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Coronavírus reforça tendência anti-imigração na UE

Marina Strauss ca
29 de março de 2020

Pandemia de covid-19 está alimentando uma política que muitos países do bloco europeu já estão adotando de qualquer forma, preferindo que os refugiados permaneçam fora das fronteiras da União Europeia.

Migranten an der türkisch-griechischen Grenze
Migrantes a caminho da fronteira greco-turcaFoto: picture-alliance/AP Photo/E. Gurel

Eles dizem ter recebido água, mantimentos e combustível, mas nenhum local para desembarcar. Alguns dias atrás, as forças de segurança cipriotas ordenaram que um navio com cerca de 100 migrantes a bordo zarpasse novamente da ilha. O motivo: a atual pandemia de coronavírus. A Itália está caminhando em direção semelhante. O ministro das Relações Exteriores italiano, Luigi di Maio, disse após videoconferência com colegas da União Europeia (UE), no início desta semana, que seu país não estava disposto a abrir "seus próprios portos" para refugiados resgatados. Segundo o ministro, a Itália já está sobrecarregada pela crise do coronavírus.

Foi precisamente devido a essa crise que a UE decidiu fechar temporariamente suas fronteiras externas para cidadãos que não pertencem a países do bloco. Mesmo assim, requerentes de refúgio ainda poderiam entrar após extensos exames de saúde ‒ teoricamente, pelo menos. Os exemplos acima mostram que a realidade é diferente. Mas não apenas desde que o coronavírus se espalhou na Europa.

Coronavírus reforça tendência

Florian Trauner, pesquisador de movimentos migratórios do Instituto de Política Europeia da Universidade Livre de Bruxelas, diz que a atual crise está intensificando uma tendência que vem surgindo há "alguns meses, senão anos".

"A situação está se tornando cada vez mais difícil para pessoas que querem pedir asilo na Europa. Os obstáculos estão aumentando", disse Trauner. Segundo o especialista, o coronavírus oferece aos políticos de diferentes países um argumento forte para tornar ainda mais difícil, se não impossível, a entrada de migrantes e refugiados na Europa.

Antes da crise do coronavírus, havia para pessoas vulneráveis a possibilidade de encontrar refúgio na Europa através de programas de reassentamento. Segundo a ONU, isso inclui refugiados que não podem retornar ao seu país de origem nem permanecer no país para onde fugiram. No entanto, como a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) suspenderam temporariamente esses

programas devido à pandemia da covid-19, mesmo os mais fracos, as mais vulneráveis entre as famílias, estão tendo que esperar nos portões da Europa.

 

"Guerras e perseguições não terminaram"

Mesmo que a vida de muitas pessoas tenha mudado de forma tal que não se pode imaginar: "Guerras e perseguições não terminaram", disse Filippo Grandi recentemente. O alto comissário da ONU para refugiados disse que está cada vez mais preocupado com as medidas de alguns países que podem prejudicar o direito de requerer refúgio.

Na Grécia, por exemplo, esse já era o caso mesmo antes do novo coronavírus. Depois que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou aberta a fronteira greco-turca no final de fevereiro, milhares de pessoas seguiram para lá. Com canhões de água, bombas de fumaça e gás lacrimogêneo, as forças de segurança gregas as impediram de entrar na UE. Aquelas que mesmo assim o fizeram não podem requerer refúgio na Grécia porque o governo suspendeu esse direito por 30 dias.

A situação dos requerentes de refúgio em outros países da UE também não é nada animadora: devido à pandemia de covid-19, na Bélgica, França e Holanda, por exemplo, os governos fecharam escritórios que normalmente tratavam de pedidos de refúgio, afirma Judith Sunderland, vice-diretora da ONG de direitos humanos Human Rights Watch na Europa e Ásia Central.

Segundo Sunderland, para refugiados e migrantes que já estão na Europa, é muito difícil conseguir assistência médica, observando que muitos estão vivendo em centros de acolhimento superlotados. "Tudo isso aumenta muito o risco de ser infectado pelo vírus."

Crianças refugiadas após sua chegada à ilha de LesbosFoto: Reuters/C. Baltas

A ativista explica que a situação é particularmente crítica nos campos de refugiados nas ilhas gregas. Sunderland não é a única a ver um possível epicentro para propagação do coronavírus nesses campos. As organizações de ajuda humanitária e o comitê para assuntos internos do Parlamento Europeu estão exigindo que mais de 40 mil migrantes e requerentes de refúgio dos campos de Lesbos, Samos, Kos, Leros e Chios sejam levados para o continente antes que ocorra um desastre.

De fato, vários países da UE, incluindo a Alemanha, já haviam concordado em aceitar pelo menos 1.500 menores não acompanhados. Como a Comissão Europeia anunciou na semana passada, a ação será adiada devido à pandemia de covid-19.

Em conversa com a DW, Jean Asselborn, ministro das Relações Exteriores do Luxemburgo, explicou que o motivo para esse adiamento seria o possível perigo de que as crianças pudessem infectar outras pessoas ou que elas próprias viessem a adoecer. Essa explicação não é suficiente para os críticos. ONGs como a Pro Asyl exigem que os países da UE aceitem refugiados, particularmente aqueles mais afetados, precisamente devido à atual crise.

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