Covid-19 cresce de maneira perigosa no Brasil, alerta Opas
23 de março de 2021
Organização Pan-Americana da Saúde afirma que "a terrível situação" no país está afetando também as nações vizinhas, e urge aos brasileiros que adotem medidas restritivas para conter a disseminação do vírus.
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O coronavírus está crescendo de maneira "perigosa" no Brasil, alertou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne, nesta terça-feira (23/03). Ela pediu a todos os brasileiros que adotem medidas preventivas para conter a disseminação da doença.
"Infelizmente, a terrível situação no Brasil também está afetando os países vizinhos", afirmou a chefe da Opas, organização que atua como braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas e faz parte dos sistemas da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da ONU.
Os casos de covid-19 cresceram em estados da Venezuela que fazem fronteira com o Brasil, bem como nas regiões fronteiriças do Peru e da Bolívia. Também na parte inferior da América do Sul o número de infecções segue em ascensão, como no Chile, Paraguai e Uruguai.
No Paraguai, a maioria dos leitos das unidades de terapia intensiva (UTI) está ocupada, e o sistema de saúde está sob pressão. O Uruguai notificou mais de mil novos casos diários várias vezes nas últimas semanas, um número alarmante devido ao tamanho e à população do país.
"O vírus da covid-19 não está retrocedendo, nem a pandemia está começando a desaparecer", alertou Etienne, num momento em que o Brasil bate recordes de média móvel de mortos pela doença.
Pelo menos 15 países das Américas já detectaram casos da variante brasileira do coronavírus, que se tornou um grande motivo de preocupação, disse o gerente de incidentes da Opas, Sylvain Aldighieri. Especialistas afirmam que a mutação P1, identificada pela primeira vez em Manaus, é mais contagiosa do que a cepa original do Sars-Cov-2.
O Brasil superou 12 milhões de infecções pelo coronavírus e se aproxima da marca de 300 mil óbitos relacionados à covid-19, tornando-o o segundo país mais atingido pela pandemia no mundo, depois dos Estados Unidos. Na segunda-feira, o Brasil bateu pelo 24º dia consecutivo o recorde da média móvel de mortes.
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Pandemia na América Latina
De acordo com dados compilados pela agência de notícias Reuters, a América Latina e o Caribe registraram cerca de 23,7 milhões de casos de coronavírus e 746 mil mortes relacionadas à covid-19 – quase o dobro dos números de vítimas da Ásia e da África somados.
A iniciativa Covax – liderada pela OMS em cooperação com a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi) – visa fornecer acesso equitativo às vacinas e entregou 2.161.800 doses para a região até agora, incluindo mais de 1 milhão de doses para o Brasil, que chegaram no último fim de semana.
"As vacinas estão chegando, mas ainda estão a muitos meses de distância da maioria das pessoas na nossa região", afirmou a chefe da Opas, Etienne.
pv/ek (AFP, Reuters)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.