Drama sombrio de Todd Phillips é o grande vencedor do Festival de Cinema de Veneza. Apesar das polêmicas, obra de Polanski fica em segundo lugar. Único dirigido por brasileiro, filme de Bárbara Paz também é premiado.
Anúncio
O drama sombrio Coringa, sobre as origens do famoso vilão, conquistou neste sábado (07/09) o Leão de Ouro, o prêmio mais importante do Festival de Cinema de Veneza.
No filme dirigido por Todd Phillips, quem interpreta o inimigo do Batman é o ator Joaquin Phoenix, que recebeu ótimas avaliações dos críticos do festival. A história segue a transformação do personagem de um vulnerável solitário a um vilão confiante.
Coringa se distancia dos filmes típicos de super-heróis. Phillips disse ter se inspirado em obras dos anos 1970, usando iluminação e trilha sonora sombrias para compor o longa. O filme tem estreia prevista para 3 de outubro em vários países, inclusive no Brasil.
"Quero agradecer à [produtora] Warner Bros e à [editora] DC Comics por saírem de sua zona de conforto e tomarem um passo tão ousado comigo e com meu filme", afirmou o diretor em seu discurso durante a cerimônia de entrega do prêmio.
O Grande Prêmio do Júri, o segundo mais importante do festival, ficou com An officer and a spy, um drama militar de Roman Polanski, com estreia nos cinemas prevista para novembro.
Em tempos de #MeToo e com apenas duas diretoras mulheres entre os 21 cineastas escalados para a competição, o festival foi alvo de críticas por incluir a obra de Polanski na programação, em meio a polêmicas sobre a condenação do cineasta polaco por crime sexual.
Os organizadores do evento em Veneza defenderam a inclusão de Polanski, argumentando que não é o homem que está sendo julgado pela competição, mas o seu filme.
Polanski, que fugiu dos Estados Unidos após se declarar culpado em 1977 da acusação de ter tido relações sexuais com uma menina de 13 anos em Los Angeles, não viajou a Veneza para o festival. A mulher dele, Emmanuelle Seigner, que estrela o filme, recebeu o prêmio em seu nome.
O Leão de Prata de Melhor Diretor foi para o sueco Roy Andersson, pelo filme About endlessness, uma colagem de curtas histórias sobre bondade e crueldade.
O diretor italiano Franco Maresca levou o Prêmio Especial do Júri por seu documentário satírico The mafia is not what it used to be. E o Prêmio de Melhor Roteiro foi para o cineasta chinês Yonfan pela animação No. 7 Cherry Lane, um romance ambientado nos anos 1960 em Hong Kong.
As estatuetas de melhor atriz e melhor ator foram para a francesa Ariane Ascaride, que interpreta uma mãe desesperada em ajudar sua família financeiramente falida em Gloria mundi, e para o italiano Luca Marinelli, por seu retrato de um pobre e aspirante escritor em Martin Eden.
Prêmio para o Brasil
O Brasil esteve pouco representado na edição deste ano do Festival de Veneza. O único longa dirigido por um brasileiro foi o documentário Babenco: alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, de Bárbara Paz. A obra levou o prêmio de melhor documentário sobre cinema da mostra Classics.
O documentário acompanha os últimos anos de vida do cineasta Hector Babenco, que morreu em 2016 e foi companheiro de Paz por nove anos. "Estou muito emocionada e honrada. Hector dizia que fazer filmes era viver um dia a mais. Hector, obrigada por acreditar em mim. Amo-o para sempre", disse a diretora ao receber o prêmio em Veneza.
"Este é um prêmio muito importante para o meu país. Precisamos dizer não à censura. Vida longa à liberdade de expressão", acrescentou Paz, fazendo referência às políticas do presidente Jair Bolsonaro para a área de cultura, as quais muitos acusam de tentar implementar censuras.
De clássicos como "King Kong" e "Oito e meio" ao sucesso recente de "Ave, César!", há quase um século o próprio processo de produzir filmes tem se provado tema fascinante para cineastas e público.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/UIP
"Cantando na chuva" (1952)
O famoso musical enfoca a Hollywood da década de 20, na transição do filme mudo para o sonoro, quando a súbita pressão para representar com a voz representou o ocaso para diversos astros e estrelas do cinema. As sequências cantadas e dançadas com Gene Kelly (foto), Debbie Reynolds e Donald O'Connor são um forte tributo ao gênero musical da época.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
"King Kong" – original e remakes
Com um macaco-monstro e efeitos especiais icônicos, a versão de 1933 de "King Kong" foi um marco da história do cinema. Seguiram-se várias refilmagens, destacando-se as de 1976, com Jessica Lange e Jeff Bridges, e 2005 (foto), dirigida por Peter Jackson. O misto de história de amor bestial e thriller acompanha uma equipe cinematográfica à Ilha da Caveira, onde se depara com o colossal gorila.
Foto: Presse
"Bancando o águia" (1924)
Essa comédia muda foi possivelmente a primeira produção a revelar aos espectadores os bastidores da indústria cinematográfica. Em sonho, o projecionista Buster assume o papel do detetive Sherlock Holmes, resolve um caso e conquista o amor da mocinha. De volta à realidade, ele imita seu herói cinematográfico. "Sherlock Jr." é considerada uma das obras mais importantes do americano Buster Keaton.
Foto: AP
"O artista" (2011)
Também em "O artista", dois atores se encontram na transição para o filme sonoro. Rodado em preto-e-branco, com entretítulos e diálogo esparso, ele é uma homenagem à era do cinema mudo e uma declaração de amor à sétima arte. A produção francesa recebeu cinco Oscars e três Globos de Ouro, entre vários outros prêmios.
Foto: picture-alliance/dpa
"Crepúsculo dos deuses" (1950)
Em seu drama, Billy Wilder conta a história do cineasta fracassado Joe Gillis (William Holden) e da ex-diva das telas Norma Desmond (Gloria Swanson). O resultado é um retrato impiedoso da assim chamada "fábrica dos sonhos" Hollywood. O diretor evitou o quanto pôde revelar a trama a seus produtores, para evitar que o fizessem abrandar o tom crítico de seu "Sunset Boulevard" (título original).
Foto: AP
"O desprezo" (1963)
Jean-Luc Godard também retratou a comercialização do cinema nessa produção ítalo-francesa. Brigitte Bardot representa a esposa do roteirista Paul Javal (Michel Piccoli), cuja relação sucumbe à ganância e desconfiança, nas engrenagens da indústria cinematográfica hollywoodiana.
Foto: picture-alliance/United Archives
"Ed Wood" (1994)
Em preto-e-branco, Tim Burton retratou aqui um outro cineasta americano. Ambicioso e profundo admirador do gênio Orson Welles, porém desprovido de talento e verba, Edward D. Wood Jr. (Johnny Depp, dir. embaixo) produziu nos anos 50 uma série de filmes B com elementos de ficção científica e horror. Martin Landau recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel do ex-Drácula Bela Lugosi.
Foto: picture-alliance/United Archives
"O estado das coisas" (1982)
Um diretor igualmente enfrenta dificuldades financeiras neste filme do alemão Wim Wenders. Filmando em locação em Portugal, Friedrich Munro (Patrick Bauchau) decide ir pessoalmente para Los Angeles, quando as verbas e o material fotográfico esperados não chegam. Wenders inseriu diversas alusões a outros filmes e cineastas, como Friedrich Murnau, Fritz Lang e Roger Corman.
Foto: picture alliance / United Archives
"Deu a louca nos astros" (2000)
Escrita e dirigida por David Mamet, a comédia "State and Main" acompanha um caótica produção cinematográfica. Chegando a Vermont para filmar "O velho moinho", a equipe constata que cidade não tem mais um moinho. Aí a atriz principal súbito exige um cachê muito mais alto, o roteirista sofre bloqueio criativo, o protagonista passa a flertar com uma adolescente local (Julia Stiles, na foto).
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"8 1/2" (1963)
Clássico do cinema de autor, "Oito e meio", de Federico Fellini, gira em torno do cineasta Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), em meio a uma crise existencial acompanhada de bloqueio criativo. Claudia Cardinale (foto) representa a inalcançável Mulher Ideal. Portador dois Oscars, o filme é considerado uma obra prima do cinema autorrreferencial.
Foto: picture-alliance/dpa
"Boogie Nights: Prazer sem limites" (1997)
A ascensão e queda do astro pornô Dirk Diggler (Mark Wahlberg, esq.), discípulo e "galinha dos ovos de ouro" do diretor Jack Horner (Burt Reynolds), é pretexto para o também roteirista Thomas Paul Anderson traçar uma crônica do cinema pornográfico americano no fim da década de 70, às vésperas do ocaso de uma época áurea.
Foto: picture alliance / United Archives
"Ave, César!" (2016)
A comédia de Ethan e Joel Coen celebra a Hollywood dos anos 50, período em que a indústria cinematográfica sente a ameaça da competição pela televisão. Ao desaparecer misteriosamente do set de filmagens de um épico romano, o ator em decadência Baird Whitlock (George Clooney) representa um problema para Eddie Mannix, um produtor disposto a empregar drásticos para sanar os problemas do estúdio.