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Cruzar o Atlântico por 99 euros

Ina Rottscheidt/Neusa Soliz6 de junho de 2004

Os alemães estão felizes com as últimas ofertas para quem quer sair de férias: vôos de longa distância por menos de cem euros. Um preço sem concorrência e que mal dá para cobrir os custos.

Condor: aviões de carreira entram na concorrência dos vôos baratosFoto: AP

Desde que companhias aéreas como a Germanwings, Ryan Air ou Easy Jet passaram a oferecer vôos na Europa ao preço de uma corrida de táxi, era só uma questão de tempo que a concorrência se estendesse a outras regiões. Agora também dá para viajar a preço de banana pelo mundo afora. A tradicional companhia Condor é a primeira a oferecer vôos para os EUA, a África e a Ásia por 99 euros.

A Condor pertence à empresa de turismo Thomas Cook, que faz parte do grupo Lufthansa. Ralf Teckentrup, da Thomas Cook, espera aumentar de 85% para 90% a lotação das aeronaves com os vôos baratos. A meta é aumentar os lucros da companhia em 240 milhões de euros no ano fiscal 2004/05, depois dos prejuízos em 2003.

Pura publicidade?

Para Gerd Aberle, especialista em transportes da Universidade de Giessen, esses preços sem concorrência "são apenas uma tática para chamar a atenção e abrir um novo mercado". A longo prazo, não há como financiar o contingente de 40 mil passagens que a Condor pretende emitir nessa faixa de preço. Aberle calcula que as passagens a preço tão módico só totalizem 10% do total dos lugares. "E mesmo isso pode ser ilusório", acrescenta, "pois se trata de vôos de ida, e o de volta costuma custar muito mais."

Pouca flexibilidade

Michael O'Leary, presidente da Ryan Air, a companhia aérea irlandesa que abriu a guerra de preços dos vôos baratos na EuropaFoto: AP

A companhia aérea alemã calcula poder financiar os preços baixos economizando nos custos de material e pessoal (quer reduzir em 80 milhões esses custos nos próximos dois anos), mas é justamente nessa conta tão apertada que Gerd Aberle vê o problema: a concorrência é muito forte, as possibilidades de racionalização já foram esgotadas e assim os low cost carriers – aviões de carreira a preço barato – mal conseguiriam fazer frente às mudanças no mercado.

Um bom exemplo disso são os preços em alta do petróleo, que atualmente causam sérios problemas às companhias aéreas baratas. Depois dos custos de pessoal, o querosene é o item que mais pesa no orçamento das linhas aéreas – 25% do total, avalia Aberle. Após os atentados na Arábia Saudita, no último fim de semana, o preço do petróleo subiu mundialmente.

A incógnita do petróleo

Depois que a Opep (Organização de Países Exportadores de Petróleo) decidiu aumentar a extração, os preços caíram, nesta sexta-feira (04), mas a maioria dos analistas não espera uma forte diminuição a médio prazo. Principalmente porque a resolução da Opep menciona que o fará em duas etapas, o que não aumentará substancialmente a quantidade de petróleo no mercado. Ao mesmo tempo, não se alteraram dois fatores que contribuem para o aumento do preço do petróleo: a crescente demanda e o medo de atentados terroristas.

O grande inimigo do clima

Enquanto isso, os ecologistas protestam contra o boom dos vôos baratos. Para Werner Reh, da Liga de Proteção do Meio Ambiente e da Natureza na Alemanha (Bund), desse jeito o tráfego aéreo, como meio de transporte que mais consome combustível, vai se transformar "no inimigo número um do clima".

Afinal, os vôos baratos seduzem as pessoas a fazer viagens que jamais realizariam por preços normais. Hoje, muita gente pode sucumbir à tentação de dar um pulo para fazer compras em Paris ou ir almoçar com um amigo em Londres. "As companhias baratas", segundo Aberle, "abriram um segmento de mercado completamente novo."

Mas ele confia nas forças auto-reguladoras desse mercado. "Com esses preços, a longo prazo haverá uma limpeza no mercado, e o nível dos preços aumentará." Para o bem do meio ambiente e infelicidade dos turistas alemães.

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