Comissão também vai convocar nove governadores e mais aliados de Bolsonaro que promoveram cloroquina, como o empresário Carlos Wizard. Presidente foi alvo de requerimento para depor como testemunha.
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Os senadores que integram a CPI da Pandemia aprovaram nesta quarta-feira (26/05) a reconvocação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e seu sucessor no comando da pasta, Marcelo Queiroga, além de encaminharem uma improvável convocação do presidente Jair Bolsonaro.
Também foram convocados para depor à CPI governadores de nove estados, além do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel – removido do cargo pelo Tribunal Superior de Justiça e, posteriormente, por um impeachment no final de abril – e a vice-governadora de Santa Catarina, Daniela Reinehr.
O sucessor de Witzel no governo do Rio, Cláudio Castro, foi retirado da lista das convocações. "Retiramos porque ele não era governador a época que aconteceu. Caso tenha algum fato novo, nós iremos convocá-lo”, explicou presidente da CPI, senador Omar Azis (PSD-AM)
Os governadores convocados foram Waldez Góes, do Amapá; Wilson Lima (AM), Ibaneis Rocha (DF), Helder Barbalho (PA), Wellington Dias (PI), Marcos Rocha dos Santos (RO), Antônio Garcia de Almeida (RR), Carlos Moisés (SC), e Mauro Carlesse (TO).
Os governadores foram convocados após a insistência dos senadores da base do presidente Jair Bolsonaro. Os governistas criticam o foco da CPI nas ações do governo federal e tentam jogar luz sobre supostos casos de corrupção com desvios de recursos enviados pela União aos estados.
A convocação de governadores é uma reivindicação principalmente dos senadores governistas na CPI. Eles alegam que a Comissão deve investigar supostos casos de corrupção nos estados envolvendo recursos para combate à pandemia.
Até o momento, a CPI tem ouvido depoentes ligados ao governo federal para apurar ações e omissões da União no combate à pandemia.
Pazuello voltou a ser convocado para depor por ser acusado de mentir à CPI em seu primeiro depoimento, após o qual, o relator da Comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a divulgar uma lista com 14 mentiras que teriam sido ditas pelo ex-ministro.
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Contradições de Pazuello
As declarações do ex-ministro entraram em contradição com as de outros depoentes, como ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, o ex-secretário de Comunicação do Planalto Fabio Wanjgarten e da secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como "capitã cloroquina”.
Também foram convocados o ex-assessor da Presidência da República apelidado de "guru da cloroquina”, Arthur Weintraub; o publicitário e aliado de Pazuello Markinhos Show; a ex-secretária de Enfrentamento à Covid, Luana Araújo; além do diretor da fornecedora de oxigênio White Martins, Paulo Baraúna.
O empresário Carlos Wizard, que atuou como conselheiro de Pazuello, também prestará depoimento, assim como o assessor da Presidência da República Filipe Martins; que teria participado de um suposto "ministério paralelo” que estaria por trás de algumas das decisões do governo na crise sanitária.
A CPI também encaminhou requerimentos com pedidos de informação ao Conselho Federal de Medicina, ao laboratório Sinovac e à empresa Wuxi Biologics.
A cloroquina, o remédio sem eficácia comprovada comprovada contra covid-19 que virou tema central da CPI, será alvo de um debate entre especialistas favoráveis e contrários à sua aplicação no tratamento contra o coronavírus.
"Teremos duas sessões para que possamos ouvir duas pessoas que apoiam tratamento com cloroquina e dois cientistas e profissionais, capacitados, que são contra. Quatro a favor e quatro contra", explicou Aziz.
Ânimos exaltados e Bolsonaro como testemunha
Na sessão desta quinta-feira no Senado, os ânimos estavam ainda mais exaltados do que nas últimas semanas. Aziz discutiu com o governista Eduardo Girão (Podemos-CE), a quem chamou de "oportunista pequeno” e acusou de não entender "patavinas de saúde” e de querer "impor a cloroquina na cabeça da população”.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou requerimento para convocação do presidente Jair Bolsonaro na condição de testemunha, o que foi visto pelos governistas como uma tentativa de impedir a convocação dos governadores.
Rodrigues justificou o pedido ao dizer que "os critérios e vedações são os mesmo que se encaixam aos governadores” e lembrou que o Brasil já superou a marca de 450 mil mortos em razão da covid-19.
"A cada depoimento e a cada documento recebido, torna-se cristalino que o presidente da República teve participação direta ou indireta nos graves fatos questionados por esta CPI", diz o texto do requerimento para a convocação do presidente.
Analistas afirmam que a convocação de um presidente da República não é viável, em razão da equiparação de poderes. Um chefe de Estado poderia prestar depoimento somente aos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), se houver um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para que isso ocorra.
rc (ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.