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Crise na Ucrânia põe centrais nucleares em risco

Michael Knigge (ca)15 de junho de 2014

Conflitos aumentam preocupação sobre segurança dos 15 reatores herdados da era soviética. País onde ocorreu a maior catástrofe nuclear de todos os tempos poderia ter mais um acidente em caso de guerra ou sabotagem.

Khmelnitskiy Atomkraftwerk Ukraine
Foto: alexndm / 2010-1CC BY-SA 3.0

A recente notícia sobre a falta d'água devido a uma tubulação danificada, que afetou milhares de pessoas no leste da Ucrânia, coloca em questão a segurança das usinas nucleares no país. A confiabilidade e a segurança da infraestrutura crítica, como rede elétrica e de água, é essencial para o funcionamento seguro dos reatores nucleares.

"Uma vez que se tenha decidido operar uma central nuclear ou, como neste caso, um parque de reatores nucleares, é preciso garantir que não haja situações sociais instáveis e, definitivamente, que não haja uma guerra", diz Michael Sailer, presidente da Comissão Alemã de Gestão de Resíduos Nucleares e membro da Comissão Alemã de Segurança de Reatores.

"Estamos falando de centrais nucleares que correm alto risco, mesmo que sejam construídas e mantidas adequadamente", acrescenta Sailer, que também chefia o think tank Öko-Institut (Instituto Ecológico), com sede em Freiburg. "E na Ucrânia, existe o problema adicional de que há maior potencial de erro humano devido a operadores de centrais nucleares mais desmotivados do que em qualquer outro lugar e também ao fato de que as características de segurança desses reatores são muito inferiores daquelas dos reatores modernos."

Atualmente, a Ucrânia possui quatro usinas nucleares, com 15 reatores em funcionamento. Eles são responsáveis por quase metade da demanda energética do país, de forma que seria praticamente impossível desligá-los durante a crise. Todos esses reatores vêm da era soviética, entraram em funcionamento na década de 1980 e são similares ao reator de Chernobyl, que explodiu em 1986, causando o pior acidente nuclear da história.

A maior central nuclear da Ucrânia fica em Zaporizhia, a cerca de 200 quilômetros de Donetsk – o epicentro dos confrontos entre militantes pró-Rússia e o governo de Kiev.

Perigo de sabotagem

Mas não apenas a manutenção da infraestrutura técnica e a motivação dos engenheiros que operam os reatores preocupam os especialistas. As lutas contínuas entre o governo e as forças pró-Rússia, incluindo a ocupação de edifícios, aumentam o risco de que as centrais nucleares do país também possam ser afetadas pelos conflitos.

Separatistas pró-Rússia atacaram prédio no leste da UcrâniaFoto: Reuters

Os reatores da era soviética já são menos seguros do que os da Europa Ocidental, afirma Lothar Hahn, ex-diretor da Sociedade Alemã para a Segurança de Centrais e Reatores (GRS, na sigla em alemão), o mais importante centro alemão de pesquisas de segurança nuclear. "Mas isso é ofuscado pelo perigo de sabotagem ou guerra – o que significaria uma situação dramática."

Os especialistas não quiseram descrever cenários de uma possível sabotagem ou guerra, mas enfatizaram que consideram isso um perigo real. "Não é preciso um exército, mas somente de 20 a 30 homens altamente treinados. Essas coisas são totalmente imprevisíveis", alerta Hahn.

Foi por isso que a Otan enviou uma pequena equipe de especialistas à Ucrânia, em abril, para assessorar as autoridades ucranianas na melhoria da segurança das instalações nucleares e da infraestrutura crítica, "no contexto de possíveis ameaças". Após a visita ao país, os especialistas elaboraram um relatório confidencial, que foi entregue às autoridades ucranianas.

Papel da Otan

Uma das razões para o pedido de ajuda da Ucrânia à Otan foi a "possível desestabilização" na área onde está localizada a infraestrutura estratégica, disse o embaixador ucraniano na Otan à agência de notícias Reuters.

Para Sailer, a ajuda da Otan é útil, mas limitada. A organização pode assessorar autoridades ucranianas a melhorar suas instalações com vista a uma defesa mais eficaz contra possíveis intrusos. "Mas, no final, se houver funcionários que simpatizem com os militantes pró-Rússia e o conflito evoluir, então, isso vai se tornar parte dele. E a Otan não pode ajudar, de maneira alguma, na segurança e na estabilidade da rede elétrica."

"Imaginando uma Ucrânia sem estruturas claras de comando, isso significa que a estabilidade de toda a rede elétrica está ameaçada", diz Sailer. "E uma usina nuclear sem conexão a uma rede elétrica sólida é algo extremamente perigoso."

Mais atenção

O fato de as estruturas de comando, particularmente no leste do país, já estarem tênues e enredadas em conflitos é evidenciado pelos combates em curso, pelo sequestro dos observadores da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) e pela ocupação de prédios públicos. E a tubulação de água recentemente danificada no leste da Ucrânia mostra que tudo isso pode facilmente vir a afetar a infraestrutura crítica do país.

Ruínas de Tchernobil servem de alerta para outra catástrofe nuclearFoto: DW/Y.Teyze

Apesar da ajuda da Otan, os especialistas dizem que a atenção dada às instalações nucleares na Ucrânia não é suficiente. "É realmente um problema, porque poucas pessoas estão pensando nisso", diz Sailer. "Normalmente, especialistas nucleares não focam em situações instáveis desse tipo, e as pessoas que estão preocupadas com tais situações, como diplomatas, não costumam perceber o quão sensível é uma usina nuclear."

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