Coronavac é menos eficaz contra variante gama, mostra estudo
9 de julho de 2021
Vacina protege contra hospitalizações e mortes, mas anticorpos gerados têm maior dificuldade para neutralizar variante gama, que continuaria circulando entre vacinados.
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Os anticorpos produzidos pela vacina Coronavac são menos eficazes para neutralizar a variante gama (identificada pela primeira vez em Manaus) do que o coronavírus Sars-Cov-2 original, afirmou um estudo sob liderança do microbiologista José Módena, da Unicamp, e publicado nesta quinta-feira (08/07) na revista The Lancet Microbe.
A variante gama pode, assim, circular entre pessoas vacinadas com a Coronavac, inclusive onde a taxa de vacinação é elevada, advertem os cientistas responsáveis.
Eles ressalvam, porém, que sua conclusão não significa que a Coronavac não proteja os vacinados, mas comprova que a variante gama tem uma elevada capacidade de contágio mesmo entre imunizados. "Em hipótese alguma estamos dizendo que a vacina não funciona", declarou Módena ao jornal O Globo .
Estudos anteriores mostraram que a Coronavac é eficaz para evitar hospitalização e morte. O que o novo estudo reforça é a necessidade de pessoas que já foram vacinadas ou infectadas continuarem usando máscara e mantendo distância dos outros devido à elevada capacidade de contágio da gama mesmo entre vacinados.
Além disso, estudos em outros países já mostraram que outras vacinas também podem ser menos eficazes contra variantes do novo coronavírus.
Outro fator: linfócitos T
Os cientistas fizeram testes de laboratório com o plasma sanguíneo de 53 pessoas que haviam recebido a Coronavac e de 21 pessoas que haviam sido infectadas recentemente.
Os anticorpos produzidos por pessoas que apenas receberam uma dose entre 20 e 23 dias antes e duas doses entre 134 e 260 dias antes não tiveram nenhum efeito detectável sobre a variante gama, afirmaram.
Já os anticorpos dos vacinados com segunda dose entre 17 e 38 dias antes foram eficazes, mas menos do que contra o coronavírus original, que era anteriormente o dominante no Brasil.
Os autores ainda ressalvaram que estudos baseados em anticorpos não levam em consideração um outro aspecto da resposta imune: a imunidade celular (que se deve aos linfócitos T), que também desempenha um papel protetor depois da vacinação.
as/ek (AFP, ots)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine