Corpos exumados na Ucrânia apresentam sinais de tortura
17 de setembro de 2022
Após contraofensiva ucraniana que retomou territórios na região de Kharkiv, mais de 400 sepulturas foram encontradas em floresta de Izium. Presidente Volodimir Zelenski disse que há indícios de crimes de guerra.
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As análises iniciais dos corpos exumados na cidade de Izium, no nordeste da Ucrânia, nesta sexta-feira (16/09), indicam evidências de tortura e crimes de guerra cometidos pelas tropas russas durante a ocupação do território, informou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Em uma floresta de Izium, nas proximidades de Kharkiv,foram descobertas uma vala comum com corpos de 17 soldados ucranianos e pelo menos outras 443 sepulturas improvisadas - a maioria de civis.
"Já existem evidências claras de tortura, tratamento humilhante de pessoas. Além disso, há evidências de que soldados russos, cujas posições não estavam longe deste lugar, atiraram nos enterrados apenas por diversão", disse Zelenski.
O governador regional, Oleg Sinegubov, relatou que 99% dos corpos exumados nesta sexta-feira apresentavam sinais de morte violenta. "Há provavelmente mais de mil cidadãos ucranianos torturados e mortos em territórios libertados da região de Kharkiv", escreveu nas redes sociais. A área foi retomada em uma contraofensiva ucraniana na semana passada.
"Falando em provas de tortura, posso dizer que este corpo foi encontrado com uma corda no pescoço e vários outros com as mãos amarradas nas costas. Ainda estamos investigando, mas acho que 99% das pessoas morreram de causas não naturais. Tudo será devidamente investigado - mas isso sugere que o mundo precisa reconhecer que está ocorrendo um genocídio do povo da Ucrânia”, disse Sinegubov.
Dez equipes de investigação foram enviadas ao local, que está sendo vigiado por policiais e soldados. Um cheiro pungente de cadáveres paira no ar e muitos usam máscaras sobre a boca.
Um morador da cidade, Sergei, se dirigiu ao local. "Eu sabia que era aqui em algum lugar na floresta e estou aqui pela primeira vez desde a libertação. Acho que meu vizinho do terceiro andar e sua família estão aqui - sete pessoas", lamentou Sergei.
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Mortes entre março e maio
As pessoas enterradas na floresta de Izium foram mortas entre março e maio, principalmente por bombardeios russos e fogo de artilharia, diz o investigador-chefe da polícia da região de Kharkiv, Sergey Bolvinov.
Durante a ocupação russa, moradores de Izium enterraram os mortos junto com agentes funerários locais, segundo informações da Procuradoria-Geral, sob pressão dos ocupantes. Esses moradores são testemunhas importantes e listaram meticulosamente muitos dados sobre os mortos em um caderno.
"As pessoas criaram este diário e aqui podemos ver o nome da família e a data do enterro. Há também um número nas cruzes de madeira das sepulturas, mas nem sempre o nome. Às vezes também consta 'não identificado'", explica Bolvinov.
Os primeiros resultados oficiais da análise dos corpos exumados devem estar disponíveis em um mês.
Situação comparada a Bucha
Em seu discurso noturno em vídeo na noite desta sexta-feira, Zelenski comparou as supostas atrocidades em Izium com as cometidas na cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, na primavera europeia. Ele também reiterou a exigência de Kiev de que um tribunal internacional seja criado para crimes de guerra na Ucrânia e chamou a Rússia de "estado terrorista".
Outra autoridade ucraniana disse ter encontrado 10 supostos "centros de tortura" na região de Kharkiv. "Vindo para Balakliya ou Izium, vemos um grande número de crimes cometidos contra a população civil", disse o chefe de polícia Ihor Klymenko, em comunicado.
Na cidade de Balakliya, até 40 pessoas teriam sido detidas, humilhadas e torturadas na delegacia de polícia local durante a ocupação russa.
"Houve tortura, vimos vestígios de fios elétricos desencapados nas mãos das pessoas, através dos quais a eletricidade foi enviada durante os interrogatórios", disse Klymenko.
Seis outros locais de tortura foram encontrados em Izium, mas foram completamente destruídos, acrescentou.
ONU enviará equipe ao local
O escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos disse que planeja enviar uma equipe para verificar as alegações.
O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, descreveu os relatos como "horríveis". O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, disse que o bloco está "profundamente chocado" com a descoberta de valas comuns, acrescentando: "Condenamos essas atrocidades nos termos mais fortes possíveis".
O presidente francês, Emmanuel Macron, descreveu a situação como "atrocidades" cometidas em Izium. "Condeno nos termos mais fortes as atrocidades cometidas em Izyum, na Ucrânia, sob ocupação russa", escreveu no Twitter.O presidente da França disse que os responsáveis "terão que responder por seus atos”. "Não há paz sem justiça", afirmou.
le (Lusa, AFP, AP, Reuters, DPA, ots)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.