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Coronavírus expõe vulnerabilidade de idosos na Europa

24 de março de 2020

Militares espanhóis encontraram idosos abandonados ou mortos em casas de repouso, e procurador-geral anuncia investigação. Alemanha teme lacuna na assistência doméstica a milhares de pessoas.

Casa de repouso Trabensol, na Espanha
Casa de repouso Trabensol, na EspanhaFoto: Guy Hedgecoe

Soldados espanhóis convocados para ajudar a combater a disseminação do coronavírus Sars-Cov-2 encontraram pacientes idosos abandonados e até mortos em casas de repouso do país.

O Exército espanhol foi incumbido de ajudar a desinfetar casas de repouso num dos países mais afetados pela pandemia do coronavírus. Dezenas de mortes decorrentes da doença respiratória covid-19, causada pelo vírus, foram relatadas em instituições do tipo em toda a Espanha.

Segundo a ministra da Defesa, Margarita Robles, as autoridades tomarão medidas severas e inflexíveis na gestão desse tipo de tratamento relativo a pessoas de idade nas residências de repouso. "Em algumas visitas, o Exército encontrou alguns idosos completamente abandonados, às vezes até mortos em suas camas", descreveu Robles, em entrevista à rede televisiva privada Telecinco.

O procurador-geral da República anunciou que uma investigação foi iniciada para apurar os abandonos. O ministério espanhol da Saúde relatou nesta segunda-feira (23/03) que mais de 2 mil pessoas morreram no país em decorrência de infecções com o coronavírus. Houve 462 mortes em 24 horas, disse o órgão.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta em sua contagem diária que a Espanha tem pouco mais de 28.500 casos confirmados, além de 1.720 mortes. A Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que atualiza os números a cada hora, lista mais de 35.600 casos e quase de 2.700 mortes, colocando a Espanha em terceiro lugar no número de falecimentos devido ao coronavírus no mundo, atrás de Itália e China. A Espanha é quarto país com maior número de infectados.

O ringue de patinação dentro do shopping center Palacio de Hielo (Palácio de Gelo) na capital, Madri, foi transformado num necrotério temporário para lidar com o aumento de mortes na cidade, segundo porta-voz da prefeitura. Mais cedo, a prefeitura divulgou que os 14 cemitérios públicos da cidade não aceitariam mais corpos, porque os funcionários não têm equipamento de proteção adequado.

"[O necrotério no ringue de patinação] É uma medida temporária e excepcional que visa diminuir a dor dos familiares das vítimas e aliviar a situação enfrentada por hospitais em Madri", informou o governo regional da capital.

Um centro de eventos na cidade também foi transformado num hospital para pacientes de covid-19. O local terá 5.500 leitos disponíveis.

Seguindo protocolos para o coronavírus, funcionários do setor de saúde foram instruídos a não mover corpos em caso de suspeita de morte por infecção com o Sars-Cov-2.

Idosos fazem parte de um dos maiores grupos de risco no âmbito da pandemia do coronavírus. Autoridades em todo o mundo vêm fazendo apelos para impor medidas severas de contenção da propagação do vírus, para proteger a população mais vulnerável.

A Itália tem a segunda população mais velha do mundo depois do Japão e é o país onde ocorreram mais mortes em decorrência do coronavírus no planeta: foram mais de 6 mil até agora, segundo mapeamento da Universidade Johns Hopkins. A Itália ultrapassou a China em número de mortes, embora o país asiático ainda detenha o recorde do maior número de casos confirmados das infecções pelo Sars-Cov-2.

Alemanha teme falta de profissionais

Na Alemanha, crescem os temores de falta de funcionários para tratar de pessoas idosas em casas de repousos, em casa e em hospitais. Segundo apurou o programa ARD-Magazin Report Mainz, da rede pública de TV ARD, a Associação de Assistência Domiciliar e Cuidados (VHBP, na sigla em alemão) teme que haverá emergência no setor de cuidados no curto prazo, já que profissionais da área estão voltando aos países de origem, no Leste Europeu, por temores relativos ao coronavírus.

"Calculamos que, a partir da Páscoa (12 de abril), entre 100 mil e 200 mil pessoas passarão a não ter mais cuidados regulares. Provavelmente, elas ficarão sozinhas em casa e terão de ser assistidas em casas de repouso ou hospitais", afirma o diretor da Associação, Frederic Seebohm, que alerta para um congestionamento das instituições com mais pacientes sendo direcionados para elas.

"Os hospitais não podem acolher essas pessoas porque precisam das vagas para os doentes. As casas de repouso estão cheias. Isso quer dizer que não é possível acolher milhares de pessoas adicionais que precisam de cuidados e que são assistidas por agências em casa", diz o pesquisador Michael Isfort, do Instituto Alemão de Pesquisas sobre Cuidados Assistenciais.

Atualmente, cerca de 300 mil pessoas oriundas do Leste Europeu trabalham na área de cuidados assistenciais na Alemanha. De acordo com a rede ARD, 90% dessas pessoas não têm a situação de trabalho legalizada, o que equivale a cerca de 270 mil trabalhadores.

Para Isfort, não importa se essas pessoas trabalham de forma ilegal ou não, "elas sempre foram relevantes para o sistema no país". De acordo com o pesquisador, esses cuidadores estabilizam o sistema de assistência no país.

RK/afp/ots

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