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EconomiaPortugal

Cortiça: material que serve para o vinho e o espaço

Oliver Ristau
15 de março de 2024

A cortiça pode ser usada para vedar garrafas, mas também para proteger foguetes do calor. Como ela captura muito carbono, a maior produtora do mundo, sediada em Portugal, projeta que a demanda crescerá.

Dois homens com machados retirando casca de sobreiro
Os sobreiros podem viver por 200 anos, e sua casca pode ser retirada para produzir cortiça a cada nove anosFoto: Pablo Blazquez Dominguez/Getty Images

A plantação leva o nome do Rio Frio. Mas raramente faz frio no sul de Portugal, não muito longe da foz do Tejo. Isso é bom para os sobreiros. "Eles gostam de clima quente e morno", diz Nuno Oliveira. O engenheiro florestal tem uma tarefa importante: tornar aquela floresta de sobreiros mais produtiva.

Oliveira trabalha para a Corticeira Amorim. Com um faturamento anual de cerca de 1 bilhão de euros, a empresa portuguesa é a maior produtora de rolhas de vinho e champanhe do mundo.

Há poucos casos de cultivo comercial e em larga escala de sobreiros – mais de 90% das árvores foram semeadas de forma natural. Tradicionalmente, a produção de cortiça era apenas uma atividade secundária dos proprietários de terras. Eles pastoreavam seus rebanhos nas florestas e realizavam outras atividades.

Em geral, demora 25 anos para que a casca dos sobreiros fique espessa o suficiente para ser descascada pela primeira vez. Depois disso, a colheita é possível a cada nove anos. Mas somente após a segunda colheita é que a casca tem a qualidade que as rolhas precisam para selar vinhos de alta qualidade. Até lá, mais de 40 anos se passaram desde que o sobreiro começou a crescer.

Florestas de sobreiro armazenam muito CO2

Como a produção de cortiça é uma tradição em Portugal há mais de cem anos, esse longo período de maturação ainda não prejudicou o abastecimento da indústria. As árvores podem viver por 200 anos e a área total em Portugal, na Espanha e em outros países ao redor do Mediterrâneo é grande o suficiente para garantir o abastecimento.

Normalmente, a Amorim compra a cortiça de produtores independentes. Durante uma visita à fábrica em Santa Maria de Lamas, perto do Porto, o CEO Antonio de Rios Amorim diz que agora a empresa está se dedicando à engenharia florestal com a Rio Frio: "Queremos reduzir pela metade o tempo até a primeira colheita, para dez a doze anos. Assim, o investimento será compensado após 30 anos e se tornará interessante para investidores institucionais, como fundos de pensão e companhias de seguro, que buscam investir em armazenamento de carbono."

Extração da cortiça de sombreiros é uma tradição em Portugal há mais de cem anosFoto: Amorim/Foto: Augusto Brazio

O sobreiro não é derrubado e pode ter sua casca coletada cerca de vinte vezes durante sua vida útil, e a cortiça armazena muito CO2. "São 73 toneladas por tonelada de cortiça", calcula Antonio Amorim. Uma floresta de cortiça que possa ser extraída mais rapidamente seria "financiável" e suprir o aumento esperado da demanda, diz.

Cortiça para a SpaceX

Além de sua pegada climática positiva, a cortiça também é interessante para muitos setores graças às suas propriedades técnicas. Os ônibus espaciais da Nasa e os foguetes da SpaceX usam a cortiça como escudos térmicos, por exemplo. Isso se deve ao fato de o material ser naturalmente não inflamável.

Durante os devastadores incêndios florestais dos últimos verões europeus, as chamas se espalharam principalmente por eucaliptos e pinheiros. As florestas de cortiça, por outro lado, são barreiras. E onde as florestas de cortiça crescem no norte da África, por exemplo, elas impedem que o deserto se espalhe.

Além de rolhas, cortiças servem para fazer isolantes, solas de sapato, assentos de trem e outros produtosFoto: Oliver Ristau/DW

A Amorim tem várias fábricas em Portugal onde a casca é seca e transformada em rolhas inteiras para vinhos caros. O restante é processado em granulado de cortiça, um matéria-prima usada em muitas outras aplicações, como revestimentos de pisos, isolantes, solas de sapatos e assentos para trens.

Material natural versátil

O motivo de sua versatilidade é a estrutura da casca do sobreiro. Ela tem a forma de favos de mel com cerca de 40 milhões de células por centímetro cúbico. Cada célula funciona como um isolante térmico e absorve sons e choques. Quimicamente, 45% da cortiça é composta pelo polímero suberina, que forma as paredes celulares. Na natureza, ele ocorre quase exclusivamente na cortiça.

"Não há limites para a cortiça", diz Antonio Amorim. "Temos dez funcionários que estão constantemente trabalhando em novas aplicações. Foi assim que tivemos a ideia de usar as propriedades de amortecimento de vibração e de isolamento da cortiça para transformadores de energia." Ele avalia que, se a eletrificação evoluir como esperado, a demanda crescerá muito.

Engenheiro florestal Nuno Oliveira desenvolve formas para aumentar a produtividade dos sobreirosFoto: Oliver Ristau/DW

E isso exigirá florestas mais produtivas, como as planejadas em Rio Frio. O engenheiro florestal Oliveira está convencido de que isso pode funcionar naquela que é provavelmente a mais antiga e, com 5 mil hectares, a maior plantação de sobreiros cuidada pelo homem no mundo.

Uma das medidas é aumentar o número de árvores por hectare, de 100 para 400. Depois, deve-se permitir que elas cresçam. Isso ocorre porque as pessoas tradicionalmente podam as árvores para produzir lenha, o que inibe seu crescimento. Como resultado, os troncos têm dois ou três metros de altura. "Se você deixar as mudas em paz, elas crescerão rapidamente e em direção ao sol", diz Oliveira. E é mais provável que atinjam uma altura de três a quatro metros.

As vantagens ecológicas das florestas de sobreiros devem ser preservadas, apesar de as árvores estarem mais próximas. "A biodiversidade é um dos aspectos mais importantes do montado [ecossistema da região]", diz Oliveira. "Ele fornece um habitat para um grande número de espécies de flora e fauna. Entre elas estão espécies ameaçadas de extinção, como o lince ibérico." Isso se deve principalmente ao fato de que os humanos podem, em grande parte, deixar a floresta em paz. Também não é necessário muito manejo, pois a planta é pouco exigente, requer pouca água e pode se desenvolver em solos arenosos.

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