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Criatividade empresarial e musical em tempos de coronavírus

23 de março de 2020

Fechadas há mais de uma semana, casas noturnas de Berlim passam a transmitir apresentações de DJs todas as noites ao vivo. Financiamento coletivo é lançado para salvar cena de música eletrônica da cidade.

Pista de dança
Casas noturnas de Berlim oferecem som para pista de dança em casaFoto: picture-alliance/dpa/J. Eisele

Berlim é famosa por suas casas noturnas e pelo cenário de música eletrônica, com famosas baladas que abrem sexta à noite e só fecham domingo à tarde. Mas há pouco mais de uma semana essa situação mudou drasticamente.

No dia 13 de março, o governo local decretou o fechamento de casas noturnas e bares da cidade diante do avanço do surto da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, na cidade. Os clubes de Berlim foram um dos focos da doença. Até então, grande parte dos contágios havia ocorrido nas dependências de dois deles. Bastou um infectado em cada balada para o novo coronavírus se espalhar.

A ordem de fechamento atingiu em cheio um setor que gera cerca de 9 mil empregos na cidade, além de produtores e artistas que se apresentam nos locais. Para tentar minimizar os impactos desta medida, a Comissão de Clubes, uma associação dos proprietários de casas noturnas de Berlim, lançou a iniciativa United We Stream na semana passada.

Desde a última quarta-feira (18/03), das 19h à meia-noite (horário local), DJs de uma determinada casa noturna se apresentaram ao vivo num evento transmitido pelo canal do YouTube da emissora de televisão franco-alemã Arte.

"Em resposta ao fechamento dos clubes em Berlim e ao fato de o resto do mundo estar em quarentena, Berlim declara sua solidariedade e traz o maior clube digital para dentro de sua casa. Se tem que festejar sozinho, que seja corretamente", afirma a comissão no site da iniciativa.

Em troca dos shows exclusivos, foi lançado um financiamento coletivo para arrecadar recursos para um fundo de emergência destinado a ajudar as casas noturnas a sobreviverem nestes "tempos difíceis". Apesar das dificuldades financeiras, a Comissão de Clubes também mostrou solidariedade e repassará 8% do valor arrecadado para uma fundação que salva migrantes no Mar Mediterrâneo.

Além disso, os clubes não perdem o humor. Na propaganda da United We Stream, destacam que as transmissões ao vivo são o mesmo que ter o melhor da balada sem enfrentar filas, além de acesso livre a todas as áreas. Nas trocas de DJs, são passadas recomendações de como se proteger do novo coronavírus, além do pedido "fique em casa".

Bom, a experiência é bem diferente de estar na balada. A qualidade da música depende muito das caixas de som ligadas ao computador, também não há iluminação típica e público. Para quem não gosta de lugares lotados, onde quase não é possível se movimentar, a festa em casa é uma boa opção.

A página oficial de Berlim também está promovendo a iniciativa, mas ressalta que o momento exige distância social e que a United We Stream é para apoiar as casas noturnas e trazer um pouco da atmosfera desses locais para seus frequentadores, e não um convite para festas privadas, que estão sendo chamadas por aqui de "Corona Party".

Parte da população aqui está tendo dificuldade de entender a gravidade da situação, apesar de as autoridades estarem o tempo todo lembrando a importância do isolamento e de permanecer em casa para evitar uma propagação absurda do vírus e o colapso do sistema de saúde, além do caos geral. Novas restrições foram anunciadas no fim de semana.

Enquanto o fechamento obrigatório e a quarentena não passam, a ideia das casas noturnas berlinenses é continuar com o projeto, todas as noites num clube diferente. E para quem gosta de música eletrônica no Brasil, dá para acompanhar essa "festa" no canal da Arte Concert a partir das 15h (horário de Brasília).

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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.

 

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