Cresce medo de repressão na Turquia após golpe fracassado
Hilal Köylü, de Ancara/Aram Duran, de Istambul(md)19 de julho de 2016
Depois da tentativa por parte de militares de tomar o poder, muitos turcos temem mais intervenções no Judiciário e na imprensa. Reintrodução da pena de morte é discutida, e especialistas alertam para radicalismo.
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Após 36 anos, a Turquia foi palco de mais uma tentativa de golpe militar. Mesmo fracassada, ela deixou muitas perguntas sem resposta, principalmente após tantas detenções. Na noite do levante, orações fúnebres foram transmitidas dos minaretes das mesquitas em toda Turquia.
"Enquanto bombas eram jogadas por aviões de guerra, tentávamos, em primeiro lugar, manter o moral das pessoas elevado. Mais tarde, lemos orações fúnebres para nossos mártires da democracia", explica Mehmet Görmez, chefe do Diretório de Assuntos Religiosos.
Isso pode abrir caminho para uma perigosa onda de radicalismo, segundo a professora de Ciências Políticas Ayse Ayata da Universidade Técnica do Oriente Médio, de Ancara. "A leitura de orações fúnebres em mesquitas abre o caminho para o radicalismo, absorvendo a política pela religião. Essa situação aumenta o risco de criar alienação entre as pessoas e segregação", diz Ayata.
Liberdade de imprensa
Além de uma sociedade cada vez mais polarizada, proteger a liberdade de expressão continua a ser uma preocupação séria. A CNN e o canal estatal TRT foram invadidos pelos golpistas, e uma série de portais de notícias da oposição foram bloqueados pelo governo.
"Tenho medo de que medidas duras afetem a imprensa e os jornalistas, usando a desculpa do golpe", disse Ahmet Abakay da Associação dos Jornalistas Modernos (CGD), que publicou um texto declarando que a entidade se opõe tanto à tentativa de golpe como às leis de estilo autoritário. A CGD enfatizou que uma imprensa livre é uma garantia de democracia e instou o governo a parar de colocar pressão sobre os jornalistas.
A destruição em Ancara após a tentativa de golpe
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"A imprensa não é responsável pelo que aconteceu. E está aqui para garantir a sobrevivência da democracia. O governo deve se abster de aterrorizar a imprensa e deve abandonar seus esforços para criar uma única voz", pede Abakay.
Expurgo militar
Imediatamente após a tentativa de golpe, que o governo classificou de levante praticado por um grupo dentro das Forças Armadas da Turquia (TSK), foi lançada uma grande operação de expurgo no meio militar. Um em cada cinco generais foi levado sob custódia ou formalmente preso, sob acusação de violar a Constituição e tentar derrubar o governo.
"Temos de condenar os ataques contra pessoas inocentes da mesma maneira que condenamos a tentativa de golpe", salienta o militar aposentado e especialista em segurança Atilla Sandikli.
"O público não quer violência. O esforço para se criar a percepção de que a tentativa de golpe foi apoiada por todo o Exército turco deve ser posto de lado", reclama Sandikli, acrescentando que a noção de uma vitória do povo contra uma tentativa de golpe não deve se transformar na noção de que o povo e os militares estão em lados opostos. "Insinuar que os militares turcos são a favor do golpe não só prejudicaria os militares, mas também a democracia turca", avalia.
Limpeza do Judiciário
Após a tentativa de golpe fracassada, outro expurgo grave ocorreu dentro do Judiciário, resultando na remoção de milhares de juízes de suas posições. Mandados de prisão também foram emitidos para muitos deles.
"Se a tentativa de golpe tivesse sido bem-sucedida, eles teriam suspendido a ordem jurídica", argumenta o presidente da Federação das Ordens de Advogados da Turquia (TBB), Metin Feyzioglu.
"Somos obrigados a ficar juntos para garantir que isso não aconteça. Todo mundo deve ter garantido o direito a um julgamento justo. Recorrer à mentalidade de que 'eles iriam fazer isso conosco' não está certo", afirma. "Nós, das 79 ordens de advogados, somos contra a tentativa de golpe, tanto quanto somos contra a suspensão da ordem jurídica."
Pena de morte
A revolta fracassada de 15 de julho chocou a Turquia. Manifestações antigolpe estiveram repletas de slogans pedindo a pena de morte para os orquestradores do levante. O presidente Recep Tayyip Erdogan respondeu ao apelo dizendo que todos os pedidos devem ser considerados numa sociedade democrática e que a questão deve ser avaliada pelo Parlamento.
A Turquia aboliu a pena de morte em 2004, como parte dos esforços para adesão à UE. A última vez que elafoi aplicada foi em 1984. Como membro do Conselho da Europa, a Turquia está vinculada a seus compromissos no âmbito da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e, por isso, aboliu a pena capital. Se o governo turco quiser reintroduzi-la, terá que aprovar uma emenda constitucional.
A questão poderia ser levada a referendo com 330 votos, ou poderia ser aprovada com 367 votos, de acordo com o cientista político Ersin Kalaycioglu.
"Com os números atuais no Parlamento, se tal mudança constitucional for apoiada pelo governista Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) e pelo oposicionista Partido do Movimento Nacionalista (MHP), mas for rejeitada pela principal legenda da oposição, Partido Popular Republicano (CHP), e pelo pró-curdo Partido Democrático dos Povos (HDP), podemos dizer que isso não seria matematicamente possível", sublinha Kalaycioglu. "Mas se for a referendo, e as pessoas disserem sim à pena de morte, isso poderia abrir caminho para uma mudança política bastante severa."
O mês de julho em imagens
Alguns dos principais acontecimentos do mês.
Foto: picture-alliance/PA Wire/G. Fuller
Lula se torna réu
A Justiça Federal aceitou denúncia apresentada pelo MPF do Distrito Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-senador Delcídio do Amaral e mais cinco pessoas acusadas de obstrução das investigações da Operação Lava Jato. Eles são acusados de tentar impedir o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró de assinar acordo de delação premiada. (29/07)
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Al Nusra anuncia sepração da Al Qaeda
Numa inédita aparição num vídeo difundido pela emissora Al Jazeera, o líder da Frente Al Nusra, Abu Mohamad al-Jolani, anunciou a desvinculação da rede terrorista Al Qaeda. Além disso, ele comunicou que o mais importante grupo jihadista na Síria depois do EI, seu grande rival, mudará seu nome para Frente Fateh al-Sham. (28/07)
Foto: picture alliance/ZUMA Press/M. Dairieh
Papa pede que Polônia acolha refugiados
O papa Francisco pediu ao governo da Polônia para se mostrar disposto a receber "aqueles que fogem da guerra e da fome", em discruso com a presença do presidente polonês, Andrzej Duda. Em contraste com outros países europeus, a Polônia se nega a acolher um número elevado de refugiados vindos de regiões em crise, como Síria, Iraque e Afeganistão. (27/07)
Foto: picture alliance/dpa/P. Supernak
Hillary é candidata democrata à Casa Branca
A ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton foi oficialmente nomeada candidata do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos durante a convenção nacional da legenda na Filadélfia. Com isso, Hillary torna-se a primeira mulher a concorrer à Casa Branca por um dos dois grandes partidos americanos. "Este momento é para todas as garotas que sonham alto", comemorou a democrata. (26/07)
Foto: Reuters/M. Segar
Mortos em ataque no Japão
Um homem matou pelo menos 19 pessoas e feriu outras 45 a facadas após invadir uma clínica para pacientes com deficiência em Sagamihara, no Japão. O suspeito se entregou à polícia e disse ser um ex-funcionário da instituição. Segundo o jornal japonês "Asahi Shimbun", o agressor teria dito às autoridades que desejava "se livrar dos deficientes desse mundo". (25/07)
Foto: Reuters/Kyodo
Ataques no sul da Alemanha
Um refugiado sírio de 21 anos matou uma mulher e feriu outras cinco pessoas na cidade de Reutlingen, no sul da Alemanha, usando um facão. O jovem, que já tinha passagens pela polícia por crimes como agressão e roubo, foi preso. Já em Ansbach, também no sul do país, um sírio de 27 anos detonou uma bomba caseira na entrada de um festival de música e feriu 12 pessoas. Ele morreu no atentado. (24/07)
Foto: picture-alliance/dpa/Sdmg/Wassermann
Munique presta homenagens a vítimas
Flores foram espalhadas na região do shopping Olympia, no noroeste de Munique, um dia depois do ataque que deixou nove mortos e 16 feridos. Um atirador de 18 anos disparou contra clientes de uma filial do McDonald's e frequentadores do centro de compras. O prefeito de Munique decretou luto de um dia na capital da Baviera. (23/07)
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Trump encerra convenção republicana
O empresário Donald Trump aceitou oficialmente a indicação como candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos. O anúncio foi realizado num longo discurso durante o encerramento da convenção nacional da legenda em Cleveland. Ao longo de 75 minutos, Trump focou na promessa de reviver os EUA e restaurar "a lei e a ordem" no país, citando políticas rigorosas de imigração. (21/07)
Foto: Reuters/M. Segar
Merkel recebe May em Berlim
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, reuniu-se com a chanceler federal alemã Angela Merkel, em Berlim, em sua primeira viagem ao exterior. Um dos temas principais da agenda foi a saída britânica da União Europeia. May pediu mais tempo para preparar pedido formal de Brexit, que só deve ser feito em 2017, e expressou desejo de relações estreitas com aliados europeus após saída. (20/07)
Foto: picture alliance/AP images/Sight
Trump oficializado candidato à Casa Branca
O magnata Donald Trump foi nomeado oficialmente candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos durante o segundo dia da convenção nacional da legenda. No evento, que ocorre em Cleveland, Trump garantiu os 1.237 votos dos delegados do partido – o mínimo necessário para oficializar a indicação pela legenda. "É uma honra", declara o empresário. (19/07)
Foto: Reuters/M. Segar
Ataque em trem no sul da Alemanha
Um jovem do Afeganistão de 17 anos invadiu um trem regional na cidade de Würzburg, no sul da Alemanha, e feriu pelo menos cinco passageiros com golpes de machado e faca. O suspeito, que chegou sozinho ao país como requerente de asilo, foi morto pela polícia ao tentar fugir do local. Quatro pessoas estão em estado grave. As motivações do ataque não foram inicialmente esclarecidas. (18/07)
Foto: picture-alliance/AP Photo/K.-J. Hildenbrand
Novas mortes de policiais no sul dos EUA
Dez dias após morte de cinco policiais em Dallas, três outros foram fuzilados em Baton Rouge, Luisiana. Há também feridos. Os agentes da lei foram vítimas de uma emboscada quando atendiam a um chamado de emergência relativo a tiros ouvidos. Um dos suspeitos do ataque foi abatido, dois outros estão foragidos, informou porta-voz da polícia. (17/07)
Foto: Reuters/J.Bachman
Apoio em massa para Erdogan
No dia após o golpe de Estado frustrado, com saldo de 160 mortos, grande parte da população de Ancara atendeu ao apelo de políticos turcos de ponta, entre os quais o próprio chefe de Estado Recep Tayyip Erdogan, para ir às ruas reafirmar seu apoio ao governo. Na operação de limpeza subsequente já foram presos cerca de 2.800 militares e destituídos mais de 2.700 juízes. (16/07)
Foto: DW/D. Cupolo
Tentativa de golpe militar na Turquia
Militares turcos geraram caos ao declarar que tomaram "totalmente o comando" de Ancara. As autoridades locais, porém, negaram ter perdido o controle, e uma onda de ataques, manifestações e conflitos se iniciaram em Istambul e na capital. A confusão adentrou a madrugada e, na manhã do dia seguinte, o presidente Erdogan declarou ter retomado o controle da situação e fracassado o golpe. (15/07)
Foto: Reuters/T. Berkin
Dezenas de mortos em ataque na França
Um caminhão avançou sobre uma multidão e matou dezenas de pessoas em Nice, no sul da França. As primeiras declarações oficiais falavam em mais de 70 mortos. Milhares de pessoas estavam reunidas para acompanhar a queima de fogos de artifício em comemoração ao Dia da Bastilha, data nacional da França. O motorista do caminhão, carregado com armas e explosivos, foi morto a tiros pela polícia. (14/07)
Foto: Getty Images/AFP/V. Hache
A nova premiê britânica
A líder do Partido Conservador, Theresa May, tornou-se primeira-ministra britânica depois de ser nomeada pela rainha Elizabeth 2ª em audiência no Palácio de Buckingham, em Londres. May, de 59 anos, é a segunda mulher a ocupar o cargo, depois da também conservadora Margaret Thatcher (1979-1990). "Depois do referendo, temos diante de nós uma época de grandes mudanças", afirmou. (13/07)
Foto: Reuters/S. Wermuth
Funeral de policiais em Dallas
Em discurso durante o funeral dos cinco policiais mortos por um franco-atirador em Dallas, o presidente americano, Barack Obama, afirmou que o massacre expôs a "falha mais profunda" da democracia dos EUA. "Estou aqui para dizer que devemos rejeitar tamanho desespero. Estou aqui para insistir que não estamos tão divididos quanto parecemos. (12/07)
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Gay
Festa em Lisboa
Milhares de portugueses recepcionaram a seleção de Portugal no aeroporto de Lisboa após a inédita conquista da Eurocopa. Com um gol do atacante Éder, na segunda etapa da prorrogação, a Seleção das Quinas derrotou a anfitriã França, neste domingo, e conquistou seu primeiro título no futebol mundial. (11/07)
Foto: picture-alliance/dpa/P.Duarte
Protesto violento em Berlim
Berlim viveu a manifestação mais violenta dos últimos cinco anos na cidade, com 123 policiais feridos e 86 detidos. O protesto contra a desocupação de um prédio no bairro de Friedrichshein começou de forma pacífica. Horas depois, centenas de manifestantes encapuzados entraram em confronto com a polícia, atirando pedras, garrafas e fogos de artifício. A violência se estendeu por horas. (10/07)
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Massacre em Dallas
Franco-atiradores fizeram uma emboscada e abriram fogo contra policiais durante um ato contra a morte de dois negros nos EUA. Cinco agentes de segurança foram mortos e seis ficaram feridos no incidente mais mortal para a polícia americana desde o 11 de Setembro. Três suspeitos foram detidos. Um deles disse que "queria matar pessoas brancas". (08/07)
Foto: picture-alliance/dpa/S. N. Pool/The Dallas Morning News
Cunha renuncia à presidência da Câmara
O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renunciou à presidência da casa. Cunha disse que é alvo de perseguição por ter aceito a denúncia que deu início ao processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. "Resolvi ceder ao apelos generalizados dos meus apoiadores. Somente a minha renúncia poderá pôr fim a essa instabilidade sem prazo." (07/07)
Foto: Reuters/U. Marcelino
Relatório critica invasão britânica no Iraque
Um relatório divulgado em Londres criticou o ex-premiê Tony Blair e seu governo pela decisão de se unir à invasão do Iraque, liderada pelos EUA, sem que houvesse base legal satisfatória ou planejamento adequado. O chamado relatório Chilcot conclui que o Reino Unido se uniu à invasão sem esgotar as alternativas pacíficas e subestimou as consequências de sua participação na guerra. (06/07)
Foto: picture-alliance/Photoshot
Sonda Juno entra na órbita de Júpiter
Após uma viagem de cinco anos e 870 milhões de quilômetros, a sonda Juno da Agência Espacial Americana (Nasa), movida a energia solar, entrou na órbita de Júpiter. Durante 20 meses, a nave não tripulada dará 37 voltas ao redor do planeta até chegar à sua superfície. A sonda deslocou-se a uma velocidade de mais de 200 mil quilômetros por hora. Custo da missão? Cerca de 1 bilhão de dólares. (05/07)
Dois dias antes do fim do mês sagrado muçulmano do Ramadã, homem-bomba detonou colete explosivo próximo à Mesquita do Profeta, a segunda mais sagrada do islã. A explosão matou quatro seguranças, além dos próprio agressor. Horas antes, o país registrou detonações perto de uma mesquita em Qatif, cidade de maioria xiita, e de consulado americano em Jidá. (04/07)
Foto: Reuters
Mais de 100 mortos em Bagdá
Um atentado com carro-bomba matou mais de cem pessoas e feriu quase 200 numa área comercial do centro da capital iraquiana. O ataque foi reivindicado pelo grupo "Estado Islâmico" (EI). Um suicida detonou os explosivos quando passava de carro no meio de uma multidão de maioria xiita que fazia compras na véspera do final do mês sagrado muçulmano do Ramadã. (03/07)
Foto: picture-alliance/dpa/A. Abbas
Ataque em Bangladesh
Vinte reféns foram mortos por terroristas do grupo "Estado Islâmico" (EI) num restaurante frequentado por estrangeiros na região diplomática de Daca, capital de Bangladesh, anunciou o Exército do país. A maioria das vítimas era da Itália e Japão. Seis jihadistas e dois policiais foram mortos. (02/07).
Foto: Reuters/M. Hossain Opu
Cem anos da Batalha do Somme
Reino Unido e França lembraram o centenário do início da Batalha do Somme, em que os dois países combateram as linhas de defesa alemãs em território francês. O combate é considerado um dos mais sangrentos da Primeira Guerra Mundial. Mais de 1 milhão de pessoas morreram, ficaram feridas ou desapareceram durante a Batalha do Somme, que durou de julho até novembro de 1916. (1º/07)