Medida visa conter migração em massa de profissionais de saúde. Medo de mudanças em legislação dos EUA que facilita permanência de cubanos no país teria provocado atual crise migratória.
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O governo de Cuba anunciou nesta terça-feira (01/12) que irá impor restrições de viagens para médicos, a fim de conter a recente emigração maciça desses profissionais. A medida prevê a volta, após quase três anos de suspensão para os médicos, do requerimento de permissão para viagens, a partir do dia 7 de dezembro.
As restrições serão válidas para viagens particulares de médicos em geral. "Isso não significa que médicos não podem viajar ou residir no exterior, mas serão analisadas as datas de saída do país, levando em conta a relevância de cada profissional para garantir a qualidade, continuidade e estabilidade do funcionamento dos serviços de saúde", afirmou o governo em nota.
A migração em massa de cidadãos da ilha caribenha que desejam viajar para os Estados Unidos provocou uma crise na América Central nas últimas semanas. Cerca de 4 mil cubanos foram barrados na fronteira da Costa Rica com a Nicarágua. A grande maioria deles veio do Equador, o único país latino-americano que não exigia visto para cubanos, depois de cruzar a Colômbia e o Panamá.
A nota do governo cubano aponta a atual política migratória dos Estados Unidos como a principal causa da atual crise na região. Atualmente, o país facilita a residência de cubanos, mesmo se eles entrarem ilegalmente em território americano.
"A migração de profissionais cubanos no setor da saúde constitui uma preocupação para o país", declarou Havana, criticando especialmente um programa americano de acolhimento para médicos desertores, aprovado em 2006.
Segundo o governo cubano, milhares de médicos cubanos desertaram de missões internacionais em vários países da América Latina para tentar chegar aos Estados Unidos. A onda migratória pode ter sido provocada por rumores de que Washington pode suspender as políticas de acolhimentos para cidadãos de Cuba devido à reaproximação diplomática entre os dois países.
Diante da crise, o governo equatoriano anunciou no final de novembro que iria solicitar a partir desta terça-feira visto de entrada para cidadãos de Cuba.
Durante décadas, Havana impôs restrições para pessoas que desejavam viajar para o exterior. Em janeiro de 2013, o governo de Raúl Castro eliminou o requerimento de permissão de viagem. A medida fazia parte de um pacote de reformas que visava dar mais liberdade à população.
CN/efe/dpa
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.