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Criolo em Berlim: crítica social e diversidade musical

Marco Sanchez26 de janeiro de 2015

Um dos mais celebrados artistas da nova geração retorna à capital alemã para apresentar disco "Convoque seu Buda", mistura certeira de música urbana e ritmos brasileiros.

Foto: Caroline Bittencourt

Foi quase uma experiência religiosa – Criolo tocou o coração e a consciência do animado público que, no sábado passado (24/01), lotou mais uma apresentação do músico brasileiro em Berlim.

Entre alemães e brasileiros, a entusiasmada audiência dançava e cantava sucessos de Nó na orelha, álbum de 2011 que levou o trabalho do paulistano ao grande público, e de Convoque seu Buda, o mais recente disco, lançado em novembro de 2014.

"Esta oportunidade proporciona encontros com novas culturas, com outras formas de se pensar o mundo e, em algum momento, isso pode desaguar em alguma parte da minha construção artística", disse Criolo, em entrevista à DW Brasil.

No palco, as palavras de Criolo criam um vívido painel da sociedade brasileira, que, visto de fora, parece difícil de ser celebrado. Sua poesia tem a força crítica do rap, mas o músico foge dos clichês baseados no ódio, criando belas cadências, embaladas por uma mistura original de hip hop e ritmos brasileiros.

"É uma emoção muito grande. Nunca imaginei viver o que estou vivendo, tanto com o Nó na orelha, quanto com este novo álbum. São oportunidades únicas e especiais de propor um olhar nosso, que encontra o olhar do outro – afinal de contas, são pontos de vista", comentou.

Trabalho coletivo

Assim como no disco anterior, a música de Criolo é guiada pelo trabalho coletivo. Convoque seu Buda tem produção musical de Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman.

Foto: Caroline Bittencourt

"Eu cheguei com as canções, e outras canções foram construídas em estúdio. Esta pluralidade surge mais uma vez do encontro com o Marcelo e o Daniel, contribuindo com a construção musical desse momento", comentou Criolo.

Além da dupla de produtores, Criolo contou com a colaboração dos compositor Douglas Germano, Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, das cantoras Tulipa Ruiz e Juçara Marçal, e do americano Money Mark, conhecido por suas colaborações com o grupo de rap nova-iorquino Beastie Boys.

"Houve também uma participação maior de todos os músicos que me acompanham na estrada, criando assim uma unidade sonora que reflete as experiências e as vivências desses anos de encontro e trabalho", disse o paulistano.

Cabral e Ganjaman também fazem parte da afiada banda que acompanhou Criolo em sua apresentação em Berlim, que teve ainda as participações especiais do rapper alemão Peter Fox e de membros da banda Seeed.

Crítica pungente

Com Convoque seu Buda, o músico mais uma vez apresenta novas possibilidades para o caminho trilhado pelo rap nascido em São Paulo. A raiz do disco está na periferia, e ela se reflete na intensidade das batidas, na diversidade musical, nos versos corpulentos e na crítica social contundente.

A crítica social de Criolo é feita de forma criativa e sem deixar de ser pungente – as letras são um retrato das diferenças, da injustiça e da criminalidade brasileiras, mas elas sempre revelam respeito e até mesmo ternura pelos seus personagens.

Assim, Criolo fala de um funcionário de bufê que serve festas de luxo em Cartão de visita, de meninos que seguram fuzis na densa Plano de voo, de um padeiro que não chegou ao trabalho devido à greve no samba Fermento pra massa e de um morador de rua usuário de crack em Casa de papelão.

"O Brasil é um país jovem, que herdou um modo de se criar uma sociedade que tem como reflexo uma situação muito delicada. Nesse período de quatro anos entre um álbum e outro, o que eu percebo é que cada vez mais nossos jovens estão se reunindo, se organizando e trabalhando para que tenhamos uma sociedade mais justa", disse o artista.

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