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Consumo à europeia

18 de outubro de 2010

Dois anos após o início da crise econômica global, os EUA perderam cerca de 8 milhões de postos de trabalho. Agora os norte-americanos mudam sua mentalidade e estão um pouco mais europeus, ao menos no tocante ao consumo.

Fazendo compras em Nova YorkFoto: picture alliance/Photoshot

O centro de Manhattan está extremamente agitado a esta hora do dia, transeuntes se acotovelam, apressados, pelas ruas apertadas. No entanto quase todos acham tempo para um comentário, quando se trata da pergunta: "Como a crise econômica afetou você?".

Um passante confessa: "Na verdade, eu queria comprar um televisor de tela grande e plana", mas no momento isso está fora de cogitação. Uma mulher diz que agora vai menos a restaurantes. Outra, mais jovem, conta: "Antes de fazer compras, eu reflito se realmente preciso dessas coisas". Esse é um pensamento que ocorreria a poucos estadunidenses, antes da crise.

Dinheiro não era problema

Time Square, Manhattan, na hora do rushFoto: picture-alliance/Ton Koene

"Antes da recessão, os americanos simplesmente compravam tudo o que quisessem, quando quisessem. Conseguir dinheiro não era problema", aponta Brian Newberry, estrategista de mercado da agência de marketing Northlich, em Cincinnati.

A agência realizou um estudo sobre a mudança de hábitos dos consumidores norte-americanos, após a crise. E seria muito simplista partir do princípio que eles meramente passaram a comprar menos.

Alguns "fizeram um upgrade": passaram, por exemplo, a comer fora com menos frequência, porém com maior qualidade. Outros, em contrapartida, "fizeram um downgrade": continuam saindo como antes, mas abrindo mão das entradas ou do vinho. Ou convidam os amigos para jantar em casa. "Pois não querem passar sem a boa sensação de comer junto com os amigos", explica Newberry.

"Agora, só compro qualidade", afirma um grandalhão na Wall Street de Nova York. Para ele, qualidade é mais importante do que quantidade. Segundo o especialista em questões mercadológicas Newberry, os critérios de aquisição e os valores dos estadunidenses se alteraram. As compras espontâneas também diminuíram: hoje eles "escolhem com maior cuidado e querem produtos duradouros".

Diferenças permanecem

Artigos caros e luxuosos deixaram de ser indicador de prosperidade nos Estados Unidos. "Um comportamento que, até agora, era mais característico dos europeus", observa Brian Newberry. "Eles compram produtos mais modestos, menores, com melhor desempenho ambiental, e somente quando precisam mesmo deles. E torcem para que durem bastante."

No entanto, algumas diferenças permanecerão, antecipa Jennifer James, do Departamento para América do Norte da Sociedade de Pesquisa de Consumo, em Nova York.

Ao comprar, os europeus consideram sua responsabilidade social e o meio ambiente. "Com frequência, eles agem e pensam de forma altruísta, optam pelos produtos que consideram 'certo' comprar." Por sua vez, os norte-americanos colocam seus próprios interesses em primeiro plano.

"Acima de tudo, o produto tem que ser bom para o consumidor americano, a proteção ao meio ambiente é então – se calhar –um efeito colateral positivo", descreve Jennifer James.

Loja em Berlim: consumidor europeu tem fama de ser mais criteriosoFoto: picture-alliance / ZB

Cartões de crédito estão out

Consumidores norte-americanos previdentes e criteriosos: a ideia parece boa, no entanto atravanca o impulso econômico, dentro do próprio país e em nível mundial. Pois dois terços do crescimento econômico dos EUA dependem do consumo interno. Também a Europa e a Ásia contam com as exportações para os EUA: mas lá a ordem é poupar onde for possível.

A quota de poupança é a mais alta, em décadas. Os estadunidenses quase não compram a crédito, os cartões de crédito estão out, eles preferem usar o de débito ou pagar em dinheiro vivo.

Tal fenômeno se deve, em parte, às novas regras do mercado financeiro e à mudança das condições de crédito, analisa James: as prestações são altas, não é todo mundo que pode possuir um cartão de crédito.

Essa reação à crise é especialmente pronunciada nos Estados Unidos. Na Espanha, por exemplo, onde a taxa de desemprego é ainda mais elevada do que nos EUA, os espanhóis não teriam limitado – em relação aos efeitos da crise que têm que enfrentar – tanto o seu comportamento de consumo, diz James.

Poupar contagia

"A mentalidade de poupança contagia", avalia a funcionária da Sociedade de Pesquisa de Consumo Jennifer James. Mesmo aqueles americanos que permaneceram praticamente intocados pela crise e ainda têm seu emprego restringiram suas atividades de consumo, por acharem ser este o comportamento adequado.

Shopping-center em Chicago, Illinois: templo do consumoFoto: picture alliance/Lonely Planet Images

Cuidadoso e previdente, dando preferência a produtos de qualidade e duradouros: o estrategista de mercado Brian Newberry prevê que esse comportamento aquisitivo também se manterá a longo prazo. A crise veio tão inesperada para tantos que o medo de uma repetição ficou marcado.

"A geração mais jovem observa seus pais. E está chocada pela forma como eles sofreram e como a crise os surpreendeu", comenta Newberry. "Os jovens norte-americanos não querem ser apanhados novamente assim, tão despreparados."

Autoria: Miriam Braun (av)
Revisão: Carlos Albuquerque

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