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Credibilidade do serviço secreto alemão em xeque

sl/sm/mw9 de abril de 2004

O Bundesnachrichtendienst é o único serviço secreto alemão a atuar no exterior. Sua reputação já foi péssima, mas desde o 11 de setembro de 2001 estava em alta. Agora as dúvidas sobre sua credibilidade pairam de novo.

A sede em Pullach não é mais esconderijo secretoFoto: AP

O Bundesnachrichtendienst (BND), único serviço secreto alemão para o exterior, nem sempre teve bom nome e a confiança das autoridades do país. Certa vez, Helmut Schmidt chegou a qualificá-lo de "grêmio de diletantes". Na década de 70, o então chanceler federal reclamava que as únicas coisas que o BND tinha a lhe dizer era aquilo que qualquer um já tinha lido nos jornais.

"O BND tinha má fama", lembra Erich Schmidt Eenboom. O autor de diversos livros sobre o órgão mantém relações com funcionários da ativa e outros já aposentados. "Durante a Guerra Fria, o BND esteve cheio de agentes infiltrados da Alemanha Oriental", disse Eenboom, em entrevista à DW-WORLD.

Mais renome desde o 11 de setembro

No entanto, a imagem do Bundesnachrichtendienst melhorou bastante nos últimos anos. Com o fim do Pacto de Varsóvia, a aliança militar do Leste Europeu comunista, o terrorismo internacional passou a ser o adversário com o qual o mundo ocidental se vê confrontado. E em se tratando de terrorismo islâmico, o BND dispõe de informações capazes de deixar até o MI6 britânico e a CIA americana com inveja.

Nas últimas décadas, o serviço secreto alemão ampliou sistematicamente suas relações com o Oriente Médio. "A principal motivação foi o interesse comercial pela região", justifica Eenboom. Foram os "bons contatos" na região que proporcionaram ao governo em Berlim seu recente êxito como mediador na troca de prisioneiros entre Israel e a milícia libanesa Hisbolá em solo alemão.

Agentes de Saddam made by BND

Mas ainda resta um gosto amargo. Os integrantes do serviço secreto de Saddam Hussein, por exemplo, foram preparados pelos alemães na década de 80. O então governador bávaro Franz Josef Strauss fez de tudo até conseguir que policiais iraquianos fossem treinados em Augsburg e Rosenheim. A operação foi coordenada por seu secretário estadual do Interior, Edmund Stoiber, hoje governador da Baviera.

August Hanning, presidente do BNDFoto: AP

Mas mesmo isto não faz do BND menos escrupuloso que a CIA, o MI6 ou o Mossad, o serviço secreto israelense. A boa fama que o BND conquistou se deve em parte ao seu atual diretor, August Hanning, considerado confiável, sensato e pouco presunçoso por parte de especialistas de segurança. Um dos trunfos do serviço seria a descoberta de um plano para assassinar o presidente alemão, Johannes Rau, em sua recente viagem pela África. Rau, que até então havia insistido em sua visita na Tanzânia apesar de outras advertências de perigo, decidiu levar a sério o relatório dos agentes secretos sobre o que lhe esperaria em Djibuti.

BND levou EUA à guerra?

A credibilidade, entretanto, voltou a ficar chamuscada com a revelação da CIA de que teriam vindo da Alemanha as informações sobre laboratórios químicos e biológicos móveis no Iraque. Elas foram apresentadas pelo secretário de Estado, Colin Powell, ao Conselho de Segurança da ONU em fevereiro de 2003, como argumento para se derrubar Saddam Hussein pela força. Apoiado na declaração, o respeitado jornal Los Angeles Times acusou a Alemanha de ter levado os Estados Unidos à guerra. Berlim teria omitido de Washington que as informações eram oriundas de uma única fonte e ainda assim não checada.

Membro da comissão de política exterior do parlamento alemão, o deputado democrata-cristão Friedbert Pflüger também se sente traído. Ele afirma que seu partido também baseou-se no BND para fundamentar sua posição pela derrubada à força de Saddam. Para o oposicionista, ou o BND trabalhou mal ou o governo foi negligente ao repassar suas informações. "Como deputado, tenho de confiar naquilo que o governo e o BND dizem", reclamou.

Para passar a história a limpo, Pfluger requisitou as gravações das duas sessões da comissão em que o diretor do serviço secreto informou os deputados sobre investigações relacionadas ao Iraque no fim de 2002 e início de 2003. Entretanto, segundo o democrata-cristão, faltam partes nas gravações e exatamente aquelas em que Hanning se referiria aos laboratórios móveis.

Para o governo alemão, Pflüger busca apenas uma desculpa para justificar a posição errada tomada pela CDU. E, de acordo com um porta-voz, é difícil de se crer que os EUA iriam basear suas decisões em uma informação vinda apenas da Alemanha e que esta possa ter levado Washington a uma "possível decisão errada". Hanning, que assumiu a direção do BND em 1998 prometendo mais transparência e que implantou uma rotina de entrevistas coletivas para a imprensa, silencia sobre o incidente.

Serviço secreto em reforma

A verdade é que, até agora, a melhora na imagem do BND também tinha origem nesta política de marketing de Hanning. Até 1996, sua sede no povoado bávaro de Pullach era um endereço obscuro. Em sua entrada, a placa informava apenas "Estabelecimento do Governo".

"Topf Secret", o livro de culinária do BND

Hoje o serviço realiza simpósios e tem um site na internet com informações sobre sua história e suas competências. No final deste ano, o órgão deverá abrir até uma loja de suvenires em Berlim, na qual se poderão comprar, por exemplo, cuecas com carimbo de "confidencial" e um livro de culinária com receitas "secretas".

E o hoje ainda escondido isolado BND deverá mudar-se em 2008 para a capital federal, Berlim. Com a transferência, o serviço secreto pretende passar a exercer maior influência sobre a política. Outra futura mudança será a constituição de uma comissão parlamentar, com nove deputados, que controlará o órgão. Mas não terá, necessariamente, direito a todo tipo de informação.

Enquanto o BND cuida de espiar o que acontece nos bastidores além das fronteiras alemãs, outros 37 serviços secretos alemães cumprem outras funções, uma conseqüência do sistema federativo. Muitas vezes, os diferentes órgãos entram em conflito por causa do limite impreciso de suas competências. "Mas a concorrência entre eles diminuiu", constata Schmidt-Eenboom.

Para combater o terrorismo, o governo federal pretende unificar os serviços estaduais ou ao menos dar-lhes uma coordenação central. A proposta, porém, é polêmica. Muitos estados não querem abrir mão de suas prerrogativas.

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