Presença crescente
25 de julho de 2009O Brasil anunciou há algumas semanas que a China se tornou seu parceiro econômico mais importante nos primeiros seis meses de 2009, superando os Estados Unidos pela primeira vez. Apesar da crise global, o volume de mercadorias brasileiras importadas pela China cresceu mais de 40%.
Há indícios de que a vantagem chinesa se deve sobretudo à crise econômica e que, passada esta, é provável que os EUA reconquistem o primeiro lugar entre os parceiros do Brasil. Porém, o fato confirma uma tendência na América Latina: a influência da China na região está em alta.
Negócios e matérias primas
Kerry Brown, especialista em assuntos asiáticos do think tank britânico Chatham House, compara as relações econômicas entre a China e os latino-americanos ao papel do país na África: "O interesse primordial da China na América Latina são negócios e recursos naturais".
O comércio é vital para a China, concorda Hanns Günther Hilpert, também especialista em Ásia no Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e Segurança (SWP) em Berlim. Ao conduzir suas relações exteriores, o país tem sempre em mente o benefício de seus interesses comerciais e o próprio desenvolvimento.
Como no caso da África, Pequim está especialmente interessado em recursos naturais e energia, tendo se tornado o maior importador de cobre, minério de ferro, ouro e petróleo latino-americanos. Mas não se trata de uma relação de mão única, ressalva Hilpert. "A América Latina é um enorme mercado exportador para a China, a atual líder em manufatura industrial."
De artigos eletrônicos a automóveis, cada vez mais produtos vendidos na América Latina trazem o selo made in China. Ao aumentar suas exportações para a região, Pequim persegue uma estratégia de diversificação. "Eles não querem ficar dependentes demais dos mercados norte-americano e europeu", explica Hilpert.
Influência política e soft power
Apesar de seu foco comercial bem definido, a economia não é tudo para os chineses. "É claro que também perseguem certos interesses políticos", comenta Brown. "Eles querem que a primazia da China sobre Taiwan seja reconhecida e fazem disso uma condição para investir em outros países."
Os taiwaneses ainda mantêm relações com algumas nações da América Central e com o Paraguai, mas a China tenta isolar Taiwan e os governos que o reconhecem, acrescenta Hilpert. "A China também tenta promover seu princípio de não-interferência em questões internas, incluindo as de direitos humanos. Ela procura aliados e pode encontrar alguns entre os latino-americanos."
Além disso, acrescenta Brown, os chineses também querem ganhar influência através do assim chamado soft power, e já inauguraram diversas sedes do Instituto Confúcio na América Latina.
Teriam os EUA e a União Europeia motivos para se preocupar com a crescente influência chinesa na região? "A questão não é tanto a América Latina, mas sim a corrida por influência na governança global, e nesse aspecto a China está entre os grandes adversários do Ocidente", explica Hilpert.
Lucros não são para todos
Porém, mesmo em termos econômicos, nem toda esperança está perdida para o Ocidente. Como assinalou recentemente o autor argentino Andrés Oppenheimer em sua coluna para o Miami Herald, o investimento direto norte-americano ainda é muito superior ao da China na América Latina e no Caribe. Enquanto as empresas estadunidenses lá injetaram 350 bilhões de dólares em 2007, os chineses não passaram dos 22 bilhões.
"Mesmo que os investimentos externos da China – voltados principalmente para trens e pontes com o fim de levar matéria-prima até os portos – continuem na proporção atual, demorará décadas até se nivelarem com os dos EUA", calcula Oppenheimer.
Hilpert acrescenta que, à medida que a presença chinesa se reforça na América Latina, poderá aumentar a crítica à sua política de "nada de perguntas", como ocorreu em relação a seu crescente papel na África. Afinal, nem todos se beneficiam com o empenho econômico chinês na América Latina.
"Claro que há sentimentos ambivalentes, especialmente quanto às indústrias extrativas", admite o especialista do SWP. "São setores que não contribuem tanto assim para o bem-estar da população, é antes uma minoria reduzida, uma elite que lucra e enriquece. Os pobres e a classe média não são tanto a favor da China quanto essa elite."
Autor: Michael Knigge
Revisão: Rodrigo Rimon