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Crise sem fim: o segundo ano de Bolsonaro

30 de dezembro de 2020

Em 2020, Brasil enfrentou tripla crise – sanitária, econômica e política. Governo flertou com golpismo, e negacionismo do presidente aprofundou desastre na saúde. Paradoxalmente ele termina ano mais popular que em 2019.

Brasilien Sao Paolo Präsident Jair Bolsonaro
Bolsonaro desprezou os mortos da pandemia e alimentou crises com estados e outros poderes, mas trégua com STF e Congresso afastou, por ora, fim prematuro do seu governoFoto: Alan Santos/PR

Uma pequena chuva caiu no Pantanal em setembro, aliviando um pouco as queimadas. Os pingos ocorreram após uma breve viagem do presidente Jair Bolsonaro, que havia ignorado a destruição do bioma por semanas.

"Após a visita do nosso presidente ao Mato Grosso, no dia seguinte começa chover. Deus está com nosso presidente", escreveu no Twitter o ministro Luiz Ramos (Secretaria de Governo), como se Bolsonaro tivesse poderes milagrosos.

A mensagem foi um dos vários exemplos de como até as supostas "alas moderadoras" do governo agiram ao longo de 2020: com distorção sistemática da realidade, submissão e bajulação, mesmo beirando ao ridículo, como no caso de Ramos.

Em um ano em que o Brasil enfrentou uma combinação dramática de crise política, econômica e sanitária, Bolsonaro continuou a desprezar os protocolos do cargo e a colocar instrumentos do governo federal a serviço da sua agenda extremista, seja para promover visões conspiracionistas em relação à pandemia – que já deixou mais de 190 mil mortos – ou para proteger a família presidencial.

Ministros que não abraçaram a realidade paralela bolsonarista foram demitidos ou forçados a sair, sendo substituídos por meros carimbadores de ordens, especialmente na área crítica da Saúde.

Ainda assim, persistiu uma expectativa de Bolsonaro tivesse algum choque de realidade com a crise tripla. Não foi incomum ver títulos como "Bolsonaro muda o tom" e "Bolsonaro adota postura moderada" na imprensa brasileira ao longo do ano, que logo eram desmentidos por um novo ataque ou crise deflagrada pelo presidente.

Se houve alguma mudança de postura, não foi em relação a políticas públicas ou súbito respeito às instituições, mas apenas como estratégia imediata de sobrevivência, como no caso da aproximação com o Centrão e a trégua com o Supremo Tribunal Federal a partir de junho. Inicialmente, o presidente flertou com o golpismo ao endossar manifestações contra as instituições. O recolhimento tático só entrou em cena após as encrencas da sua família com a Justiça ameaçarem a continuidade do governo.

Em outros setores, o "Bolsonaro moderado" continuou a ser uma miragem, seja no tratamento da imprensa e de minorias, na gestão do meio ambiente e da crise sanitária, no relacionamento com governadores, na condução da política externa ou na preservação da independência de instituições como a Polícia Federal e a Abin. Nos derradeiros dias do ano, Bolsonaro ainda afirmou que desejava armar a população contra o governador João Doria, seu desafeto político, e zombou da tortura sofrida pela ex-presidente Dilma Rousseff durante a ditadura.

O "gabinete dos horrores" como resumo de 2020

Um episódio sintetizou as ações e a realidade paralela do governo Bolsonaro em seu segundo ano: o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. À época, a pandemia já avançava com força, mas em pouco menos de duas horas de reunião, o combate ao vírus não despertou interesse dos participantes.

Palavras como "UTI" e "respiradores" não foram mencionadas nem sequer uma vez. Mas "bosta", "estrume" e "vagabundos" foram ouvidas – como ofensas lançadas pelos participantes contra governadores, imprensa e ministros do STF.

Bolsonaro ignorou orientações de distanciamento durante a pandemiaFoto: Reuters/A. Machado

Ricardo Salles (Meio Ambiente) falou em aproveitar o caos da pandemia para afrouxar a legislação ambiental e até regras de patrimônio histórico. "Ir passando a boiada." Damares Alves (Família) só mencionou a pandemia para manifestar temor que a crise fosse usada por "feministas” para "trazer o aborto para a pauta".

Paulo Guedes (Economia) aproveitou para vender otimismo, apesar da crise que já sacudia o país. "O Brasil vai surpreender o mundo", disse. Ernesto Araújo (Relações Exteriores) traçou um cenário mirabolante em que o Brasil seria um dos principais atores mundiais na definição de uma "nova ordem mundial" pós-coronavírus. Bolsonaro, por sua vez, minimizou o vírus e soltou a mais célebre frase da reunião: "eu não vou esperar foder a minha família toda" ao falar sobre sua insatisfação com a Polícia Federal.

Paralelamente, participantes sem nenhuma experiência em temas de saúde falaram que "o pico" da pandemia já havia passado. No dia da reunião, o país acumulava 2.906 mortes por covid-19 e cerca de 45 mil casos.

Paradoxalmente, mesmo flertando com o golpismo e agravando decisivamente a crise sanitária, Bolsonaro termina o ano mais popular do que em dezembro de 2019, afastando, por enquanto, o risco de um fim prematuro do seu mandato.

Em dezembro, o Datafolha apontou que 37% da população considera seu governo "ótimo" ou "bom", contra 30% no mesmo período de 2019. A popularidade é maior entre os que receberam o auxílio emergencial de R$ 600 lançado para minimizar a crise – posteriormente reduzido para R$ 300.

Da "gripezinha" ao "não vou tomar vacina"

Nos dez meses posteriores à detecção do primeiro caso de covid-19 no Brasil, Bolsonaro alternou minimização do perigo, negação, indiferença, zombaria, desprezo, sabotagem das medidas de isolamento social, transferência de responsabilidade e disseminação de notícias falsas. Na reta final do ano, passou também a alimentar paranoia sobre vacinas.

Em 22 de março, disse que o número de mortes por coronavírus no Brasil não ultrapassaria os 800 óbitos pela gripe H1N1 em 2019, mesmo com a covid-19 já vitimando mais de 600 pessoas por dia na Itália. Depois, seria a vez de Bolsonaro chamar a covid-19 de "gripezinha". "E daí? Quer que eu faça o quê?", disse, quando o Brasil ultrapassou 5 mil mortes.

Pazuello e Bolsonaro. Ministro que "não sabia o que era o SUS" tentou esconder número de mortes e casos de covid-19Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dois titulares da Saúde que tentaram aplicar medidas para conter a doença e que se opuseram à promoção das "curas" duvidosas de Bolsonaro, como a hidroxicloroquina, acabaram perdendo o posto. Na prática, desde maio, Bolsonaro é o ministro da Saúde. Para tocar o dia a dia pasta, colocou um general sem nenhuma experiência na área, Eduardo Pazuello. O militar disse que, antes de assumir o cargo, "nem sabia o que era o SUS”.

Na gestão Pazuello-Bolsonaro o ministério abandonou qualquer esforço de coordenação com os estados, deixou de lado a política de distanciamento, expandiu o uso da droga favorita de Bolsonaro, não fez esforços para aumentar a testagem e até tentou esconder os números da pandemia.

As mortes explodiram sob a nova gestão. Eram 14.817 quando o general assumiu. O governo também passou a ser regularmente aconselhado por "ideólogos do negacionismo", como o deputado Osmar Terra, que afirmou que a epidemia acabaria em abril – depois mudou a previsão para junho, julho e agosto; recentemente, tem falado que a "epidemia vai acabar antes da vacina".

O desleixo do governo se refletiu até dentro do Palácio do Planalto, que virou um local de surto do vírus. Vários ministros foram infectados, além do casal presidencial. "O Brasil tem que deixar de ser um país de maricas", disse Bolsonaro, desprezando o temor pelo avanço da doença.

Agenda de Bolsonaro reflete desinteresse na pandemia. Em setembro, ele ficou uma hora acenando para motoristas numa rodoviaFoto: Marcos Corrêa/PR

Bolsonaro ainda instrumentalizou a pandemia para abrir mais uma frente da sua "guerra cultural", em vez de tratar a crise como problema sanitário. O principal símbolo dessa tática é a hidroxicloroquina, inicialmente promovida em círculos radicais de direita na internet e pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

A falta de comprovação científica não inibiu Bolsonaro. A entrada em cena do remédio permitiu que os apoiadores e o círculo radical do presidente rotulassem os críticos da estratégia do governo – ou da falta da estratégia – como "torcedores do vírus" e desviassem o foco, como se o avanço das mortes fosse culpa dos céticos da cloroquina.

O desinteresse de Bolsonaro em combater a pandemia também se refletiu na sua agenda. O presidente só teve seis audiências com seu ministro da Saúde desde maio. Em compensação, nos últimos três meses, compareceu a dez cerimônias militares e dez inaugurações – em uma delas, ficou acenando para motoristas por um hora.

Bolsonaro ainda se voltou contra a vacina, alimentando temores infundados sobre seus efeitos e atacando a estratégia de imunização de São Paulo, estado que lançou um plano paralelo, diante da inação do Planalto. O país chegou ao fim do ano com um vago plano nacional de vacinação, sem datas e sem garantir uma gama variada de imunizantes. O segundo país que mais acumula mortes por covid-19 no mundo segue perspectiva de uma vacinação em massa.

Enquanto líderes de outros países estão entre os primeiros a tomar a vacina, para incentivar suas populações, Bolsonaro vem repetindo que não vai se vacinar. A atitude vem gerando consequências. O percentual de brasileiros que não pretendem se vacinar saltou de 9% para 22% entre agosto e dezembro. 

Golpismo e mais ataques à imprensa

Bolsonaro começou 2020 com tensões acumuladas com o STF e o Congresso, entre elas o inquérito das fake news e o relacionamento tumultuado com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Em fevereiro, Bolsonaro passou a estimular manifestações contra o Judiciário e o Legislativo. Os atos nunca contaram com adesão expressiva, mas a presença do presidente em meio a faixas pedindo um "novo AI-5" e o fechamento do Congresso e STF provocaram uma nova crise política, tudo em meio à pandemia. Jornalistas foram agredidos nas manifestações.

Bolsonaro em manifestação antidemocrática. Ele parou de incentivar atos após prisão do seu amigo e antigo “faz-tudo” Fabrício QueirozFoto: AFP/S. Lima

As ações renderam o inquérito dos atos antidemocráticos, que se entrelaçou com vários personagens da investigação das fake news, inclusive filhos do presidente.

A saída de Sergio Moro elevou a tensão ao nível da paranoia. Em maio, o governo interpretou erroneamente um encaminhamento de praxe pelo STF de notícias crime contra Bolsonaro à PGR como uma ordem iminente de apreensão do celular do presidente. O ministro Augusto Heleno (GSI) advertiu sobre "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional". No mesmo mês, ele recebeu uma delegação de extremistas – o mesmo grupo que depois lançou fogos de artificio contra a sede do STF.

No entanto, a fúria do presidente começou a minguar na segunda quinzena de junho, após a prisão do seu "ex-faz-tudo” Fabrício Queiroz, apontado como operador de um esquema de desvios liderado pelo senador Flávio Bolsonaro.

Acuado, Bolsonaro se reaproximou do STF e Congresso. Entregou algumas cabeças, como Abraham Weintraub (Educação), que na reunião de 22 de abril chamou os ministros do STF de "vagabundos" que mereciam cadeia – ele foi consolado com um cargo altamente remunerado no Banco Mundial. Bolsonaro ainda trocou vice-líderes do governo no Congresso, substituindo extremistas por nomes mais aceitáveis para o Centrão.

Bolsonaro e um humorista no dia do anúncio do resultado pífio do PIB de 2019Foto: Marcos Corrêa/PR

O presidente ainda ensaiou uma trégua com a imprensa. Mas o comportamento não perdurou. Em agosto, quando questionado por um jornalista sobre cheques de Queiroz depositados na conta da primeira-dama, Michelle, respondeu: "Minha vontade é encher tua boca na porrada, tá?".

Foi um de dezenas de ataques de Bolsonaro à imprensa ao longo do ano. Em maio, por exemplo, gritou "cala a boca" para repórteres enquanto negava a ocorrência de agressões contra jornalistas nos atos pró-governo. Apenas no primeiro semestre, Bolsonaro atacou a imprensa pelo menos 245 vezes, segundo a Fenaj. Veículos de imprensa chegaram a suspender a cobertura no Alvorada por causa da agressividade dos apoiadores do presidente.

Em 2020, a EBC e a TV Brasil também foram reduzidas a instrumentos de propaganda de Bolsonaro – no fim do ano, o canal exibiu ao vivo um jogo de futebol que contou com a participação do presidente, com direito a vários replays de um gol encenado.

As crises contínuas levaram o país a cair em rankings de liberdade de imprensa e de saúde da democracia.

Família, Queiroz e milícia

As suspeitas de envolvimento da família presidencial com um esquema de desvio de dinheiro público continuaram a assombrar Bolsonaro em 2020. O ano iniciou com a pergunta "Cadê o Queiroz?". Meses depois, a pergunta foi substituída: "Por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle?". O suspeito de operar o esquema foi finalmente encontrado num sítio e detido. Estava escondido com o auxílio do advogado da família Bolsonaro.

Bolsonaro e Michelle inauguram exposição de roupas da posse em meio à pandemia. Ela voltou ao foco do caso Queiroz após a revelação de depósitosFoto: Alan Santos/PR

As encrencas da família também voltaram a se entrelaçar com a milícia carioca. E de maneira dramática, com a morte do ex-PM Adriano da Nóbrega, num cerco policial na Bahia. A esposa e a mãe do miliciano trabalharam como assessoras de Flávio Bolsonaro.

O caso Flávio-Queiroz culminou na denúncia apresentada pelo Ministério Público, na qual o senador foi acusado de liderar uma organização criminosa. O valor total desviado pelo esquema, segundo o MP, foi de R$ 6,1 milhões.

A persistência desse e outros escândalos ainda abateu a principal estrela ministerial do governo: Sergio Moro, que acusou Bolsonaro de pressioná-lo a trocar o comando da PF para aumentar a blindagem da família presidencial. A troca acabou ocorrendo à revelia de Moro. Humilhado, o "superministro", deixou o cargo. Um novo diretor próximo dos filhos do presidente foi indicado, mas foi barrado pelo STF.

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também foi colocada a serviço de Flávio, preparando relatórios para auxiliar sua defesa, algo confirmado pela advogada do senador.

Apesar das encrencas dos filhos com a Justiça, a influência dos filhos de Bolsonaro continuou a se expandir em 2020. Até mesmo o filho "04" do presidente, o jovem Renan, entrou em cena, passando a fazer negócios graças às suas conexões com o governo.

Troca de ministros, nazismo e derrotas

Em dois anos, Bolsonaro se tornou o segundo presidente que mais trocou ministros na primeira metade de um mandato. Foram 15 até agora – incluindo a recriação de uma pasta. Ele só perde para Dilma Rousseff e suas 19 mudanças entre 2011 e 2013.

A Saúde e a Educação lideraram as trocas em 2020, com duas baixas cada. Carlos Decotelli, que substituiu Weintraub, nem chegou a tomar posse. Caiu em cinco dias após a revelação de que seu currículo havia sido maquiado. Depois, Bolsonaro convidou o empresário Renato Feder para o cargo, mas ele recusou após sofrer ataques da ala do governo ligada ao ideólogo Olavo de Carvalho. A solução foi colocar o pastor e teólogo Milton Ribeiro.

Roberto Alvim caiu em janeiro após plagiar discurso de Joseph GoebbelsFoto: Secretária Especial da Cultura/bpk

Também ocorreram saídas ruidosas nos escalões mais baixos. O secretário de Cultura Roberto Alvim caiu após divulgar um discurso cheio de referências nazistas. Sua sucessora no posto, a atriz Regina Duarte, não durou muito – também foi considerada moderada demais pelos olavistas.

Apesar de ter expandido sua influência em áreas como Justiça e Saúde, Bolsonaro não conseguiu transferir o poder da máquina federal para o pleito municipal de 2020.

Dezenas de candidatos apoiados pelo presidente sofreram derrotas humilhantes, entre eles o prefeito carioca Marcelo Crivella e uma ex-funcionária fantasma da família Bolsonaro, Wal do Açaí. O novo partido do presidente, Aliança pelo Brasil, lançado com fanfarra em 2019, continuou no papel, conseguindo apenas 10% das assinaturas necessárias para a criação.

Moro, de superministro a consultor

O casamento entre a Lava Jato e o bolsonarismo chegou a um fim explosivo em abril, com a saída de Sergio Moro. O ex-juiz havia aceitado um cargo de superministro dias após as eleições de 2018, numa decisão que levantou questionamentos sobre sua conduta à frente da Lava Jato, já que ele havia sido o responsável direto por tirar da corrida aquele que provavelmente teria sido o maior adversário de Bolsonaro na disputa, o ex-presidente Lula.

Casamento da Lava Jato com bolsonarismo terminou em brigaFoto: Marcos Corrêa/PR

Ao convidar Moro, Bolsonaro disse que o então juiz teria "carta branca". Mas, em 16 meses, Moro não apenas não conseguiu implementar seus projetos como foi muitas vezes torpedeado pelo próprio presidente. Acabou deixando o governo falando em "interferência política" de Bolsonaro na sua pasta e na PF. As acusações ainda estão sendo investigadas.

Tanto Bolsonaro quanto Moro trataram de polir narrativas sobre a antiga associação. O ex-juiz tentou se pintar como um idealista que aceitou o cargo sem suspeitar do caráter autoritário e nepotista de Bolsonaro. O presidente e seu círculo, por sua vez, pintaram Moro como "traidor" e "Judas".

Fora do governo, Moro passou a perseguir iniciativas mais lucrativas, enquanto continuam especulações sobre seu futuro político. Ele se tornou diretor de uma consultoria que tem entre seus clientes empreiteiras que foram emparedadas pela Lava Jato, levantando novamente questões sobre sua conduta ética.

O sucessor de Moro, André Mendonça, mais obediente a Bolsonaro, acabou se notabilizando por produzir um dossiê de “servidores antifascistas”.

As promessas do "Posto Ipiranga"

"Com 3, 4 ou 5 bilhões de reais a gente aniquila o coronavírus", disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, na fase inicial da pandemia, em mais uma de suas promessas bombásticas que se tornaram rotina. Os gastos federais com pandemia já passam de meio trilhão de reais.

O fiador de Bolsonaro na economia chegou ao fim de 2020 enfraquecido. As reformas tributária e administrativa empacaram. Em janeiro e fevereiro, ele prometeu que as reformas seriam encaminhadas em "uma ou duas semanas", mas a primeira (e apenas parte dela) só foi apresentada no final de julho. A segunda, em setembro.

Guedes fez repetidas promessas que não conseguiu cumprirFoto: Marcos Corrêa/PR

O ministro ainda persistiu em promover sem sucesso uma nova CPMF e sofreu uma debandada de secretários. Em agosto, afirmou que o governo anunciaria "três ou quatro grandes privatizações" em dois meses. No entanto, em dois anos de governo, nenhuma estatal foi vendida.

Sem se deixar abater pelos resultados magros, Guedes continuou a lançar planos e promessas irreais no ar. Em abril, declarou que um "amigo na Inglaterra" poderia fornecer "40 milhões de testes de covid por mês" ao Brasil. O assunto nunca mais foi mencionado – apenas quatro países conseguiram realizar mais de 40 milhões de testes, e não por mês, mas ao longo do ano.

A pandemia também forneceu terreno tanto para promessas quanto desculpas. No primeiro semestre, Guedes disse que a economia brasileira estava em aceleração e que "aí veio o coronavírus", desconversando sobre o magro PIB de 1,1% em 2019, divulgado dias antes.

Em maio, reconheceu que a economia podia estar em "estado meio anêmico" antes do vírus. Mas em dezembro já havia voltado a dizer que o "Brasil estava decolando quando a pandemia chegou".

Guedes também vem afirmando que a economia brasileira já está se recuperando em "V" (que desaba e se recupera tão rapidamente quanto). No entanto, números mais positivos do terceiro trimestre ainda não foram suficientes para recuperar as perdas. A retomada em 2021 segue incerta por causa da falta de empenho do governo em executar uma campanha de vacinação, algo que outros países encaram como essencial para qualquer recuperação.

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