Crescem ataques a alojamentos de refugiados na Alemanha
8 de novembro de 2022
Após seis anos de quedas, Alemanha deve terminar o ano com mais ataques a abrigos de refugiados do que em 2021. Organizações de direitos civis fazem apelo por maior proteção contra violência de extrema direita.
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Ataques contra abrigos de refugiados na Alemanha aumentaram significativamente em 2022. Nos três primeiros trimestres deste ano, 65 ataques foram registrados no país – quase tantos quanto em todo o ano de 2021.
Os dados foram divulgados pelo governo federal nesta terça-feira (08/11), em resposta a um pedido da bancada parlamentar do partido oposicionista A Esquerda.
Desde 2015, o Ministério do Interior da Alemanha registrava uma tendência de queda nos ataques a alojamentos de refugiados. Naquele ano, no auge da crise migratória, foram pouco mais de mil incidentes. Em 2017, o número caiu para 280; em 2020, foram 84 infrações; enquanto no ano passado foram registrados 70 ataques.
A marca de 2021 deve ser superada até o fim deste ano. Em vista dos números crescentes, a porta-voz do partido A Esquerda para temas relacionados a políticas de refugiados, Clara Bünger, fez um apelo por "clamor social".
Segundo Bünger, todas as forças democráticas devem se opor claramente à violência racista e de direita. Costumeiramente, suspeita-se que ataques dessa natureza sejam executados por extremistas de direita.
De acordo com o Ministério do Interior da Alemanha, na maioria dos casos em 2022 foram registrados apenas danos materiais, pichações em edifícios ou propaganda extremista.
Ataques incendiários no Leste Alemão
Entre os delitos mais recentes estão dois supostos ataques incendiários contra dois antigos hotéis remodelados para acomodar refugiados. Ambos incidentes ocorreram no Leste Alemão: um em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, num abrigo para refugiados ucranianos, e outro na Saxônia – este ainda em fase de instauração. Não houve feridos.
Em agosto, houve uma tentativa de atacar um alojamento de refugiados em Leipzig, também na Saxônia. Nesse caso, os focos de incêndio foram rapidamente extintos, e nenhum dos moradores ficou ferido.
No período de janeiro a final de setembro, também foram contabilizados 711 ataques a refugiados fora dos respectivos alojamentos. Estes contemplaram principalmente roubos ou crimes violentos. Para efeito de comparação: no mesmo período do ano passado, foram 965 ataques em todo o país.
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Organizações pedem maior proteção
Diante de tais números, a Fundação Amadeu Antonio – uma organização de direitos civis que ostenta o nome do angolano Amadeu Antonio Kiowa, morto em 1990 e considerado uma das primeiras vítimas fatais da violência de extrema direita na Alemanha – pediu maior proteção para os alojamentos de refugiados. A fundação propôs mais patrulhas policiais para dissuadir potenciais agressores.
A organização Pro Asyl também apelou por melhores condições de alojamento. Cada vez mais refugiados têm que viver em acomodações improvisadas. Segundo Karl Kopp, representante da Pro Asyl na Europa, esses "lugares de miséria" correm o risco de "se tornar facilmente alvos de ataques".
A Fundação Amadeu Antonio e a Pro Asyl coletam dados sobre crimes relacionados a refugiados desde 2015. Segundo as duas instituições, os números são do Departamento Federal de Investigações (BKA, na sigla em alemão). Até o final de 2021, houve mais de 11 mil incidentes, incluindo 284 ataques incendiários e quase 2 mil casos de lesão corporal. Segundo as organizações, já são mais de 12.100 crimes contabilizados em seis anos.
pv (DPA, ots)
Dez refugiados famosos
Músicos, atores, políticos, cientistas dos quatro cantos do mundo: em comum, o destino de refugiado. Todos deixaram seus países natais, por um período breve ou o resto da vida, para se salvar da guerra e perseguição.
Foto: akg-images/picture alliance
Touro Sentado (1831-1890)
O chefe sioux Tatanka Iyotake, "Touro Sentado", um dos mais célebres nativos dos Estados Unidos, viveu quatro anos como refugiado. Em 1877, cerca de um ano após a batalha de Little Bighorn, liderada pelo general Custer, ele fugiu com seus guerreiros para o Canadá. Após voltar aos EUA, o líder indígena foi preso e colocado numa reserva. Ele morreu baleado durante uma nova tentativa de prisão.
Foto: Imago/StockTrek Images
Albert Einstein (1879-1955)
Autor da teoria da relatividade e Nobel da Física, o judeu alemão Albert Einstein visitava os EUA quando Adolf Hitler assumiu o poder, em 1933. Manter-se longe da Alemanha sob regime nazista não foi decisão fácil. Einstein dizia se considerar um "privilegiado pela sorte", por poder viver em Princeton, mas também "quase envergonhado de viver em tamanha paz, enquanto todo o resto luta e sofre".
Foto: Imago/United Archives International
Béla Bartók (1881-1945)
Apesar de não ser judeu, o compositor, pianista e musicólogo Béla Bartók se opunha à ascensão do nazismo e à perseguição antissemita, e em 1940 emigrou para os EUA. "Minha principal ideia, que me domina inteiramente, é a irmandade dos homens, acima e além de todos os conflitos", disse certa vez. No entanto, sua carreira musical gorou no exílio, e ele acabou por morrer pobre e esquecido.
Foto: Getty Images
Marlene Dietrich (1901-1992)
A atriz e cantora alemã Marlene Dietrich já era uma estrela nos Estados Unidos quando adquiriu a nacionalidade americana, em 1939, voltando definitivamente as costas para a Alemanha nazista. Refugiada célebre, ela se manifestava contra Hitler e cantou para os soldados americanos durante a Segunda Guerra. Embora com seus filmes banidos na terra natal, ela dizia: "Eu nasci alemã e sempre serei."
Foto: picture-alliance/dpa
George Weidenfeld (1919-2016)
Nascido em Viena, o editor judeu George Weidenfeld emigrou após a anexação da Áustria pelos nazistas. Em Londres, ele cofundou uma casa editora e se tornou barão. Além de se engajar pela causa israelense, estabeleceu um fundo para ajudar os cristãos que fogem do "Estado Islâmico". "Não posso salvar o mundo [...] mas tenho uma dívida a saldar", disse certa vez.
Foto: picture-alliance/dpa/N.Bachmann
Henry Kissinger (*1923)
Natural da Baviera, Henry Kissinger teve papel central na configuração da política externa dos EUA. Contudo, antes de se tornar autoridade em relações internacionais e professor em Harvard, o 56º secretário de Estado americano tivera que fugir da perseguição nazista em 1938. Já nonagenário, ele revelaria que a Alemanha "nunca deixou de ser parte" de sua vida.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schiefelbein
Miriam Makeba (1932-2008)
A cantora sul-africana Miriam Makeba era opositora ferrenha do regime do apartheid. Em 1960, durante turnê nos EUA, o governo de seu país lhe cancelou o passaporte. Três anos mais tarde ela foi proibida de entrar na África do Sul, a qual ela só reveria após décadas de exílio nos EUA e Guiné. "Mama Africa" morreu durante um show na Itália, em apoio à luta do autor Roberto Saviano contra a máfia.
Foto: Getty Images
Milos Forman (1932-2018)
Apesar de já ser um cineasta respeitado, Milos Forman voltou as costas à Tchecoslováquia em 1968, após a Primavera de Praga, indo estabelecer-se nos Estados Unidos. Em sua produção do outro lado da Cortina de Ferro dois Oscars de melhor filme se destacam: o drama psiquiátrico "Um estranho no ninho" (1975) e "Amadeus" (1984), sobre Mozart.
Foto: picture-alliance/abaca/V. Dargent
Madeleine Albright (1937-2022)
A primeira secretária de Estado americana, Madeleine Albright, nasceu na atual República Tcheca. Sua família fugiu para os EUA em 1948, quando os comunistas assumiram o poder. A partir de seu envolvimento intenso na política e depois de ser embaixadora americana na ONU, ela assumiu a chefia da diplomacia de 1997 a 2001, durante o segundo mandato de Bill Clinton.
Foto: Getty Images/AFP/S. Loeb
Isabel Allende (*1942)
O presidente Salvador Allende se suicidou após o golpe de Estado no Chile em 1973. A filha de um primo dele, Isabel, que o chamava de "tio", fugiu para a Venezuela após receber ameaças de morte. Mais tarde emigrou para os EUA e se estabeleceu como autora. Entre seus romances, que contam entre os clássicos do realismo mágico, destacam-se "A casa dos espíritos" e "Eva Luna".