Criadoras da "tesoura genética" ganham Nobel de Química
7 de outubro de 2020
Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna desenvolveram método de edição do genoma CRISPR-Cas9. Para academia sueca, tecnologia revolucionou ciências biológicas e pode contribuir para a cura de doenças hereditárias.
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A dupla de pesquisadoras Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna foi agraciada nesta quarta-feira (07/10) com o Prêmio Nobel de Química pela descoberta de um método para a edição do genoma conhecido como CRISPR-Cas9 ou "tesoura genética".
"Usando esse método, pesquisadores podem mudar o DNA de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão. Essa tecnologia teve um impacto revolucionário nas ciências biológicas, está contribuindo para novas terapias de câncer e poderá tornar o sonho de curar doenças hereditárias uma realidade", afirmou o comitê responsável pelo prêmio.
A francesa Charpentier, de 51 anos, e a americana Doudna, de 56 anos, se tornaram a sexta e a sétima mulheres a serem agraciadas com o Nobel de Química, se juntando à lista que inclui Marie Curie, a primeira mulher a ganhar o prêmio nesta categoria, em 1911, e Frances Arnold, laureada em 2018.
Enquanto pesquisava uma bactéria nociva comum, Charpentier descobriu uma molécula que era parte do antigo sistema imunológico da bactéria e que combate vírus cortando partes do seu DNA. Depois de publicar o estudo em 2011, ela trabalhou com Doudna para recriar a tesoura genética da bactéria, simplificando a ferramenta para usá-la em outros materiais genéticos. Elas reprogramaram então a tesoura para ser usada em qualquer molécula do DNA.
A ferramenta CRISPR-Cas9 já contribuiu para ganhos significativos na resistência de grãos, que tiveram o código genético alterado para resistir melhor a pragas e secas. A tecnologia também impulsionou tratamentos inovadores para o câncer.
A dupla de pesquisadoras agraciada este ano dividirá o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 1,1 milhão de dólares).
Elas normalmente receberiam o prêmio do rei Carl Gustaf 16º numa cerimônia formal em Estocolmo no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do cientista Alfred Nobel. Mas a cerimônia presencial foi cancelada este ano devido à pandemia do coronavírus e será substituída por uma cerimônia televisionada, com os laureados recebendo os prêmios em seus países de origem.
Seguindo a tradição, o prêmio de química é o terceiro anunciado todos os anos, após o de medicina e o de física. Este ano, o Nobel de Medicina premiou o trio de cientistas Harvey Alter, Charles Rice e Michael Houghton pela descoberta do vírus da hepatite C, e o de Física os pesquisadores Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez por estudos sobre a formação de buracos negros.
Os laureados nos campos de literatura e paz serão anunciados nos próximos dias.
CN/rtr/dpa/afp/ap
Nobel da Paz: os ganhadores controversos
Por que Yasser Arafat, as Nações Unidas ou mesmo Barack Obama receberam o Nobel da Paz? Esta pergunta é feita praticamente após cada anúncio em Oslo. A crítica ao prêmio é tão antiga quanto o próprio Nobel.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roald
Uma longa discussão
Já no primeiro Prêmio Nobel da Paz, para Henry Dunant, da Suíça (à esquerda), e Frederic Passy, da França (à direita), em 1901, a Comissão do Nobel estava dividida. Dunant fundou a Cruz Vermelha Internacional e, juntamente com Passy, iniciou as Convenções de Genebra. Os membros da comissão temiam que, ao tornarem a guerra "mais humana", as Convenções de Genebra pudessem torná-la mais aceitável.
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Beligerante e pacificador
O ex-presidente americano Theodore Roosevelt nunca foi considerado um pacifista, por causa de seu envolvimento na Guerra Hispano-Americana. Ele ajudou os cubanos a se libertarem do colonialismo, mas logo tropas americanas chegariam a Cuba, garantindo aos EUA o controle da ilha. Roosevelt recebeu o prêmio em 1906 por outro motivo: seus esforços de paz na guerra russo-japonesa.
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Pacificador racista
O 28º presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, recebeu o Nobel da Paz de 1919 "por suas contribuições para o fim da Primeira Guerra Mundial e a fundação da Liga das Nações", precursora da ONU. Mas ao mesmo tempo, ele acreditava na supremacia dos brancos e era um defensor da segregação racial
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Prêmio da paz sem paz
O então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e o líder norte-vietnamita Le Duc Tho tiveram papel decisivo nos Acordos de Paz de Paris de 1973, para acabar com a guerra no Vietnã. Mas Tho se recusou a aceitar o prêmio, alegando que ainda não havia paz. De fato, enquanto os EUA se retiraram em grande parte após os acordos, o conflito no Vietnã, no Laos e no Camboja duraria mais dois anos.
Foto: picture-alliance
De golpista a Nobel da Paz
Em 1978, Anwar Sadat (esq.), do Egito, e Menachem Begin (dir.), de Israel, acertaram um acordo de paz entre os dois países, sob mediação de Jimmy Carter (centro). No mesmo ano, Sadat e Begin receberam o Nobel. O prêmio para Sadat, no entanto, causou polêmica, pois ele participou do golpe de 1952, que derrubou o rei Farouk.
Foto: AFP/Getty Images
Manutenção da paz e omissão
Os capacetes azuis são as forças de paz das Nações Unidas. Pelo seu trabalho, eles receberam o Nobel em 1988. No entanto, não faltaram críticas nos anos seguintes: as tropas foram acusadas de abusar sexualmente de mulheres e crianças e forçá-las à prostituição. No genocídio de Ruanda e no massacre de Srebrenica, foram criticados por não intervirem.
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Heroína vencida
Quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi era um símbolo da luta sem violência pela democracia na sua terra natal, Myanmar. Nos anos de 2010, no entanto, ela caiu em descrédito, acusada de não proteger a minoria muçulmana rohingya do genocídio em 2017. Não lhe foi permitido tomar o poder, mas o seu partido tem a maioria no parlamento.
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O homem de duas caras
Embora tenha sido considerado um defensor do apartheid antes de ser presidente da África do Sul, Frederik de Klerk desempenhou um papel fundamental para o fim do regime de segregação racial em seu país. Ele tirou da prisão Nelson Mandela e outros políticos do Congresso Nacional Africano, defendeu a liberdade de imprensa e aboliu as leis do apartheid. Em 1993, ele e Mandela receberam o Nobel.
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"Ganhador indigno"
Também houve polêmica em 1994, quando o chefe da Organização para a Liberação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, juntamente com o então premiê israelense, Yitzhak Rabin, e seu ministro de Relações Exteriores, Shimon Peres, recebeu o prêmio por seus esforços de paz no Oriente Médio. Um político norueguês até renunciou em protesto contra o Comitê do Nobel, chamando Arafat de "ganhador indigno".
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Um mundo melhor graças à ONU?
As Nações Unidas e seu então secretário-geral, Kofi Annan, receberam o Nobel da Paz de 2001 "por seu trabalho para um mundo melhor organizado e mais pacífico". Mas os críticos acusam a ONU de não defender esses ideais e de fracassar frequentemente, porque alguns países podem bloquear resoluções e ações conjuntas no Conselho de Segurança.
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Louros antecipados para Obama
Barack Obama estava na presidência dos EUA há nove meses quando ganhou o prêmio em 2009 por seus "esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos". Os críticos consideraram a homenagem prematura. Mais tarde, Obama se notabilizaria por expandir ataques com drones no Iêmen e na Líbia, algo altamente controverso, de acordo com o direito internacional.
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"Luta não-violenta" e ajuda a criminoso de guerra
O ex-presidente da Libéria Charles Taylor foi condenado por crimes de guerra vinculados a milhares de assassinatos, estupros e tortura. Os críticos acusam sua sucessora, Ellen Johnson Sirleaf, ministra das Finanças de Taylor, de tê-lo apoiado na violência e corrupção. No entanto, em 2011, ela ganhou o Nobel por sua "luta não violenta pela segurança das mulheres".
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Tratamento questionável a requerentes de asilo
Cercas de arame farpado, detenção, condições desumanas nos campos de refugiados: ativistas dos direitos humanos criticam as políticas de refugiados da União Europeia há anos. Mesmo assim, a UE foi homenageada em 2012 pelo "avanço da paz e da reconciliação, da democracia e dos direitos humanos na Europa".
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Um pouco de paz
Abiy Ahmed mudou muito desde que se tornou primeiro-ministro etíope em 2018. No impasse do conflito fronteiriço com a vizinha Eritreia, a aproximação diplomática e a abertura das fronteiras foram incluídas. Mas o processo de paz estagnou - e enquanto Abiy goza da fama do Prêmio Nobel, na Eritreia Isayas Afewerki continua governando com mão de ferro.