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Coutinho: uma nova esperança ou um fracasso anunciado?

20 de agosto de 2019

Nenhum brasileiro já contratado por clubes alemães gerou tanta expectativa. O Bayern quer que seu novo craque substitua astros como Robben e Ribéry. Apesar de habilidoso, meia tem como ponto fraco a instabilidade.

Coutinho mostra camisa 10 no Bayern, entre o diretor executivo Karl-Heinz Rummenigge (esq.) e diretor de esportes do clube, Hasan Salihamidzic
Apresentação de Coutinho no Bayern, com diretor executivo Karl-Heinz Rummenigge (esq.) e diretor de esportes do clube, Hasan SalihamidzicFoto: AFP/C. Stache

O Bayern de Munique tem uma longa história a contar sobre a contratação de jogadores brasileiros. Tudo começou em 1991 com Bernardo, ex-jogador do São Paulo, volantão à moda antiga, do tipo limpa-trilho. Custou aproximadamente 1 milhão de dólares na época e, depois de atuar em apenas quatro jogos, voltou ao Brasil cheio de saudade.

Em seguida veio Mazinho (Santos e Bragantino). Ficou três anos e meio no clube bávaro antes de se transferir para o Kashima Antlers. Nunca emplacou como centroavante no Bayern – foram apenas 49 jogos, com 11 gols, e os diretores do clube se perguntaram se não tinham contratado o Mazinho errado. Talvez estivessem pensando no Mazinho campeão mundial de 1994 e pai do Thiago, jogador que atualmente integra o elenco do campeão alemão.

Para não cometer novos equívocos desse tipo, os olheiros do clube começaram a garimpar jogadores brasileiros já acostumados ao rigoroso inverno europeu e à cultura local. O Leverkusen, na época, era uma espécie de importador privilegiado de talentos como Jorginho, Paulo Sergio, Lúcio e Zé Roberto. Todos passaram pelo Bayern e deixaram saudades.

No Stuttgart, brilhava Giovane Elber, com o triângulo mágico formado por ele, Bobic e Balakow. Durante muito tempo, Elber foi o maior artilheiro estrangeiro da Bundesliga, antes de ser ultrapassado por Claudio Pizarro e Robert Lewandowski. Atuou pelo Bayern durante seis anos e levantou tudo quanto é taça nesse período.

Mais recentemente, Luiz Gustavo, Dante, Douglas Costa e Rafinha também deram a sua contribuição às conquistas bávaras. Todos tinham em comum o fato de já estarem acostumados ao futebol europeu antes de chegarem com mala e cuia em Munique.

Única exceção à regra foi o jovem zagueiro Breno, trazido em 2008 do São Paulo, com apenas 18 anos de idade. Foi recebido e festejado como se já fosse um zagueiro de classe mundial. Infelizmente não conseguiu se integrar nem no clube, nem na cidade. Em um momento crítico de sua vida, contundido e solitário, botou fogo na casa em que morava de aluguel. Acabou preso, julgado e condenado a três anos de prisão. Cumpriu a pena e voltou ao Brasil.

A essa extensa lista de 13 brasileiros que já vestiram a camisa do heptacampeão junta-se agora Philippe Coutinho, considerado por muitos uma nova esperança para que o Bayern finalmente volte a ser um dos principais protagonistas da Champions League. Lembrando apenas que, nas últimas três temporadas, o clube chegou apenas uma vez à semifinal. 

Coutinho foi anunciado como um jogador fora de série por Hasan Salihamidzic, diretor de esportes: "Queremos no nosso time jogadores flexíveis, que possam atuar em diferentes posições e assumam responsabilidades dentro de campo. Foi por isso que o contratamos."

Do ponto de vista técnico, parece não haver dúvida quanto à extrema competência do brasileiro. Dribles imprevisíveis, frieza diante do gol adversário, de olho sempre em um companheiro melhor colocado e lançamentos sob medida são apenas algumas de suas qualidades.  

Nenhum dos jogadores brasileiros já contratados por clubes alemães despertou tantas expectativas quanto Philippe Coutinho. "É um astro da maior grandeza", declarou o técnico Niko Kovac. E o presidente Uli Hoeness completou: "Agora o treinador pode trabalhar calmamente com esse elenco até o fim do ano, e aí veremos o que acontece."

Coutinho foi contratado por empréstimo de um ano com opção de compra. O Bayern pagará ao Barcelona 8,5 milhões de euros e assumirá o salário bruto de 13 milhões de euros do jogador. Ao final da temporada, terá a opção de adquirir o brasileiro por 120 milhões de euros. Se concretizar a compra, será a maior aquisição na história do clube.

Só que tem um pequeno grande detalhe.

Caso o brasileiro não atenda às expectativas, esse vultuoso negócio, pelo menos para os padrões bávaros, não vai se realizar. A esperança da cartolagem e da torcida é de que Coutinho seja, se não o principal, um dos principais protagonistas do time, tal qual foram Robben e Ribéry no passado recente.  

Para que ele possa ter esse protagonismo, é fundamental que goze da mais absoluta confiança do técnico. É sempre bom lembrar que a melhor fase de Coutinho foi no Liverpool. Sobre sua experiência com Jürgen Klopp, Coutinho declarou: "A confiança de Klopp no meu trabalho foi muito importante."

A torcida do Liverpool lembra-se dele com muito carinho e o apelidou de "little magician”. Em 201 partidas oficiais pelos Reds, marcou 54 gols e deu 45 assistências. O técnico alemão, com seu voto de confiança no jogador, certamente contribuiu para esse notável desempenho que, infelizmente, não se repetiu no Barcelona. Vale lembrar ainda que Klopp tentou, até o último momento, dissuadir o brasileiro de se transferir para o Barcelona.

Em recente entrevista ao canal de TV ZDF, Hasan Salihamidzic, diretor de esportes do Bayern, se rasgou em elogios ao brasileiro e, entre outras coisas, disse: "Coutinho foi o maior craque da Copa América e ajudou o Brasil a conquistar o título."

Nosso querido Tostão, campeão mundial de 1970 e colunista da Folha de S.Paulo, se mostrou surpreso: "Ele disse isso mesmo? Então acho que ele não viu a Copa América. Os melhores jogadores do Brasil foram Daniel Alves, Gabriel Jesus e Roberto Firmino", informou por telefone ao portal Süddeutsche.de e acrescentou: "Coutinho é um jogador extraordinário, mas as expectativas criadas ao seu redor pesam demais sobre seus ombros. Ele costuma ter momentos geniais. São momentos, falta-lhe constância e estabilidade."

Ao El País, o ex-jogador e comentarista Jorge Valdano conta que "Coutinho pertence àquele grupo de jogadores que têm uma relação quase trágica com o jogo de futebol, porque sua timidez não lhe permite expressar todo seu talento com naturalidade. Ao tocar a bola, muitas vezes é perceptível sua indecisão, que acaba por interromper o fluir da jogada."

Coutinho herdou a camisa 10 que pertenceu a Arjen Robben, de 2009 a 2019. Será ele uma nova esperança ou um fracasso anunciado? É o tempo que trará a resposta, mais tardar ao final da atual temporada.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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