Coronavírus atinge em cheio a indústria da aviação
Andreas Spaeth ll
3 de março de 2020
O surto de Covid-19 já afeta companhias aéreas internacionais de maneiras sem precedentes. Com voos sendo cancelados e turistas ficando em casa, setor da aviação pode ter seu pior ano desde a crise financeira de 2008.
O surto de Sars há 17 anos afetou 30% das frotas globais e cancelou 45% de todos os voosFoto: picture-alliance/ dpa
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O novo coronavírus está forçando companhias aéreas internacionais a fazer planos de contingência de alto custo para conter a propagação do vírus, afetando ainda mais um setor que já vinha sofrendo com a queda do número de passageiros. Há algumas semanas, as companhias ainda nutriam esperanças de que o surto pudesse ser contido na China. Agora, fala-se da maior crise desde a de 2008.
Na segunda-feira (02/03), a alemã Lufthansa, por exemplo, divulgou uma série de cortes em sua programação de voos, incluindo a extensão de sua proibição total de voos para a China até 24 de abril, e para o Irã até 30 de abril, além da redução de 40% nas viagens para a Itália. Estima-se que os cortes subsequentes no cronograma de curto e médio prazos reduzirão as ofertas da Lufthansa em até 25%.
Até recentemente, era impensável que a maior companhia aérea alemã reduziria o número de seus voos domésticos na Alemanha. Mas agora um total de 23 aviões da frota de 760 aeronaves da Lufthansa estão parados.
As últimas previsões que medem o impacto do coronavírus no tráfego aéreo global são de uma semana atrás, o que significa que ficam desatualizadas a medida que o vírus se espalha rapidamente pelo planeta.
Numa primeira avaliação divulgada em 20 de fevereiro, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) esperava que o coronavírus afetasse principalmente as companhias aéreas com fortes negócios na China.
A previsão da Iata – com base num cenário de que a potência asiática continuaria sendo o epicentro do surto – era de uma queda mundial no número de passageiros de 4,8% em 2020, o que já seria uma desaceleração substancial em relação ao crescimento de 4,1% previsto anteriormente.
"Isso constitui o primeiro declínio global desde a crise financeira de 2008/2009 e reduzirá a receita das companhias aéreas num total de 29,3 bilhões de dólares", afirmou a associação em fevereiro.
Dentro do setor, as comparações mais frequentes são com a epidemia de Sars em 2003, que se restringiu à região Ásia-Pacífico. Na época, as companhias sofreram um declínio de 5,3% no número de passageiros durante um período de seis meses, mas se recuperaram rapidamente.
"Esta é a pior crise desde a Sars e até mesmo desde os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos", disse o especialista em aviação Brian Sumers, em entrevista recente à revista de aviação Skift. "As pessoas simplesmente não querem mais voar e preferem ficar em casa para esperar e ver [o que vai acontecer]. Uma cultura de 'medo' está evoluindo."
De fato, o 11 de setembro gerou prejuízos enormes especialmente para as companhias aéreas americanas, levando inclusive a falências. Na Europa, ícones como Swissair e Sabena foram vítimas de perdas maciças.
Enquanto Sumers acredita que as empresas estão em condições melhores atualmente e serão menos afetadas pelo surto de coronavírus, alegações de que desta vez será diferente podem ser prematuras.
A Cathay Pacific, transportadora de Hong Kong, já sofreu grandes perdas em razão dos protestos pró-democracia na ex-colônia britânica. Agora, enfrenta outro golpe ao ter que manter em solo 120 dos 200 aviões de sua frota.
Com três quartos de seus voos cancelados, a Cathay Pacific dispensou temporariamente 27 mil funcionáriosFoto: picture alliance/dpa/Russian Look
Arno Schnalke, professor de transportes da Universidade de Ciências Aplicadas de Bad Honnef, na Alemanha, também compara a crise atual com o surto de Sars há 17 anos, quando 30% das frotas globais foram afetadas e 45% de todos os voos, cancelados.
"Há uma forte semelhança com os efeitos em 2003, quando no auge da crise o número de passageiros caiu 35%", afirma ele à DW, acrescentando que 2020 pode se tornar o pior ano para as companhias aéreas desde a crise financeira global.
O transporte global de cargas também não deverá ajudar essas empresas, diz Schnalke, embora o transporte de contêineres também seja limitado, abrindo oportunidades de nicho para algumas operadoras.
"Cerca de 50% de todo o frete aéreo é de carga adicional em aviões de passageiros. Portanto, se mais aviões de passageiros forem cancelados, isso também limitará o escopo do negócio de carga", avalia. Um problema adicional para as companhias aéreas, segundo Schnalke, é a disseminação rápida e pouco clara do coronavírus, tornando o planejamento quase impossível.
Para os que precisam viajar de avião, a Iata aconselha que, além de aguardar e ter esperança, os passageiros devem "lavar as mãos com frequência e espirrar no cotovelo ou no lenço de papel", porque "usar uma máscara o tempo todo é insuficiente".
O que você acha de fazer uma viagem de apenas dois minutos – ou 16 horas – num avião? Veja as rotas nacionais e internacionais mais curtas e longas do mundo.
Foto: picture alliance/dpa/T.Scholz
Rota mais curta com um Airbus A380
A Emirates lançou em 1º de dezembro de 2016 o voo mais curto do mundo operado por um Airbus A380. O gigante dos céus voa entre Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e Doha, no Catar, percorrendo a distância de 379 quilômetros em 1 hora e 20 minutos. A configuração da aeronave usada no trajeto é de três classes, sendo 429 assentos na econômica, 76 na business e 14 na primeira classe.
Foto: picture alliance/dpa/T.Scholz
Rota doméstica regular mais curta
A empresa aérea regional escocesa Loganair opera o voo doméstico mais curto do mundo entre Westray (foto) e Papa Westray, nas Ilhas Orkney, no norte do país. O turboélice Britten Norman Islander, de apenas oito lugares, percorre 2,7 km em dois minutos. Se as condições de vento estiverem ideais, a viagem leva apenas 47 segundos.
Foto: picture-alliance/ANE Edition
Doméstica mais longa sobre território não contínuo
O voo "doméstico" mais longo do mundo é a rota entre Paris e ilha de Reunião, um departamento ultramarino francês localizado entre as ilhas de Madagascar e Maurício, no Oceano Índico. A distância de cerca de 9.300 quilômetros é percorrida em cerca de 11 horas de viagem. As companhias Air France (foto), Corsair e Air Austral oferecem a rota em voos sem paradas a partir da capital francesa.
Foto: picture alliance/dpa/S.Stache
Doméstica mais longa sobre território contínuo
O título fica com o voo entre Moscou e Vladivostok, a maior cidade portuária russa no Pacífico: são 6.990 km (8h25) na ida, e 6.960 km (9h10) na volta. Na segunda colocação, mas não muito longe do primeiro lugar, está o trajeto da capital russa à Petropavlovsk-Kamchatski, no Pacífico: são 6.970 km (8h45) na ida, e 6.930 km (8h45) na volta. Aeroflot (foto) e sua subsidiária Rossiya fazem o trajeto.
Foto: picture alliance/dpa/S.Chirikov
Rota internacional regular mais curta
A companhia aérea austríaca People’s Viennaline lançou no final de 2016 o voo entre o aeroporto de St. Gallen, na Suíça, e Friedrichshafen (foto), no extremo sul da Alemanha. O trajeto, de apenas oito minutos para percorrer os 20 quilômetros de distância, é feito com jatos E170 da fabricante brasileira Embraer para 74 passageiros. O tíquete de ida custa 40 euros (cerca de 140 reais).
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kästle
Rota internacional regular mais longa em tempo
O voo da Emirates entre Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e Auckland (foto), na Nova Zelândia, é atualmente o mais longo do mundo em termos de tempo. O Airbus A380-800 da companhia leva 16h05 no voo de ida e 17h15 no da volta para percorrer os cerca de 14.200 km de distância entre as duas cidades.
Foto: picture-alliance/dpa
Rota internacional regular mais longa em distância
Uma mudança no trajeto de ida entre Nova Délhi e São Francisco, nos EUA, deu o título à Air India (foto). Antes, a rota passava sobre o Atlântico e, agora, é feita sobre o Pacífico. Apesar de o percurso ter ficado 1,4 mil km mais longo (chegando a 15,3 mil km), ele ficou até duas horas mais rápido, já que o Boeing 777-200 aproveita os fortes ventos de cauda e leva 15 horas na ida e 16h15 na volta.
Foto: picture-alliance/AP Photo
E a disputa pelo voo mais longo continua...
A Air India, porém, não deverá segurar por muito tempo o título de voo mais longo em distância. A Singapore Airlines se prepara para relançar em 2018 seu voo entre Cingapura e Nova York (foto), nos EUA. Ele será o mais longo em tempo e distância: o Airbus A350 da empresa irá percorrer os 16,5 mil km em 19 horas.
Foto: picture alliance / empics
Avianca Brasil
O voo doméstico mais curto da empresa, e também o mais rápido, é de Goiânia/GO para Brasília/DF: são percorridos 163 km em 45 minutos. Já o mais longo é de Guarulhos, em São Paulo, para Fortaleza/CE: 2.337 quilômetros em 3h32. Já o voo mais longo, e também o mais demorado, é da capital cearense para Bogotá, na Colômbia: 4.069 quilômetros em 5h50 de viagem.
Foto: Divulgação/Avianca Brasil
Azul
A rota de Recife/PE a João Pessoa/PB é a mais curta: o turboélice ATR-72 percorre 109 km em 44 minutos. O mais longo é de Campinas/SP a Manaus/AM: 2.620 km em quase 4 horas com um Embraer E195. Para o exterior, o mais longo é de Campinas para Lisboa, em Portugal, com 9.025 km em 10h10 com o Airbus A330 (foto). O mais curto é de Porto Alegre/RS para Punta del Este, no Uruguai: 653 km em 1h58.
Foto: Divulgação/Azul Linhas Aéreas Brasileiras
GOL
A rota nacional mais curta liga as duas principais cidades da Paraíba: Campina Grande e João Pessoa em 31 minutos (106 km). Já a mais longa é do Galeão, no Rio, a Manaus/AM – são 4h10 (2.840 km). Já nas internacionais, a mais rápida é de Belém/PA para Panamaribo, no Suriname: são 1.062 km em 1h55. A mais longa liga Guarulhos à caribenha Punta Cana, na República Dominicana: são 5.221 km em 7h05.
Foto: GOL Linhas Aéreas Inteligentes
Latam Brasil
O voo doméstico mais longo da empresa liga o Galeão, no Rio, a Manaus/AM; e o mais curto, de Goiânia/GO para Brasília/DF. São, respectivamente, 4h02 (2.847 km) e 38 minutos (163 km). Já o internacional mais longo é de Guarulhos, em São Paulo, para Frankfurt, na Alemanha: são 9.799 km em 11h50. Já o mais curto é de Assunção, no Paraguai, para Guarulhos: 1.137 km em 2 horas de viagem.