada passo do visitante. As restrições não desencorajaram o instagrammer britânico Pierre Depont, que visitou o país sete vezes, capturando traços de normalidade no cotidiano dos norte-coreanos.
Foto: DW/P. Depont
Capitalismo rastejante
Depont visitou a Coreia do Norte pela primeira vez em 2013 e, desde então, ele estuda as transformações no país autoritário. Nos últimos dois ou três anos, ele observou que “em Pyongyang, tornou-se aceitável exibir a própria riqueza”. Com uma classe média cada vez maior e um boom das construções, a capital norte-coreana parece estar desafiando sanções econômicas internacionais.
Foto: Pierre Depont
Estilo em Pyongyang
Estabelecer contato com pessoas comuns não é fácil na Coreia do Norte, segundo Depont. "Tive algumas conversas aleatórias com estranhos, sempre ouvidas por um dos guias.” De acordo com as experiências do instagrammer, a maioria dos norte-coreanos não gosta de ser fotografado. “As mulheres norte-coreanas estão definitivamente ficando mais estilosas. Mas só é possível notar isso nas cidades.”
Foto: DW/P. Depont
Urbano X rural
Esta estação de metrô em Pyongyang deslumbra passageiros com o que parecem ser paredes de mármore e candelabros. Para Depont, a Coreia do Norte é um lugar ideal para a fotografia. “Você não encontra nenhuma publicidade, nenhuma distração”, diz. Mas enquanto a capital, onde vive a elite, parece estar prosperando, outras partes do país permanecem assoladas pela pobreza.
Foto: Pierre Depont
Dificuldades ocultas
A Coreia do Norte continua sendo uma sociedade altamente militarizada e predominantemente agrícola. Turistas, no entanto, não conseguem ver muito das condições de vida da população rural. “Cada pedacinho de terra é cultivado, cada metro quadrado é usado”, conta Depont.
Foto: Pierre Depont
Abundância encenada?
Turistas interessados na vida fora das cidades norte-coreanas são levados em visitas guiadas a cooperativas agrícolas. Quando Depont visitou uma fazenda do tipo, próxima a Hamhung, segunda maior cidade do país, ela exibia uma pequena venda, com uma variedade de mercadorias ordenadamente expostas. Depont disse ter tido a impressão de que se tratava de um comércio de fachada, só para ser mostrado.
Foto: DW/P.Depont
Escolas de elite
Uma parada numa escola modelo é um ponto importante de muitos tours na Coreia do Norte. A colônia de férias internacional Songdowon foi reaberta em 2014 e recebeu a visita do atual líder do país, Kim Jong-un. “Há algo de irreal no lugar”, conta Depont. “As crianças brincam na sala de jogos, usando fliperamas e cerca de 20 computadores modernos.”
Foto: DW/P.Depont
Militarismo onipresente
O setor militar é fundamental para a identidade do país e para o sustento de sua sociedade. Cerca de um quarto da população trabalha como funcionário militar. Pyongyang tem um dos maiores orçamentos militares do mundo em relação à sua economia. Desde pequenos, os norte-coreanos crescem em meio a um imaginário militar. Depont se deparou com esse tanque em miniatura num playground perto de Hamhung.
Foto: Pierre Depont
Adoração ritualizada
Além do militarismo, o alto nível de controle político e o culto à personalidade de Kim Jong-un e seus predecessores são onipresentes. A adoração cotidiana ao líder supremo impressionou Depont. “Você vê a quantidade de dinheiro e esforço dedicados a sustentar a história dos grandes líderes e suas grandes estátuas.”