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Cuba e RDA: cooperação nos campos econômico e repressivo

Bruno Taitson9 de agosto de 2006

Os dois países socialistas desenvolveram uma relação amistosa; Alemanha Oriental foi o segundo parceiro econômico de Cuba.

Para Fidel Castro, as relações entre Cuba e Alemanha Oriental eram estratégicasFoto: AP

"Os cidadãos da República Democrática Alemã sabem bradar 'viva Cuba' e 'bienvenidos' em bom e claro espanhol, como se fossem cubanos." Com estas palavras o líder cubano Fidel Castro, em visita oficial à Alemanha Oriental em junho de 1972, abriu seu discurso dirigido ao público da cidade portuária de Rostock.

Além do sentimento de camaradagem socialista expressado pelo discurso de Fidel, Cuba e Alemanha Oriental desenvolveram fortes laços econômicos e políticos. Durante os 41 anos de existência da RDA (1949–1990) houve cooperação entre os dois países para intercâmbio de mão-de-obra, treinamento de trabalhadores, venda e instalação de equipamentos industriais e uma ligação bastante estreita entre os sistemas repressivos de ambos os países.

Peer Schmidt, professor de História Latino-americana da Universidade de Erfurt, destaca que a polícia secreta da Alemanha Oriental (Stasi) chegou a instalar um sistema eletrônico de escuta para que os colegas cubanos da DGI (Direção Geral de Inteligência) pudessem captar conversas entre militares norte-americanos na Baía de Guantánamo, sob controle dos Estados Unidos desde 1898, e onde funciona atualmente uma prisão militar.

Treinamento conjunto

Erich Honecker presidiu a Alemanha Oriental entre 1971 e 1989Foto: dpa

Mas a colaboração entre os serviços secretos de Cuba e RDA ia além. De acordo com o historiador cubano Jorge García Vázquez, o treinamento de dezenas de oficiais da DGI aconteceu na Alemanha Oriental, ministrado por membros da Stasi.

"Os dois aparelhos repressivos tinham grande proximidade. Havia cursos na área de inteligência e até mesmo um doutorado oferecido pela Escola Superior de Direito de Potsdam voltado para o enfraquecimento das oposições internas, feito por vários agentes da polícia secreta de Cuba", relata em entrevista à DW-WORLD.

Vázquez afirma também que Raúl Castro, ministro cubano da Defesa – atual chefe de Estado desde quando Fidel se licenciou por problemas de saúde – participou de manobras conjuntas entre as Forças Armadas de Cuba e o Exército da RDA.

Além disso, ainda de acordo com Vázquez, militares cubanos eram responsáveis pela segurança das comitivas alemãs orientais em visitas oficiais à África, em virtude da presença de tropas do país latino-americano para apoiar governos ou movimentos de esquerda em países como Líbia, Angola, Moçambique e Etiópia.

Transferência de tecnologia

A cooperação entre os dois países socialistas era também forte no campo econômico. Vázquez lembra que a Alemanha Oriental era o segundo parceiro econômico de Cuba, ficando atrás apenas da União Soviética. A partir da segunda metade dos anos 1970, segundo Schmidt, muitos trabalhadores cubanos eram treinados na RDA para operar maquinário industrial alemão oriental que seria vendido para Cuba.

Em maio de 1980 o chefe de Estado da Alemanha Oriental, Erich Honecker, visitou Cuba para inaugurar uma fábrica de cimento que recebeu o nome de Karl Marx, na cidade de Cienfuegos. Em discurso proferido na ocasião, o líder cubano destacou que todo o maquinário era procedente da RDA, que havia oferecido a Havana um financiamento de dez anos com juros anuais de 2%.

Quando ministro da Defesa, Raúl Castro teria participado de manobras com o Exército da RDAFoto: AP

No mesmo discurso, Fidel ressaltou que os preços pagos pelo país europeu pelo açúcar, níquel e outros produtos cubanos eram "satisfatórios e estimulantes" e que a cooperação econômica entre os dois países estava crescendo rapidamente, com um aumento projetado de 46% nos cinco anos seguintes.

Política externa

De acordo com o professor da Universidade de Erfurt, não havia muito espaço para que as parcerias entre os dois países fossem além dos campos econômico e de políticas de segurança interna. Schmidt salienta que a Alemanha Oriental contava com pouquíssima autonomia para definir sua política exterior, que se limitava a seguir as diretrizes estabelecidas pela União Soviética. "Em grande medida devido à divisão da Alemanha depois da Segunda Guerra e o controle russo do lado oriental, a lealdade a Moscou era obrigatória", diz o docente.

Schmidt lembra que Cuba, por outro lado, tinha um pouco mais de liberdade de ação no cenário internacional. "Por isso Castro chegou a abrir diferentes frentes de cooperação com nações africanas ou com o chamado bloco de países não-alinhados", afirma. Mas ele lembra que, para a Alemanha Oriental, políticas internacionais de maior relevância tinham que passar pela chancela de Moscou.

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