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Criador das UPPs deixa cargo em meio a crise no Rio

11 de outubro de 2016

Um dia após tiroteio deixar três mortos em comunidade em Copacabana, Beltrame anuncia saída da Secretaria de Segurança. Decisão ocorre em momento delicado para o estado, em grave crise financeira.

Brasilien Polizeieinsatz gegen Drogenhändler in Rio de Janeiro
Polícia desce o morro em Copacabana com os detidos após tiroteioFoto: picture-alliance/dpa/A. Lacerda

O governo do Rio de Janeiro confirmou nesta terça-feira (11/10) que o secretário de Segurança Pública do estado e responsável pelo programa de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), José Mariano Beltrame, deixará o cargo após quase uma década.

O anúncio ocorre em meio a uma acentuada crise na segurança no estado. Beltrame enviou seu pedido de exoneração na segunda-feira, mesmo dia em que um tiroteio entre policiais e traficantes gerou terror nas comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, em Copacabana e Ipanema, zona sul do Rio.

O confronto, que se estendeu desde a manhã até o final da tarde, terminou com três suspeitos mortos e cinco feridos, sendo três policiais militares, incluindo o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, ferido por estilhaços na cintura.

A saída do secretário ocorre num momento delicado para o estado, que vive uma das maiores crises financeiras de sua história, o que aumentou as dificuldades em áreas essenciais, como a segurança.

Delegado da Polícia Federal, Beltrame assumiu a Secretaria de Segurança em janeiro de 2007, no início do governo de Sérgio Cabral, e se tornou conhecido pela implantação das UPPs na cidade do Rio. Ele é o secretário da pasta a permanecer mais tempo no cargo.

Ataque à UPP

O confronto teria começado quando traficantes atacaram a base da UPP no Pavão-Pavãozinho. As autoridades, porém, ainda não disseram o motivo do ataque.

"Neste primeiro confronto, um marginal foi baleado, ele estava com um [fuzil] AK47. E um segundo foi baleado, com uma pistola. Na parte da tarde, vários criminosos ficaram encurralados na parte da mata, quando houve uma negociação e eles se renderam", relatou o subcomandante do Batalhão de Choque, major Vinícius Carvalho.

Uma líder comunitária local que não quis se identificar afirmou que o ataque à UPP ocorreu após um jovem, que teria ligação com o tráfico, ter sido morto pela PM.

"A informação que eu tive é que um policial atirou no rosto dele, com intenção de matar. A comunidade nunca foi contra a UPP. Somos contra algumas situações que acontecem aqui, como covardia e agressão a trabalhadores. Somos contra alguns policiais", disse ela.

Polícia deixa comunidade do Pavão-Pavãozinho após tiroteioFoto: picture-alliance/AP Photo/S. Izquierdo

"Cenário de guerra"

O Pavão-Pavãozinho amanheceu com policiamento reforçado nesta terça-feira, assim como os acessos às comunidades da região. O jornal O Globo relata que o clima era de aparente tranquilidade, diferente do que se viu no dia anterior.

Na segunda-feira, parte do comércio de Copacabana e Ipanema fechou as portas por conta do tiroteio. O tráfego de veículos em ruas e túneis nos arredores foi interrompido por medida de segurança.

Testemunhas relataram momentos de terror. Segundo a bibliotecária Helena Duarte, o cenário era de guerra. Em depoimento à Agência Brasil, a moradora disse que as crianças que estavam na biblioteca em que ela trabalha, em frente à comunidade, viveram minutos de terror durante a troca de tiros.

"Os pais deles nos ligavam perguntando se estava tudo bem e ordenavam que não deixássemos eles subirem, pois lá em cima estava perigoso demais. Essa rua estava tomada por carros da Polícia Militar, do Bope. Eles chegavam a trocar tiros aqui da esquina. Para mim, que estava dentro da biblioteca, parecia que era do lado. Foi um terror. Graças a Deus ninguém se feriu", afirmou.

Beltrame, que deve deixar o cargo no final deste mês, após o segundo turno das eleições municipais do dia 30 de outubro, disse nesta terça-feira que "as imagens produzidas ontem são péssimas para a cidade, mas a polícia não pode se omitir e, mais uma vez, cumpriu seu papel". "A UPP e o Comando de Operações Especiais evitaram novamente uma guerra entre quadrilhas", opinou o secretário.

EK/abr/ots

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