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Anna Bella Geiger

Felipe Tadeu12 de outubro de 2007

Artista plástica carioca consagrada internacionalmente mostra "Correntes e Marés" em galeria de Frankfurt. E lança livro trilíngüe, organizado por crítico de arte espanhol.

'Europa': a memória do continente na obra de arteFoto: Bernd Slutzky

A Galeria Bernd Slutzky abriu as portas no dia 9 de outubro para exibir uma série de 16 trabalhos da safra mais recente de Anna Bella Geiger, num evento apoiado pelo Centro Cultural Brasileiro em Frankfurt (CCBF), e que se estenderá até 4 de novembro.

Apresentada pelo expositor alemão como "a grande dama das artes brasileiras", a artista plástica carioca aproveitou o ensejo da Feira Internacional do Livro – realizada no pavilhão de exposições Frankfurter Messe, não muito longe da galeria – para também lançar Territórios Passagens Situações. Em luxuosa edição em português, inglês e espanhol, o livro saiu no Brasil sob a tutela da Casa da Palavra.

Já que a Feira do Livro tem em 2007 a Espanha catalã como tema, nada mais oportuno do que lançar durante ela o livro idealizado e organizado pelo espanhol Adolfo Montejo Navas.

Sentidos geologicamente expandidos

Artista vem expondo cada vez mais na AlemanhaFoto: Felipe Tadeu

"A primeira vez que expus na Alemanha foi numa mostra coletiva nos anos 60, mas individualmente isso se deu em 1981, numa exposição em Munique", contou Geiger. "Na Galeria Bernd Lutzky, comecei a expor sistematicamente desde 1995. Hoje, meu contato com a Alemanha é tão intenso quanto com os Estados Unidos [onde estudou e viveu] e a Espanha", afirma.

Ela também já expôs em Berlim e viaja com cada vez mais freqüência a este país europeu, até pelo fato de sua filha, Nina, residir em Frankfurt. Adolfo Montejo Navas, também curador da atual exposição, esteve presente à vernissage, ressaltando em texto distribuído aos visitantes a singularidade da obra da artista.

"Estamos falando de trabalhos que mergulham num outro tipo de visão da cultura artística, com os sentidos expandidos e de forma geológica, lá onde os níveis históricos e os de significado se sobrepõem e se confundem, e onde o presente pesquisa arqueologicamente e o passado é contemporizado."

Peça surrealista

Dentre os trabalhos expostos em Frankfurt pela carioca nascida em 1933, destaca-se um impressionante objeto, tão lindo quanto perturbador. Uma pequena mesa de madeira francesa, cujo tampo está ornado por uma fotografia em preto-e-branco de uma jovem emoldurada por conchas do mar.

Surrealismo que remete a Man RayFoto: Bernd Slutzky

Na parte inferior da mesinha, a morte é sugerida em imagem espelhada da cabeça de uma caveira. A obra é Aprés Man Ray, inspirada no fotógrafo, cineasta e artista plástico norte-americano, gênio surrealista e do dadaísmo.

"Eu a remeti a Man Ray, da foto que ele fez da mulher de cabelos em ondas, porque é a minha idolatria. É a primeira vez que uso uma fotografia dele e não tive coragem de dar outro título a ela, a não ser dizer que o estou citando", revela Geiger, que deu seus primeiros passos profissionais no abstracionismo.

Cartografia imaginária

Anna Bella Geiger é artista que nutre grande interesse pelo uso de mapas e planos cartográficos, uma quase-obsessão que ressurge também em algumas obras de Correntes e Marés, sem resvalar num perigoso simplismo.

"Tenho aqui dois trabalhos que são rolos de pergaminho enrolados com uma folha de chumbo. E, dentro deles, há uma história, uma memória da Europa, que eu chamei com um termo em latim de Júlio César: Europa est divisa in parte tre. Quer dizer, a Europa é dividida em três partes. Eu não digo em quais partes, eu crio uma geografia política, mas poética", afirma ela, que é filha de poloneses que viviam na fronteira com a Alemanha.

Intrigada pelas mudanças cartográficas do mundo no decorrer dos séculos – documentos invariavelmente impregnados do etnocentrismo dos impérios colonizadores – Anna Bella acaba se deparando com novas verdades para a sua arte.

"As relações cartográficas são, claro, ideológicas, mas eu trabalho nelas para encontrar as questões estéticas que tenho que inventar, para falar desses mapas. Não sou geógrafo, nem cartógrafo, não tenho essa intenção, e sei exatamente o que são essas profissões. O meu respeito me levou a pensar no mapa, não como uma coisa bonita, enfeitada – porque ele pode trazer esse produto –, mas sim na verdade, na informação sobre alguma outra coisa", sugere.

"Territórios Passagens Situações"

Livro faz levantamento da carreira da artista

O livro lançado em Frankfurt saiu no Brasil em maio último, com o patrocínio da Petrobrás. "A Eletrobrás também contribuiu porque era preciso um reforço, já que o livro (de 350 páginas) ficou maior do que a medida original."

"Ele traz também uma série de textos de críticos estrangeiros de outras épocas, além de reunir depoimentos de ex-alunos meus, que hoje fazem parte do mundo das artes plásticas contemporâneas no Brasil, um material que permanecia inédito", disse Anna Bella Geiger. Ela lecionou no MAM – Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, e ainda hoje ministra aulas de Arte Filosofia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, também no Rio de Janeiro.

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