Mulheres eram enviadas à força para bordeis nas linhas de combate japonesas. Debate sobre indenizações de guerra tensiona a relação entre os vizinhos asiáticos.
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Um tribunal da Coreia do Sul determinou nesta sexta-feira (08/01) que o Japão pague indenizações a 12 mulheres sul-coreanas que foram forçadas a trabalhar como escravas sexuais para militares japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, em uma decisão histórica que deve reacender animosidades entres os dois vizinhos asiáticos.
O Japão se opôs imediatamente à decisão, dizendo que todas as compensações por fatos ocorridos durante a guerra foram resolvidas por um tratado de 1965 que restabeleceu os laços diplomáticos entre os países.
A Corte do Distrito Central de Seul condenou o governo japonês a pagar 100 milhões de wons (495 mil reais) para cada uma das 12 mulheres idosas que entraram com a ação em 2013. Os juízes disseram que o uso dessas mulheres como escravas sexuais foi "um crime contra a humanidade", ocorrido enquanto o Japão "ilegalmente ocupou" a península da Coreia de 1910 a 1945, e que a imunidade de jurisdição não protegia Tóquio de processos na Coreia do Sul.
O tribunal afirmou também que as mulheres foram vítimas de "atividades sexuais cruéis" dos soldados japoneses, que provocaram machucados, doenças e gravidezes indesejadas, deixando "grandes cicatrizes mentais" em suas vidas.
O processo se alongou devido a negativas do Japão em receber documentos legais, e sete das 12 mulheres morreram enquanto aguardavam o julgamento. Outras 20 mulheres, algumas já falecidas e representadas por parentes, entraram com outra ação semelhante contra o Japão, cujo julgamento deve ocorrer na próxima semana.
Essas mulheres são apenas algumas das dezenas de milhares em toda a Ásia e o Pacífico que foram enviadas para bordéis nas linhas de combate japonesas. Cerca de 240 sul-coreanas vítimas da prática vieram à público e se registraram no governo como tais, mas apenas 16 delas, todas na casa dos 80 ou 90 anos de idade, ainda estão vivas.
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Reflexos na diplomacia
Especialistas dizem ser improvável que o Japão aceite a decisão do tribunal sul-coreano. Um grupo de apoio a mulheres forçadas a trabalhar como escravas sexuais disse que poderá tomar iniciativas legais para apreender bens do governo japonês na Coreia do Sul se o país se recusar a indenizar as vítimas.
O Ministério das Relações Exteriores do Japão afirmou em comunicado que o vice-ministro para as Relações Exteriores, Takeo Akiba, registrou o protesto de seu país contra a decisão junto ao embaixador da Coreia do Sul no país, Nam Gwan-pyo.
Katsunobu Kato, secretário-chefe de gabinete japonês, cargo equivalente ao de ministro da Casa Civil no Brasil, disse que o julgamento era algo "extremamente lamentável" e que o governo do Japão "não pode aceitá-lo de forma alguma".
O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul afirmou que respeita o julgamento e que se esforçará para restabelecer a dignidade das mulheres. Ele afirmou ainda que examinará os possíveis efeitos do veredito na relação com o Japão e que se esforçará para manter uma cooperação "orientada para o futuro" com Tóquio.
Cooperação trilateral com Estados Unidos
Seul e Tóquio, ambos aliados importantes dos Estados Unidos, têm vínculos econômicos e culturais próximos. Mas seu histórico de disputas territoriais durante a ocupação colonial japonesa com frequência dificultam os esforços de Washington para fortalecer uma cooperação trilateral para lidar com a ameaça nuclear da Coreia do Norte e a crescente influência da China na região.
A relação entre os dois países chegou ao seu ponto mais baixo em décadas depois que a Corte Suprema da Coreia do Sul decidiu em 2018 que empresas japonesas deveriam pagar indenizações a alguns idosos sul-coreanos por trabalhos forçados no período de guerra. A disputa escalou para uma guerra comercial que levou ambos os países a rebaixarem o status comercial do vizinho, e depois Seul ameaçou encerrar um acordo militar trilateral de compartilhamento de informações de inteligência envolvendo os Estados Unidos.
Em 2015, o governo anterior da Coreia do Sul havia chegado a um acordo com o Japão para resolver as disputas em torno do uso de escravas sexuais durante a guerra. Segundo o pacto, o Japão deveria fazer um novo pedido de desculpas e financiar uma fundação para apoiar as vítimas, e em troca a Coreia do Sul se absteria de criticar o Japão sobre o tema.
O atual governo da Coreia do Sul, liderado pelo presidente Moon Jae-in, porém, dissolveu a fundação, dizendo que o acordo de 2015 não tinha legitimidade pois as autoridades não haviam se comunicado adequadamente com as vítimas antes de concluir o pacto.
BL/ap
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.