Navio atinge barco turístico e cais em canal no centro da movimentada cidade italiana, em plena alta temporada. Incidente acontece em meio à insatisfação crescente de moradores com turismo de massa.
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Um navio de cruzeiro desgovernado atingiu a lateral do cais e um barco turístico neste domingo (02/06), na cidade italiana de Veneza, e deixou vários feridos.
O incidente aconteceu na movimenta doca de San Basilio, no canal de Giudecca, no centro de Veneza.
Imagens postadas nas redes sociais mostram o momento em que o enorme navio colide com o cais e com outro barco, enquanto turistas e funcionários fogem.
Pelo menos quatro pessoas no barco turístico atingido pelo cruzeiro ficaram levemente feridas.
Veneza vem debatendo como lidar com o boom turístico na cidade, uma das mais visitadas do mundo.
O centro histórico de Veneza tem cerca de 50 mil habitantes e é visitado todos os anos por entre 20 e 30 milhões de turistas, e só cerca de 20% deles pernoitam na área.
Em 2018, para regular a entrada dos turistas, foram instalados portões nos únicos pontos de entrada terrestre da cidade. Eles são fechados quando se alcança certo número de pessoas. As autoridades também proibiram, por três anos, a abertura de restaurantes de comida rápida, exceto sorveterias.
Veneza deverá cobrar em breve, além disso, ingresso de turistas que ficam apenas um dia na cidade. Quem se hospeda em Veneza já paga uma taxa de hospedagem, que gera cerca de 30 milhões de euros por ano para as autoridades municipais.
Moradores de Veneza há muito tempo se queixam da presença excessiva de turistas, que, segundo os locais, descaracterizam a cidade. Um dos principais alvos de reclamações são os turistas de navios de cruzeiro.
Centenas desses navios chegam todos os anos à famosa cidade italiana e despejam nela milhões de turistas, que descem para conhecer a cidade, passam poucas horas e gastam pouco, mas geram custos de limpeza, além de lotar as áreas públicas.
O turismo de massa é cada vez mais criticado pelos moradores de grandes cidades europeias, como Barcelona, Amsterdã e Veneza. Entre as principais reclamações estão o encarecimento dos aluguéis devido a serviços como o Airbnb e a descaracterização das cidades por causa da grande circulação de pessoas e do desaparecimento do comércio tradicional em favor de lojas, bares e restaurantes para os turistas.
Críticas aos impactos do turismo em massa têm ganhado as ruas, culminando em protestos em cidades europeias. Diversas prefeituras sofrem pressão popular e tomaram medidas para controlar o comportamento dos visitantes.
Foto: picture-alliance/CHROMORANGE/M.Wirth
Barcelona, Espanha
Na capital catalã, membros do partido independentista CUP danificaram pneus de um ônibus e de bicicletas usadas por turistas. Moradores também têm acusado visitantes de tratar uma praia como resort após beber em excesso. Em protesto recente, locais fizeram corrente humana bloqueando o acesso ao mar. Outra reclamação é que o aluguel de casas por visitantes está elevando o preço para os catalães.
Foto: Imago/Agencia EFE/Q. Garcia
Veneza, Itália
Manifestantes protestaram no início de julho contra a inundação de Veneza por cerca de 20 milhões de turistas ao ano. A cidade histórica tem 55.000 habitantes e muitos se incomodam com o excesso de lixo e barulho. A manifestação também criticou o aumento dos aluguéis e o impacto de grandes cruzeiros. Autoridades locais prometeram proibir que novas acomodações para turistas sejam abertas no centro.
Foto: Reuters/M. Silvestri
San Sebastián, Espanha
Um grupo de manifestantes com cartazes antituristas parou um trem com famílias que visitavam a cidade. Os cartazes promoviam uma marcha contra o turismo que coincide com a "Semana Grande", festival da cultura basca. A contribuição total do setor de viagens e turismo para a economia da Espanha foi de 158,9 bilhões de euros em 2016, 14,2% do PIB, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo.
Foto: picture alliance/dpa/epa/J. Etxezarreta
Dubrovnik, Croácia
Moradores da cidade com vista para o mar Adriático têm alertado que o número excessivo de visitantes está destruindo Dubrovnik. Protegida por muros medievais e torres do século 15, a cidade recebeu o status de patrimônio mundial da Unesco, mas a organização alertou no ano passado que o título estava em risco. Em resposta, a prefeitura prometeu reduzir o limite às visitas diárias de cruzeiros.
Foto: DW/M. Ercegović
Palma de Maiorca, Espanha
Membros do movimento "cidade para quem a habita" bloquearam o prédio do Ministério do Turismo, dizendo-se cansados de visitantes embriagados e pedindo formas mais sustentáveis de turismo. Os manifestantes também colaram cartazes com a inscrição "fechado" no prédio do ministério.
Foto: picture-alliance/Ciutat per qui l'habita
Roma, Itália
Embora não tenha recebido protestos recentemente como Veneza, Roma também tem tomado medidas para controlar o turismo em massa. Uma delas foi proibir o consumo de comidas e bebidas ao redor de suas famosas fontes, como a Fontana di Trevi. Entrar, sentar, dar de beber aos cachorros e jogar objetos (exceto moedas) na água também é proibido. Quebrar as regras pode resultar em multa de até 240 euros.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Hahn
Berlim, Alemanha
Pular sobre os blocos de concreto, tirar selfies sorrindo e correr pelo Memorial dos Judeus Mortos da Europa são algumas das atitudes que geram debates acalorados sobre como a memória do Holocausto é encarada por turistas. Em 2016, o memorial pediu que visitantes parassem de jogar Pokémon Go no local. Em Berlim, o aluguel de apartamentos inteiros por turistas pelo Airbnb é proibido.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Valência, Espanha
Hoteleiros de Valência pressionam o governo a endurecer os controles sobre plataformas online de aluguel de apartamentos para turistas, como o Airbnb. O governo tem participado do debate, mas se concentrado em combater grandes sites que comercializam apartamentos irregulares.
Foto: picture alliance/dpa/epa/M. Bruque
Milão, Itália
Milão proibiu o uso de "paus de selfie" na área portuária do bairro de Darsena durante o verão, assim como a venda de bebidas em garrafas de vidro e food trucks. O objetivo foi reduzir o lixo e comportamentos "antissociais".