Correspondentes da DW conseguem deixar o Afeganistão
10 de setembro de 2021
Após várias tentativas frustradas, dez jornalistas e dezenas de familiares deixam o território afegão em direção à Alemanha, onde serão acolhidos. Grupo inclui única correspondente mulher da DW no Afeganistão.
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Dez correspondentes da DW e suas famílias conseguiram deixar o Afeganistão nesta sexta-feira (10/09), pouco mais de uma semana depois da retirada das forças da coalizão internacional.
Assim que ficou claro que o Talibã assumiria o controle do país, a DW pediu a todos os correspondentes no Afeganistão que se dirigissem a Cabul o mais rápido possível, já que a situação dos jornalistas se tornara cada vez mais perigosa.
Assim, a DW decidiu retirar os correspondentes de forma centralizada a partir do aeroporto da capital afegã, já que, na época, essa parecia ser a melhor opção. Os jornalistas e suas famílias esperaram por vários dias do lado de fora do aeroporto, mas, por diferentes motivos e após várias tentativas frustradas, a retirada por via aérea não foi possível.
A DW explorou então todas as opções para retirar o grupo do país por outra rota. A situação de segurança no Afeganistão, especialmente nas passagens de fronteira com os países vizinhos, era muito difícil de avaliar. Além disso, a situação mudava quase diariamente.
Nesta sexta-feira, porém, os dez jornalistas – nove homens e a única mulher correspondente da DW no Afeganistão – e seus familiares finalmente conseguiram deixar o país através do Paquistão.
Diretor da DW agradece ajuda
O diretor-geral da Deutsche Welle, Peter Limbourg, expressou sua gratidão a todos aqueles que ajudaram a retirar os correspondentes e suas famílias do Afeganistão. "Gostaria de agradecer ao governo alemão, ao ministro do Exterior, bem como à embaixada da Alemanha no Paquistão e a muitos atores políticos, sem os quais esta retirada não teria sido possível", disse, em nota.
"Também apreciamos muito o forte compromisso do governo do Catar, que fez um enorme esforço em nome de nossos colegas", acrescentou Limbourg. "Um agradecimento especial às autoridades de Islamabad, que concederam permissão para a retirada de nossos funcionários e suas famílias através do Paquistão por motivos humanitários. Este apoio em uma emergência aguda foi crucial."
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Primeiro passo da viagem à Alemanha
Para os correspondentes, este é o primeiro passo da viagem à Alemanha. Eles são aguardados na cidade de Bonn, que abriga sede da DW, onde serão devidamente acomodados e fortalecerão a equipe editorial com suas reportagens sobre o Afeganistão.
Com a retirada desse grupo de 72 pessoas, a DW atingiu um primeiro objetivo. Mas ainda ficaram no país familiares de funcionários afegãos da DW baseados na Alemanha, que também esperam para deixar o Afeganistão. A DW negocia com as autoridades, tanto na Alemanha quanto no exterior, a retirada dessas pessoas.
O mesmo se aplica a dois correspondentes da DW e suas famílias que retornaram temporariamente às suas cidades natais depois de semanas de espera em Cabul. Eles também serão retirados do Afeganistão numa próxima tentantiva.
fc/ek (DW)
O impacto destruidor da militância islâmica no Paquistão
Baswaliha, uma viúva paquistanesa de 55 anos que mora próximo à fronteira com o Afeganistão, perdeu o marido e um filho nas mãos de militantes. Hoje ela vive com o medo do retorno do Talibã.
Foto: Saba Rehman/DW
Uma vida difícil
A vida é difícil para as mulheres das tribos do Paquistão, e a da viúva Baswaliha, de 55 anos, se tornou ainda mais dolorosa após perder o filho em 2009 e o marido em 2010 – ambos em ataques terroristas. Baswaliha vive em Galanai, cidade do distrito tribal de Mohmand, na fronteira com o Afeganistão. A área foi duramente atingida pelos talibãs após a invasão americana de 2001.
Foto: Saba Rehman/DW
Ataques de todos os lados
O filho mais velho de Baswaliha, Imran Khan, foi morto aos 23 anos por um "comitê de paz" local. À DW, Baswaliha contou que o grupo anti-Talibã matou seu filho por suspeitar que ele ajudasse os terroristas. As operações militares do país trouxeram paz relativa à área, mas a deterioração da situação no Afeganistão em meio à retirada das tropas da Otan aumenta o temor do retorno dos talibãs.
Foto: dapd
Ironia cruel do destino
Abdul Ghufran, marido de Baswaliha, morreu apenas um ano depois, quando dois homens-bomba atacaram um prédio do governo em 6 de dezembro de 2010, onde seu marido fora para receber uma indenização pelo filho assassinado. Dezenas perderam a vida no ataque. Ela conta que a vida de uma mulher sem marido ou outro homem adulto é cheia de riscos e perigos nas áreas tribais.
Foto: Getty Images/AFP/A. Majeed
Esperança, apesar de tudo
Baswaliha luta para sobreviver. Sua aldeia carece de serviços básicos, como gás, eletricidade contínua e internet. Após a morte do filho e do marido, porém, ela não perdeu as esperanças. Mas também não quer viver da ajuda do governo, de 10 mil rúpias por mês (cerca de R$ 320), que foi suspensa em 2014.
Foto: Saba Rehman/DW
Costurar e vender
Ela deseja que seus outros filhos tenham uma educação adequada. "Não foi fácil. A certa altura, cheguei a pensar que minha vida era inútil e que não poderia sobreviver nesta sociedade." As mulheres não podem sequer frequentar sozinhas o mercado local no distrito de Mohmand. Costurar é uma das principais fontes de renda para Baswaliha, que cobra de 150 a 200 rúpias por uma túnica feminina.
Foto: Saba Rehman/DW
Acompanhamento masculino obrigatório
"Após a morte do meu marido, eu costumava fazer pães e minhas filhas pequenas iam vendê-los aos moradores locais na estrada principal. Depois, minhas filhas cresceram, e 'andar por aí' é mal visto na nossa região. Foi quando comecei a fazer colchas e cobertores para vender." Mas um integrante masculino da tribo, independente da idade, sempre deve acompanhá-la ao mercado.
Foto: Saba Rehman/DW
Mais violência pela frente?
Milhares de famílias das áreas tribais do norte e noroeste do Paquistão já foram vítimas de violência extremista. Abdur Razaq, cunhado de Baswaliha, diz ainda se lembrar do dia em que seu irmão morreu no atentado do Talibã. Ele espera que os territórios não voltem a mergulhar em turbulência e violência.