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O 'Renascimento carolíngio'

10 de maio de 2009

Na noite de 25 de dezembro de 800, Carlos Magno, rei dos francos, foi coroado pelo papa Leão 3° imperador romano, tornando-se assim um dos mais poderosos soberanos de seu tempo. Nº 5 da série "Os Europeus".

Carlos Magno, rei dos francos, imperador do império romano

Carlos Magno (cerca 747-814) partiu em direção a Roma em novembro de 799. O Papa lhe pedira ajuda, pois não podia mais se defender contra a oposição na cidade. Depois de Carlos Magno ter conseguido acalmar a situação e Leão 3° ter apaziguado os ânimos através de um juramento de purificação, ambos participaram de uma missa de Natal na Basílica de São Pedro. Naquela noite, os cidadãos romanos e o episcopado presentes assistiram a um espetáculo de dimensões históricas.

Coroação inesperada do imperador?

Coroação de Carlos Magno como imperadorFoto: picture-alliance / akg-images

Segundo o biógrafo da corte Eginardo (cerca 780-840), Carlos Magno teria se ajoelhado em atitude devocional diante do altar e, por trás, o papa Leão 3° lhe colocou a coroa de imperador romano. O rei franco estaria aparentemente surpreso com a coroação – pelo menos foi essa a ideia que seu biógrafo nos tentou passar. Talvez Carlos Magno tivesse, no entanto, especulado com a ideia de se tornar imperador, já que, afinal de contas, o Papa dependia de uma ajuda secular, que, na Europa, somente o rei dos francos estaria em condições de garantir.

A coroa mal havia sido colocada na cabeça de Carlos Magno, quando o Papa se ajoelhou e untou os pés do imperador. Nesse exato momento, os clérigos começaram a recitar a litania da coroação e os cidadãos de Roma a aplaudir fortemente. Com essa cerimônia, o rei dos francos tornou-se imperador romano. A região central de seu imenso império englobaria aqueles países que 1.150 anos mais tarde viriam a fundar a Comunidade Econômica Europeia: França, Alemanha, Itália e Estados do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo).

Base do florescimento cultural da França

Trono de Carlos Magno na catedral de AachenFoto: Domkapitel Aachen, Foto: Arnold

Imediatamente após a coroação, Carlos Magno introduziu uma moeda, uma escrita e um sistema de pesos e medidas comuns na França. Em Aachen (Aix-la-Chapelle, em francês), o que sobrou de suas construções dá ideia de como aquela cidade deveria se tornar uma "segunda Roma". Carlos Magno não foi somente o grande comandante que cristianizou e modernizou a Europa, mas também impulsionou as ciências. Ele reuniu em torno de si os mais importantes acadêmicos da época e os incumbiu de compilar todo o saber em curso até então, estabelecendo a base do florescimento cultural da França.

Esta "revolução cultural" esteve intimamente ligada ao mestre Alcuíno (735 – 804), um erudito britânico, com quem Carlos Magno já se encontrara em Parma, em 781. Na Escola Palaciana de Aachen, Alcuíno estabeleceu uma biblioteca com trabalhos de autores da Antiguidade. Tais obras foram copiadas em letra "minúscula carolíngia" e arquivadas.

A arquitetura da era carolíngia também se inspirou na Antiguidade. A Capela Palatina de Aachen deveria remeter à "pequena Basílica de Santa Sofia", a igreja de São Sérgio e São Baco, em Constantinopla (atual Istambul). Outras edificações oficiais de sua residência imperial em Aachen eram cópias de construções romanas.

Legado da Antiguidade salvo para a Idade Média

Relíquia de Carlos Magno envolta em pergaminhoFoto: dpa

Esse "Renascimento carolíngio" é de fenomenal importância, pois foi através dele que a França tornou-se um elo de ligação entre a Antiguidade e a Europa da Idade Média. A partir daí, a "modernidade medieval" ficou definitivamente influenciada pelas ideias dos mestres da Antiguidade, pela arquitetura romana anterior a Cristo e pelas concepções religiosas de Roma e Constantinopla.

Através dessa interligação da Antiguidade com a Idade Média, Carlos Magno se colocou no mesmo patamar que os grandes heróis. O resgate do legado da Antiguidade foi um processo consciente, porque os acadêmicos partiam da ideia de uma continuidade linear na cultura e na política. Como sua própria cultura era constituída a partir da anterior, era coerente preservar-se o máximo possível das culturas antigas.

Carlos Magno também estava convencido da teoria dos "quatro reinos", após cuja queda pairava a ameaça do fim do mundo. Com a transmissão do título imperial ao rei dos francos, o imperador e o império romanos eram mantidos em vida. Com esse translatio imperii, o final do mundo era (novamente) evitado.

Em termos de concepção política, havia lógica na manutenção e apropriação parcial da cultura, arquitetura, direito, literatura e ciência romanas. Assim, o saber da Antiguidade pôde chegar à Europa medieval. Tudo o que o mundo moderno hoje sabe da Antiguidade deve-se a esse "Renascimento carolíngio", que salvou a herança cultural dos antigos de ser perdida para sempre.

Autor: Matthias von Hellfeld
Revisão: Augusto Valente

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