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Cristina Kirchner anuncia candidatura a vice da Argentina

18 de maio de 2019

Ex-líder descarta voltar à presidência e será vice na chapa de Alberto Fernández, seu ex-chefe de gabinete. Anúncio encerra meses de especulações sobre futuro político da senadora, vista como ameaça à reeleição de Macri.

Hoje senadora, Cristina Kirchner foi presidente da Argentina entre 2007 e 2015
Hoje senadora, Cristina Kirchner foi presidente da Argentina entre 2007 e 2015Foto: picture-alliance/AP Photo/Unidad Ciudadana

A senadora e ex-presidente da Argentina Cristina Fernández de Kirchner anunciou neste sábado (18/05) que será candidata a vice-presidente nas eleições deste ano, e não líder da chapa, como era cotada. Seu ex-chefe de gabinete, Alberto Fernández, concorrerá à presidência.

"Pedi a Alberto Fernández que chefie a chapa que vamos integrar: ele como candidato a presidente e eu como candidata a vice nas próximas eleições primárias abertas, simultâneas e obrigatórias", disse ela em vídeo de 12 minutos publicado no Twitter.

"Estou convencida de que esta chapa que propoemos é a que melhor expressa o que neste momento a Argentina necessita para convocar os mais amplos setores sociais e políticos e econômicos também, não só para ganhar uma eleição, mas para governar."

Kirchner anunciou sua decisão, que vem como um passo surpreendente, dizendo estar convencida de que "a expectativa e a ambição pessoal têm de estar subordinadas ao interesse geral".

O anúncio encerra meses de especulações no âmbito político e na imprensa sobre o futuro político de Kirchner e direciona o foco sobre Alberto Fernández – que também foi chefe de gabinete de seu marido, o falecido ex-presidente Néstor Kirchner, entre 2003 e 2008.

Fernández e Cristina Kirchner participarão juntos das chamadas primárias abertas, simultâneas e obrigatórias (Paso), que acontecerão em 11 de agosto. Nesse momento, os cidadãos definirão qual de todos os aspirantes a um mesmo cargo apresentados por cada partido será o candidato a participar dos pleitos gerais de outubro.

O pré-candidato a presidente, que passou anos distanciado de Cristina Kirchner, foi seu chefe de gabinete por apenas poucos meses. Em julho de 2008, apresentou sua renúncia após a polêmica rejeição no Senado de um projeto governista que buscava aplicar um novo sistema tributário ao comércio da soja.

Nas últimas semanas, os dois foram vistos novamente em harmonia. A senadora chegou a declarar que foi Alberto Fernández quem a encorajou a escrever sua bem-sucedida autobiografia, Sinceramente.

"Alberto, a quem conheço já há mais de 20 anos e com quem tive também diferenças, foi chefe de gabinete de Néstor durante toda sua presidência e o vi, junto a ele, decidir, organizar, concordar e buscar a maior amplitude possível do governo", afirma Kirchner no vídeo divulgado neste sábado, editado com imagens históricas.

A ex-presidente lembra ainda o momento da posse de seu marido, em 2003, como "tempos muito difíceis" na Argentina, com os efeitos da grave crise de 2001 ainda latentes.

"Mas estes [tempos] que estamos vivendo, os argentinos e as argentinas, são realmente dramáticos. Nunca tivemos tantos e tantas dormindo na rua, nunca tantos e tantas com problemas de comida, de trabalho, nunca tantos e tantas desesperados chorando diante de uma conta impagável."

"É fundamental, então, evitar somar à frustração atual, produto da fraude eleitoral que facilitou a chegada de Mauricio Macri ao poder, uma nova frustração que submergiria a Argentina no pior dos infernos", completou Kirchner.

A ex-presidente era vista como principal ameaça à reeleição do presidente Macri, cuja popularidade vem despencando há meses nas pesquisas devido à crise econômica. Sondagens recentes chegaram a mostrar Kirchner à frente do atual líder nas projeções para as eleições deste ano.

Na terça-feira passada, a ex-presidente participou de uma reunião da comissão executiva do Partido Justicialista, histórica legenda peronista. O evento gerou forte expectativa já que ela, líder do setor kirchnerista do peronismo, não participava há anos de um conclave do partido, fundado pelo ex-presidente Juan Domingo Perón em meados da década de 1940.

A imagem de Cristina Kirchner, no entanto, gera rejeição em parte do peronismo que ela integra, como, por exemplo, entre o chefe do Bloco Justicialista no Senado, Miguel Ángel Pichetto; o governador de Salta, Juan Manuel Urtubey; e o ex-chefe de gabinete Sergio Massa – eles já anunciaram sua intenção de concorrer nas primárias pela corrente Alternativa Federal.

O retorno de Kirchner, esquerdista investigada em uma série de casos de corrupção, à presidência da Argentina, cargo que ocupou entre 2007 e 2015, era visto com receio também por parte dos argentinos, bem como por líderes estrangeiros direitistas, como o presidente Jair Bolsonaro.

Em discurso nos Estados Unidos nesta semana, o brasileiro mencionou a possível volta da ex-presidente ao poder como uma ameaça, criticando-a como "amiga do PT do Brasil [...] e de outros que tinham mais que o sonho de roubar nosso país".

Crise na Argentina

Mauricio Macri é um dos principais críticos da política econômica adotada por Cristina Kirchner, especialmente pelo afastamento da diplomacia kirchnerista dos Estados Unidos, pelas proibições de compra de moedas estrangeiras e pelo aumento do histórico déficit fiscal.

Mas o presidente enfrenta há um ano uma grave crise que reduziu praticamente a zero uma sequência de cinco trimestres consecutivos de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Toda essa incerteza tem impacto direto na inflação, que em abril subiu 3,4% em relação a março e, na comparação com abril de 2018, chegou a 55,8%. Nos quatro primeiros meses de 2019, a alta da inflação chegou a 15,6%.

A desvalorização da moeda – com ciclos abruptos de quedas, que o Executivo combate com altas taxas de juros e leilões de dólares –, somada à forte seca que afetou o campo, levou o governo a solicitar em maio do ano passado ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo por três anos de cerca de 57 bilhões de dólares.

EK/afp/ap/efe/rtr

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