Em nova derrota para Jair Bolsonaro, presidente do Senado oficializa prorrogação do colegiado, que pode se estender até novembro.
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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, oficializou na noite desta quarta-feira (14/07) a prorrogação do prazo de funcionamento da CPI da Pandemia. O colegiado foi instalado em 27 de abril e seu prazo de funcionamento estava previsto para acabar em 7 de agosto.
Com a leitura do requerimento de prorrogação por Pacheco, os trabalhos poderão ser estendidos por mais três meses, até novembro se os senadores desejarem.
As investigações do colegiado têm sido uma fonte diária de desgaste para o governo de Jair Bolsonaro e a prorrogação da CPI marca uma nova derrota para o Planalto.
O requerimento para a prorrogação dos trabalhos foi apresentado pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e recebeu a assinatura de 34 parlamentares da Casa, sete a mais do que o necessário.
Inicialmente, o presidente do Senado, que mantém relação de proximidade com Jair Bolsonaro, havia mostrado contrariedade com a prorrogação dos trabalhos. Pacheco chegou a sinalizar que poderia deixar a leitura do requerimento para depois do recesso parlamentar, que tem início em 18 de julho e vai até o início de agosto. Isso levantou o temor entre senadores da CPI de que o governo poderia se articular para convencer parlamentares a retirarem suas assinaturas do requerimento de prorrogação.
No momento, a comissão investiga suspeitas envolvendo diferentes esquemas de compra de vacinas, que também implicam militares que ocupavam postos-chave do Ministério da Saúde.
Membros da cúpula do colegiado já sinalizaram que devem responsabilizar Bolsonaro pelas irregularidades. Antes dos esquemas suspeitos terem entrado no radar dos senadores, a CPI já havia levantado elementos que explicitaram a má gestão da pandemia pelo governo, a promoção de tratamentos ineficazes e sabotagem de medidas de distanciamento. A pandemia já provocou a morte de mais de 537 mil pessoas no Brasil.
Em pouco mais de dois meses de trabalhos, o colegiado também ouviu personagens como os ex-ministros bolsonaristas Eduardo Pazuello, Osmar Terra, Fabio Wajngarten e Ernesto Araújo, as médicas Mayra Pinheiro e Nise Yamaguchi, que promoveram tratamentos ineficazes contra a covid, e o empresário bolsonarista Carlos "Wizard" Martins, suspeito de organizar um "gabinete das sombras", que funcionava paralelamente ao Ministério da Saúde.
O anúncio da prorrogação ocorreu poucas horas após o depoimento da diretora técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades. Durante a sessão da CPI da Pandemia, a diretora contradisse a versão do governo de que a vacina Covaxin havia sido oferecida por US$ 10 a dose ao Ministério da Saúde em uma reunião em 20 de dezembro, meses antes da assinatura do contrato, que acabou sendo fechado com o valor de US$ 15 por dose.
Por outro lado, Medrades, em outro momento do depoimento, alinhou suas falas ao governo Jair Bolsonaro em um momento-chave da sessão, que abordou o imbróglio das invoices (fatura internacional de importação) da vacina, contrariando a denúncia dos irmãos Miranda e o depoimento do consultor técnico da pasta William Amorim Santana.
A Precisa é a empresa que atuou como atravessadora na venda da vacina indiana Covaxin para o Ministério da Saúde em março. Suspeitas de superfaturamento, favorecimento e outras irregularidades em relação ao contrato estão no centro de um escândalo que envolve o presidente Jair Bolsonaro, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, o ex-secretário-executivo da pasta coronel Élcio Franco, entre outros personagens. O caso já rendeu um inquérito contra Bolsonaro por suspeita de prevaricação.
Além de estarem no alvo da CPI, as negociações para aquisição da Covaxin são investigadas pelo Ministério Público Federal, pela Polícia Federal e pelo Tribunal de Contas da União.
jps (ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.