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Coronavírus afasta visitantes da Chinatown de Nova York

Daniel Rottländer de Nova York
26 de fevereiro de 2020

Queda no número de turistas chineses e medo da nova doença fazem restaurantes e lojas do bairro de Manhattan ficar às moscas, e comerciantes temem ter de fechar as portas. Uma campanha tenta trazer visitantes de volta.

O restaurante Bo Ky, em Chinatown, perdeu parte da receita em janeiro
O restaurante Bo Ky, em Chinatown, perdeu parte da receita em janeiroFoto: DW/D. Rottländer

Na verdade, tudo parece estar como de costume: o restaurante "Bo Ky", localizado no coração da Chinatown, em Manhattan, está bem cheio nesta manhã. Mulheres com vestidos e homens de terno pedem frutos do mar frescos, música asiática toca nos alto-falantes, e o tradicional boneco do Gato da Boa Sorte acena para os clientes num canto do estabelecimento.

Na entrada, o proprietário, Han Lo, cumprimenta cada cliente pessoalmente. "Nós temos sorte de estar no coração da Chinatown", afirma. Para o almoço, muitos empresários da vizinhança vão ao seu restaurante. "Isso atualmente nos mantém funcionando."

Desde o início do atual surto de coronavírus, o faturamento na Chinatown caiu cerca de 40%, afirma Wellington Chan, da organização Chinatown Business Improvement District (BID), formada por proprietários de imóveis e estabelecimentos comerciais no bairro. Algumas lojas enfrentam uma perda de até 80% nas vendas. 

"Já há lojas que temem ter que fechar, se o número de visitantes não normalizar em breve", conta Chan.

Especialmente à noite, o bairro animado se transformou num deserto. "Eu posso fechar meu restaurante depois das 19 horas", conta Lo. Até o momento, não houve um único caso confirmado do novo coronavírus em Nova York. Portanto, o risco em Chinatown não é maior do que em outras partes da cidade.

No entanto, depois do anoitecer, muitas ruas da Chinatown estão vazias, e várias lojas estão fechadas. Mesmo nos bairros vizinhos, como o Little Italy, de influência italiana, a situação não é diferente à noite: espetáculos da Broadway, hotéis e ônibus turísticos veem seu faturamento cair.

O motivo é a falta de turistas da China. "Estatisticamente, os turistas chineses ficam mais tempo e gastam mais dinheiro", explica Chan. Em média, cada visitante da China gastou 7 mil dólares por viagem no ano passado, diz.

Segundo a Divisão de Turismo de Nova York, cerca de 1 milhão de turistas chineses visitam a cidade a cada ano. Isso resulta num faturamento de 7 bilhões de dólares.

Desde a eclosão do surto do novo coronavírus na China, o número de turistas chineses diminuiu em mais da metade. "Você pode calcular as perdas para restaurantes e lojas", diz Chan.

Chinatown, em Manhattan, perdeu turistas chineses por causa do surto de coronavírusFoto: picture-alliance/F.Dünzl

A queda no volume de negócios foi particularmente notável nas primeiras semanas do ano, frisa Han Lo. O Ano Novo chinês é o maior feriado da região. "Este ano, o número de visitantes foi absolutamente decepcionante", diz. O tradicional desfile de Manhattan para a data recebeu o menor número de visitantes em décadas.

Em Miami, as celebrações do Ano Novo Chinês tiveram que ser completamente canceladas devido ao surto do coronavírus. "Como resultado, grande parte de nossa receita de janeiro foi perdida", diz Lo.

Com a campanha "Show some love to Chinatown" (Mostre um pouco de amor à Chinatown, em tradução livre), a BID está tentando recuperar os visitantes em cooperação com a cidade de Nova York. Com as hashtags #DineInChinatown (#JanteEmChinatown) e #ShopInChinatown (#FaçaComprasEmChinatown), tanto cidadãos como turistas são encorajados a compartilhar suas experiências no bairro nas redes sociais.

"Nós queremos que as pessoas mostrem o que o nosso bairro tem a oferecer", explica Chan. "Além disso, todos os consumidores têm a oportunidade de ganhar prêmios num sorteio que organizamos especialmente para esta campanha."

Desde 14 de fevereiro, basta fazer uma refeição na Chinatown ou comprar numa loja da região e mostrar o recibo na sede do BID para participar do sorteio.

"Os comerciantes da Chinatown foram muito generosos ao doar os prêmios", relata a vereadora Margaret Chin. Há várias opções, desde refeições grátis a joias e até um iPhone X.

Chin elogia a coesão dos nova-iorquinos. "Meus colegas de outras partes da cidade também apoiam a campanha", conta.

Por exemplo, muitos políticos locais almoçaram recentemente na Chinatown como um sinal de apoio e para afastar o medo. "Nós esperamos que imagens como essas ajudem a impulsionar a campanha", sublinha Chin.

Han Lo também espera que a campanha faça sucesso. "Já vemos uma ligeira tendência positiva", observa o dono de restaurante. "Mas é claro que esperamos que mais pessoas encontrem o caminho de volta para Chinatown."

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