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Croatas pessimistas quanto ao ingresso na União Europeia

Rayna Breuer (rc)5 de maio de 2013

As vésperas da adesão da Croácia à União Europeia, a população não vê motivos para comemorar, devido à grave crise que o país atravessa e às numerosas desvantagens que a filiação trará.

Foto: picture-alliance/dpa

A frase "Mladi, napustite Hrvatsku" – Jovens, vão embora da Croácia – está escrita a giz numa pequena rua próxima do centro de Zagreb. É um apelo à juventude para que busque o futuro em outro lugar, já que sua terra já não tem mais o que oferecer. Embora já há cinco anos a Croácia enfrente uma grave crise, a União Europeia atestou, num documento de 15 páginas, a maturidade do país para integrá-la. E assim os croatas vão se arrastando em direção à UE, em meio a sentimentos ambivalentes.

Marko Gregović e companheira de partido Marija no mercado de pulgasFoto: DW/R. Breuer

Ficar ou partir

Numa manhã ensolarada de sábado, livros e roupas usadas são dispostos com capricho sobre mesas dobráveis no pátio interno de um edifício antigo. Os fregueses são bem-vindos. "Precisamos de fundos para a nossa campanha, por isso organizamos esses mercados de pulgas", diz Marko Gregović. Em breve haverá eleições locais na Croácia, e ele almeja chegar ao parlamento municipal com seu partido Za Grad (Pela Cidade).

"Aqui, muita gente é apática e apolítica; falta uma cultura de protesto político. As pessoas não estão acostumadas a lutar por seus direitos", observa Gregović. A população vai às urnas, mas sem grandes opções de voto. "Nossos políticos são praticamente os mesmos que estão no poder há 20 anos. Precisamos mesmo de uma mudança de geração."

Através de seu partido, Marko quer mobilizar a participação popular. No website do Za Grad, os militantes podem contribuir com sugestões concretas. Podem-se conferir online quais são as ideias prioritárias, quer uma grande limpeza no parque, leituras públicas nos bondes municipais ou outros pequenos projetos. Os usuários mais ativos e que propõem as melhores idéias, se tornam, então, candidatos do partido.

Tal modelo de participação dos cidadãos é único na região, afirma Gregović. Depois de estudar na Noruega, Suécia e Reino Unido, todas as portas estavam abertas para ele, mas ele retornou à Croácia dois anos atrás, no auge da crise. "Não faz sentido deixar seu país, justamente quando ele vai descendo pelo ralo, devagar, mas constantemente. Precisamos, todos, voltar e nos empenhar por nossa terra. É difícil, mas esse é o nosso dever."

Por mais convincente que esse argumento possa ser, nem todos em seu recém-fundado partido pensam da mesma forma. Marija, colega de campanha de Gregović, está à procura trabalho já há meio ano, mas em vão. Ela agora prepara sua documentação para deixar o país. "Na verdade, muitos já se arrumaram com a situação por aqui. Eu, pessoalmente, vejo a adesão a UE como uma possibilidade de encontrar trabalho no exterior", explica. Ficar ou partir é uma questão que cada um deve responder por si. Num país com índice de desemprego entre os jovens de quase 40%, depois do ingresso na UE muitos deverão optar a favor de uma vida no Ocidente.

Feira Dolac, no centro de ZagrebFoto: DW/R. Breuer

Sem perspectivas de melhora

Não muito longe do mercado de pulgas está o Dolac, a feira semanal no centro de Zagreb. A frequência aos sábados é bastante grande. Sob as tendas vermelhas, montanhas de tangerinas e maçãs maduras. A Croácia tem muito a oferecer, a demanda por frutas e vegetais da região é bastante grande. Os laticínios, em numerosas variedades, ficam nas margens da feira.

Višnja chegou bem cedo de seu povoado, a 60 quilômetros da capital. Duas vezes por semana, ela vende no Dolac o seu sir, um delicioso tipo de queijo branco, por 12 kunas (quase dois euros). A vendedora conversa com os vários clientes que passam por sua barraca, mas ninguém se interessa em comprar.

"Eu e meu marido não conseguimos nos sustentar só com as vendas aqui na feira. Ele recebe pensão do governo, mas para sobreviver nós ainda temos que vender gansos também. Além disso, vendemos tudo o que tem no nosso jardim e, graças a nossa vaca, conseguimos produzir este queijo aqui", explica Višnja.

A filiação à UE pega de surpresa a agricultura do país. A partir de 1º de julho, os benefícios do tratado de livre comércio dos Bálcãs, o Cefta, serão eliminados. Até agora, a Croácia tem exportado grande parte de sua produção agrícola para os países vizinhos, mas, após a entrada no bloco europeu, suas exportações estarão sujeitas a taxas alfandegárias.

Produtora agrícola e vendedora VišnjaFoto: DW/R. Breuer

Muitas das grandes empresas de agricultura já mudaram sua produção para a Bósnia e Herzegóvina, resultando na perda de postos de trabalho e dos impostos pagos na Croácia. Além disso, o mercado croata será aberto a produtos de outros países da Europa, o que colocará a produção doméstica sob grande pressão.

"Os preços irão cair ainda mais, isso vai nos forçar a baratear o nosso queijo. Em algum ponto, não valerá mais a pena produzi-lo", prevê Višnja. A entrada da Croácia na União Europeia tem um certo sabor amargo para a produtora rural. Ela não terá o que comemorar no dia 1º de julho. Afinal, isso não vai melhorar em nada a situação dela e do seu marido.

Quando a Croácia ainda construía navios

Os navios sempre foram a paixão de Siniša Ostojićs. Ele trabalhou durante 12 anos num dos maiores estaleiros do país. Depois foi vendedor em outra empresa, por oito anos, e trabalhou por mais cinco na Associação Croata de Estaleiros.

"Nos anos 80, tínhamos a terceira maior produção do mundo, atrás do Japão e da Coreia do Sul. Quase fomos os maiores produtores da Europa, mas aí veio a guerra e os negócios foram paralisados. Hoje somos o 14º ou 15º do mundo", lamenta Ostojićs. Para manter viva a tradição do setor, o Estado compensou os prejuízos através de subsídios – um benefício que Bruxelas quer logo eliminar.

Como parte do processo de adesão à UE, os estaleiros tiveram que restituir o apoio que haviam recebido do governo. O único modo foi encontrar investidores e privatizar as empresas, o que levou à demissão de milhares de trabalhadores e à paralisação da produção. Para muitos na indústria naval croata, a União Europeia é o mal em pessoa, mas para Ostojićs, não de todo.

Siniša Ostojićs atua há décadas no setor da indústria naval croataFoto: DW/R. Breuer

"Por um lado, é como se a EU quisesse nos impor essa situação. Mas talvez seja a única maneira de tornar a nossa construção naval funcional e competitiva. Na verdade, nós deveríamos ter compreendido, por nós mesmos, que as coisas não podiam continuar como estavam", justifica o veterano croata.

Marko, Marija, Višnja e Siniša estão muito preocupados com o futuro de seu país dentro da grande família europeia. Uma segunda visita ao país, daqui a um ano, mostrará quais sonhos e esperanças se realizaram.

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