Crianças refugiadas de Calais processam o Reino Unido
30 de dezembro de 2016
Advogado das crianças acusa Ministério do Interior de violar compromisso de receber menores vulneráveis. De 36 jovens que pediram asilo, 28 tiveram requerimento negado, enquanto outros oito aguardam decisões.
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Dezenas de crianças que pediram asilo na Grã-Bretanha após viverem no campo de refugiados de Calais lançaram um desafio legal contra o tratamento dado pelo governo britânico às suas reivindicações. Advogados dos jovens acusaram a ministra do Interior, Amber Rudd, de violar o compromisso governamental firmado no mês de abril de receber menores vulneráveis.
Toufique Hossain, advogado dos menores, disse ao jornal inglês Guardian que busca um recurso na Suprema Corte. O caso se refere a 36 crianças que viveram no campo de refugiados conhecido como "Selva de Calais". Dessas, 28 tiveram seus pedidos de asilo negados e outras oito aguardam decisões, informou o diário.
Em outubro, quando o campo foi desmantelado, todos foram distribuídos entre 15 centros de acolhimento pela França. Entre os que tiveram pedidos recusados, 11 têm 14 anos, sete têm 15, nove têm 16 e um tem 17. Dezesseis deles são da Eritreia, 11 são do Afeganistão e um é do Sudão.
De acordo com Hossain, o Ministério do Interior descumpriu a seção 67 do Ato de Imigração, também conhecido como emenda Dubs, que trata do acolhimento de menores refugiados. O órgão foi acusado de não ter realocado muitas das crianças mais vulneráveis no Reino Unido, além de não ter fornecido justificativas adequadas para a rejeição dos pedidos.
A pasta também é criticada por ter estabelecido regras estritas demais para estabelecer quem pode ou não ficar. A norma estabelece que serão considerados os pedidos de crianças até 12 anos e alto risco de exploração sexual, ou de até 15 anos e de nacionalidade síria ou sudanesa.
Alf Dubs, membro do Partidos dos Trabalhadores britânico e responsável por arrancar o compromisso do governo, disse à agência AP que os pré-requisitos "violaram tanto a palavra como o espírito da emenda". "Acho que eles voltaram atrás com a promessa", disse Dubs, ele próprio um refugiado judeu trazido para Londres em 1939.
O Ministério do interior afirma ter acolhido mais de 750 crianças de Calais neste ano.
IP/ap/afp
A miséria de refugiados no norte da França
Cerca de 2 mil imigrantes padecem no frio e na lama num acampamento perto da cidade portuária de Dunquerque. Enquanto esperam por uma oportunidade de rumar para o Reino Unido, eles dependem da ajuda de voluntários.
Foto: DW/B. Riegert
No meio da lama
Estima-se que um acampamento próximo à comuna de Grande Synthe, perto da cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, abrigue 2 mil pessoas em pequenas tendas. À noite, o frio é intenso, e, quando chove, o local fica repleto de lama.
Foto: DW/B. Riegert
Persistência
Lizman vem da região curda do Iraque. "Em casa estamos em guerra", diz ele, que tem como objetivo chegar à Inglaterra. O iraquiano montou um café numa das barracas do acampamento, onde os jovens matam o tempo.
Foto: DW/B. Riegert
Objetivo: Reino Unido
Para proteger a barraca da sujeira e do frio, o iraquiano Asis conseguiu um martelo emprestado. O jovem curdo quer atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra. Para isso, ele teria que pagar até 5.000 euros a um traficante. "Tem que ser melhor do outro lado", espera.
Foto: DW/B. Riegert
Sopro de esperança
O número de crianças que vive no acampamento repleto de lixo e lama não é claro. Voluntários coletaram ursinhos de pelúcia e os distribuíram na "barraca das crianças".
Foto: DW/B. Riegert
Perspectivas
Uma criança perdeu esta boneca na lama. Da mesma maneira, a esperança de muitas pessoas acaba desaparecendo no acampamento. À noite é muito fria, e não há iluminação. Apenas alguns banheiros químicos e chuveiros funcionam.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários do Reino Unido
O britânico Chris Bailey serviu como soldado no Iraque. Agora ele ajuda migrantes que querem chegar ao seu país. "A situação aqui é pior do que a de alguns lugares que vi na guerra", diz o veterano. Ele distribui cobertores e botas de borracha que foram doadas.
Foto: DW/B. Riegert
Bem-vindos à França
Além de chá, Denise (à esq.) e Maryse oferecem um bom papo aos imigrantes. Elas moram em frente ao acampamento. Uma rua separa dois mundos completamente diferentes. "As autoridades não se importam", opina Denise. Muitos vizinhos querem que os migrantes saiam dali.
Foto: DW/B. Riegert
Onde está o governo?
Um voluntário batizou com nomes de políticos europeus algumas das vias que levam até o precário acampamento. Esta, por exemplo, é a "Avenida François Hollande", porque o governo francês não se importa com o local. A polícia não dá segurança alguma. Moradores relatam violência entre grupos de imigrantes, principalmente à noite.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários da Alemanha
O número de refugiados que chegam a Munique diminuiu. "Aqui nós seremos necessários", diz Sinan von Stietencron da Volxküche München, iniciativa que distribui alimentos a migrantes na cidade alemã. Com a cozinha móvel, ele viajou com amigos da Baviera para o Canal da Mancha.
Foto: DW/B. Riegert
Emergência
A organização de ajuda humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) vacinou os moradores do acampamento contra sarampo e gripe. Especialmente as crianças acabam doentes, devido à umidade, ao frio e às péssimas condições de higiene. A MSF montou uma estação de emergência em Grande Synthe, a primeira unidade operacional da organização no coração da Europa.
Foto: DW/B. Riegert
Seguir adiante
Agachado dentro de sua barraca, Asim diz que fugiu do "Estado Islâmico" no Iraque. Ele se esforça para manter o pequeno espaço limpo e até oferece um chá para a repórter da DW. "Todos querem seguir adiante", diz o iraquiano.
Foto: DW/B. Riegert
A última estação
O porto de Dunquerque fica a 10 quilômetros do acampamento. As chances de conseguir chegar à Inglaterra partindo daqui são mínimas. Quase ninguém quer entrar com um pedido de asilo na França. O que fazer agora? Pagar um transporte clandestino para atravessar o Canal da Mancha? Recuar para a Bélgica ou Alemanha? Ou simplesmente esperar?