Crianças sírias nunca sofreram tanto, afirma Unicef
13 de março de 2017
Fundo das Nações Unidas relata 652 mortes de crianças no ano passado, denuncia mais de 850 recrutamentos para combate e afirma que 6 milhões necessitam de assistência.
Anúncio
O ano de 2016 foi o de maior sofrimento para as crianças sírias, de acordo com um relatório divulgado nesta segunda-feira (13/03) pelo Unicef. O número de violações de direitos humanos atingiu, no ano passado, o maior nível desde o início do conflito entre forças do presidente Bashar al-Assad e rebeldes.
"O nível de sofrimento não tem precedentes. Milhões de crianças na Síria estão permanentemente sob a ameaça de ataques, as suas vidas estão totalmente viradas do avesso", afirmou o diretor regional do Unicef para o Oriente Médio e norte da África, Geert Cappelaere.
De acordo com o relatório, 652 crianças foram mortas na Síria em 2016, um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Ao menos 255 morreram na sua escola ou nas proximidades. "Os casos confirmados de morte, mutilação e recrutamento de crianças aumentaram significativamente no ano passado, com o aumento da violência em todo o país", diz o documento.
Mais de 2,8 milhões de crianças em situação vulnerável estão em áreas de difícil acesso e, dessas, 280 mil estão cercadas e praticamente sem acesso à ajuda humanitária, afirma o documento. Ao todo, 6 milhões de crianças necessitam de assistência, ou 12 vezes mais do que em 2012.
Na linha de frente
Segundo o Unicef, mais de 850 crianças foram recrutadas para participar de combates, o dobro do registrado em 2015. "As crianças estão sendo recrutadas para combater diretamente nas linhas da frente e participam cada vez mais ativamente, incluindo casos extremos de execuções, como guardas prisionais ou em atentados suicidas", alertou o Unicef.
Além disso, a dificuldade de acesso a determinados locais e de envio de assistência médica não permite avaliar "a verdadeira dimensão do sofrimento das crianças nem fazer chegar com a devida urgência assistência humanitária às meninas e meninos mais vulneráveis".
De acordo com o órgão das Nações Unidas, "além das bombas, balas e explosões, as crianças estão morrendo em silêncio muitas vezes por doenças que poderiam ser facilmente evitáveis". Crianças refugiadas também estão sendo forçadas a casamentos precoces e trabalho infantil para ajudar no sustento das famílias.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância apelou aos envolvidos no conflito e à comunidade internacional para que encontrem uma "solução política imediata", ao ressaltar que as crianças estão amedrontadas diante das "terríveis consequências para sua saúde, bem-estar e futuro". O Unicef também pediu que áreas sitiadas sejam liberadas para o envio de ajuda humanitária e apoio financeiro continuado para ajudar as crianças sírias.
A guerra na Síria vai completar seis anos nesta quarta-feira, com mais de 300 mil mortos. Mais de 2,3 milhões de crianças vivem como refugiadas na Turquia, no Líbano, na Jordânia, no Egito e no Iraque.
KG/ap/lusa
2015, o ano dos refugiados
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.