Cristiano Ronaldo evadiu impostos, diz "Der Spiegel"
3 de dezembro de 2016
Atacante teria usado "offshore" nas Ilhas Virgens para evadir divisas referentes a contratos publicitários. Denúncia de revista alemã é a primeira de uma série que revelará negócios escusos de astros do futebol europeu.
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O jogador Cristiano Ronaldo teria usado até 2014 uma empresa offshore nas Ilhas Virgens para sonegar milhões de euros em impostos, afirmou nesta sexta-feira (02/12) a revista alemã Der Spiegel, na primeira de uma série de reportagens sobre denúncias de negócios escusos envolvendo astros do futebol europeu.
Segundo a revista, Cristiano Ronaldo teria utilizado uma empresa fictícia das Ilhas Virgens para ocultar receitas internacionais por publicidade no valor de 75 milhões de euros. O jogador teria tirado proveito de um privilégio do qual gozaram os jogadores profissionais na Espanha até 2014, embora e-mails de assessores do atleta demonstrem que eles se preocupavam com um possível vazamento de detalhes da empresa caribenha.
Procurados pela reportagem, os advogados de Cristiano Ronaldo afirmaram que as autoridades espanholas estão revisando atualmente as declarações de imposto de renda do jogador, mas não foram encontradas irregularidades. Já a empresa do agente do atacante disse que ele cumpriu com todas as obrigações fiscais.
A denúncia sobre Cristiano Ronaldo procede de um vazamento de 1,9 terabytes de dados ao qual teve acesso a rede de veículos de imprensa European Investigative Collaborations (EIC) e no qual trabalharam 60 jornalistas durante mais de sete meses.
Entre os 18,6 milhões de documentos vazados, há contratos originais de jogadores com acordos secretos, e-mails e tabelas de Excel. Os dados foram disponibilizados à imprensa pela plataforma Football Leaks, que surgiu em Portugal e visa encontrar documentos para denunciar a corrupção no futebol.
Manobras fiscais
Segundo a Der Spiegel, os documentos mostram que várias estrelas do futebol europeu se esforçam muito para ocultar suas receitas ao fisco e, na primeira reportagem, revela os casos de Cristiano Ronaldo e do jogador alemão Mesut Özil.
Sobre Özil, que também jogou no Real e agora defende o Arsenal, a revista divulgou que o jogador teve de pagar 2,8 milhões de euros depois que uma inspeção da Agência Tributária da Espanha levou à revisão das suas declarações de imposto de renda entre 2011 e 2013.
A Der Spiegel e os outros membros do EIC disseram que nas próximas semanas continuarão publicando outras denúncias sobre o futebol profissional.
CN/ots/efe/dpa
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.