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Cresce temor de crise humanitária na Síria

22 de dezembro de 2019

Após veto de Pequim e Moscou, ajuda humanitária a 4 milhões de sírios pode ser suspensa em breve. Enquanto isso, regime de Assad intensifica ofensiva em Idlib e leva milhares a fugirem em direção à Turquia.

Homens observam casas destruídas em bombardeio na Síria
Recentes bombardeios deixaram cerca de 30 mortosFoto: picture-alliance/AP Photo/G. Al-Sayed

O temor de uma crise humanitária na província de Idlib, no noroeste da Síria, aumentou em meio a uma série de ataques aéreos que levaram milhares a abandonar suas casas, numa ofensiva do regime de Bashar al-Assad. Pelo menos, 25 mil civis fugiram da região em direção à Turquia nos últimos dois dias, noticiou a imprensa turca neste domingo (22/12).

A Turquia abriga cerca de 3,7 milhões de refugiados sírios e teme que a ofensiva gere outra onda migratória na região onde vivem cerca de 3 milhões de sírios, muitos que já foram deslocados de outras partes do país.

Controlada pelo antigo braço sírio da Al-Qaeda, o Tahrir al-Sham, Idlib é o último grande bastião dos insurgentes. De acordo com o Observatório Sírio para Direitos Humanos, o regime de Assad avança em direção à cidade de Maaret al-Numan, um dos maiores centros urbanos da província.

Centenas de pessoas foram mortas neste ano em ataque a áreas residenciais da província, segundo as agências da ONU. Apesar da ofensiva militar da Síria e da Rússia lançada em abril ter diminuído após um cessar-fogo anunciado em agosto, o regime vem intensificando os bombardeiros em Maaret al-Numan desde 16 de dezembro.

Equipes de resgate relataram que os bombardeios deixaram cerca de 30 mortos na região desde sexta-feira. Desde quinta-feira, aliados de Damasco travam batalhas com jihadistas e rebeles. O regime conseguiu retomar o controle de 25 cidades e vilarejos, segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos.

Um residente da região contou à agência de notícias AFP que equipes de resgate e grupos locais trabalham incansavelmente para remover famílias para o norte. "Nenhum lugar é seguro. Se ficarmos nas nossas casas ou se fugirmos, morreremos de qualquer maneira", afirmou.

Assad prometeu retomar o controle de Idlib, levando muitos residentes da região a fugirem. De acordo com a agência estatal de notícias turca Anadolu, cerca de 205 mil pessoas abandonaram suas casas na província desde o início de novembro devido aos ataques.

A ONU pediu uma "redução imediata" da violência e alertou para novos deslocamentos em massa se a situação continuar. ONGs alertaram para uma eventual catástrofe humanitária na Síria depois que a Rússia, aliada de Assad, e a China vetaram o prolongamento de uma iniciativa para levar ajuda à população da região que faz fronteira com a Turquia.

Na sexta-feira, Pequim e Moscou barram um projeto de resolução da Alemanha, Bélgica e Kuwait para prolongar por um ano a ajuda humanitária que chega a 4 milhões de sírios, a partir de pontos de passagem na Turquia e Iraque, designados pela ONU sem autorização oficial de Damasco. A ajuda beneficia sobretudo habitantes de regiões que não são controladas pelo governo, como Idlib.

O mandato da ONU para essa tarefa termina em 10 de janeiro. Se uma alternativa não for encontrada até então, a assistência nas regiões controladas por rebeldes será interrompida.

"As famílias necessitadas, muitas das quais já tiveram de fugir várias vezes, dependem da ajuda fornecida pelas operações transfronteiriças da ONU", alertou a ONG Oxfam num comunicado. "Não há qualquer meio realista para chegar a essas centenas de milhares de famílias" a partir do interior da Síria, acrescentou.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, criticou o veto ao projeto. "A Rússia e a China, que escolheram fazer uma declaração política ao se opor a essa resolução, têm sangue nas mãos".

O conflito na Síria deslocou milhões de pessoas pelo mundo e matou 370 mil desde seu início em 2011 após a repressão de protestos contra o governo de Assad.

CN/rtr/afp/dw

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