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Corpos de executados em mostra de anatomia

av19 de janeiro de 2004

Pontualmente com sua reabertura em Frankfurt, 'Mundos dos corpos' provoca outro escândalo. Sua fábrica na China estaria preparando cadáveres de condenados à morte e vítimas da polícia.

Von Hagens (esq.) e uma de suas criaçõesFoto: AP

Após numerosos escândalos pela exploração comercial de cadáveres humanos, o professor de anatomia Gunther von Hagens voltou às manchetes. Segundo a revista Der Spiegel, o superstar da "arte anatômica" manteria praticamente uma fábrica em Dalian, no noroeste da China, voltada para a preparação em larga escala de cadáveres com fins de venda e exibição. Alguns deles seriam de vítimas executadas pelo regime.

Segundo relata a revista alemã, um inventário em 12 de novembro de 2003 na firma chinesa registrou 647 corpos. Dois deles apresentavam um orifício de bala na cabeça, prova de que nem todos provêm de doações ou de instituições médicas, como sempre fez questão de afirmar Von Hagens. Um outro indício neste sentido seria um corte em cruz no abdômen: na China é prática comum retirar todos os órgãos dos que foram condenados à morte, para seu aproveitamento em transplantes.

Além dos cadáveres completos, complementa Der Spiegel, a Von Hagens Plastination Ltd. possuiria ainda 3909 partes de corpos, como braços, pernas ou pênis, além de 182 fetos, embriões e recém-nascidos, catalogados segundo número de série, tamanho, idade e sexo.

O último a saber

Von Hagens declarou-se "horrorizado" com as notícias sobre a utilização de executados. Ele admitiu que, durante uma onda de "limpeza", por parte da polícia de Dalian, dois corpos teriam sido entregues em sua fábrica, portando sinais de execução. Contudo, o ex-funcionário da Universidade de Heidelberg assegurou que os responsáveis pela aquisição foram demitidos.

Cavaleiro e cavalo, em 'Mundos dos Corpos'Foto: presse

Entre os empreendimentos mais bem-sucedidos de Von Hagens está a exposição Körperwelten (Mundos dos corpos), povoada por cadáveres conservados pelo processo de plastinação e encenados em poses mais ou menos artísticas. Após temporada em Hamburgo, Körperwelten reabriu na quinta-feira (15), em Frankfurt.

Conforme sua organizadora, Angelina Whalley, Von Hagens está em Londres e se posicionará pessoalmente sobre a matéria do Spiegel ao retornar, na terça-feira (20).

Lucro para os vivos

Paralelamente a suas exposições, o ex-docente mantém "um negócio internacional lucrativo com material didático anatômico". O Spiegel segue descrevendo as condições de trabalho em Dalian: cerca de 170 operários chineses preparam os cadáveres "em regime rígido", como numa linha de montagem, esfolando os corpos embebidos de formol e bombeando plástico em suas veias. A macabra matéria-prima provém da China, Rússia e Quirguistão. Von Hagens possui oficinas também em Heidelberg e na capital quirguiz, Bishkek.

A Körperwelten corre mundo desde 1996. Ela é considerada uma das mais freqüentadas exposições da atualidade, já havendo sido vista por mais de 13 milhões de pessoas. As 200 peças expostas vão de simples órgãos a corpos humanos completos.

Entre os escândalos ligados a este comércio com corpos humanos esteve a acusação contra o diretor do Instituto de Medicina Legal de Novosibirsk, na Rússia. O processo em torno de um suposto transporte de corpos para a Alemanha terminou em novembro com sua absolvição. Agora, cientistas de Bishkek estão sendo acusados de haver fornecido 488 cadáveres para a Alemanha. Gunther von Hagens nega qualquer "participação russa" em Körperwelten.

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